XVII - As despedidas inevitáveis

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As luzes dos postes que iluminavam a rua à noite ofuscavam ligeiramente a nitidez das estrelas que tomavam o céu escuro de um modo tímido. A noite estava um pouco mais fria do que o normal para um final de inverno, mas Amanda Scott permanecia a andar devagar, com a mente tão tomada por seus pensamentos, por suas preocupações cotidianas, antes de atingir a terceira quadra que levava à casa de John Aldo Poleris, seu noivo, que acabou dando um grito quando uma figura se colocou à sua frente de modo repentino.

A sua voz e a sua expressão fez a pessoa em questão recuar.

– Por Deus! – disse e se assustou também. – Mais um pouco e as pessoas podem pensar que eu vim aqui para sequestrá-la, Amanda. – Poleris acrescentou, a princípio receoso.

Não tinha a intenção de amedrontar a noiva. No entanto, a reação espontânea dela foi tão engraçada aos seus olhos, que, em segundos após o pasmo, o agente do FBI viu-se rindo ao terminar a frase.

– Isso não tem graça nenhuma, John – ela repreendeu-o dando-lhe um pequeno safanão no ombro enquanto lhe mostrava uma expressão irritada.

– Acalme-se – pediu ele tentando desviar das investidas furiosas de uma mulher que parecia mais forte do que sua figura aparentava. – Eu estava preocupado porque estava demorando um pouco mais do que o normal em seu curso. Resolvi fazer o caminho que percorre na esperança de encontrá-la. Então? – indagou. – Estou perdoado por estar apenas muito preocupado com você?

– Muito bem. – Amanda Scott deu um pequeno pigarro mostrando certo orgulho. Murmurou: – Está perdoado...

Sabia que estava sendo um tanto exagerada por pouca coisa, embora não o admitisse, afinal a culpa não fora de Poleris por ter se assustado. Era ela quem estava muito distraída pensando em seus fantasmas. Evocava-os com o pensamento inflamado ao ponto de acreditar que isso os faria retornar, seja lá para onde houvessem ido.

– Afinal de contas no que estava pensando? – O inspetor começou a acompanhar as passadas curtas da ex-secretária, segurando sua mão durante o caminhar. – Você às vezes costuma parecer estar em outro mundo – brincou, mesmo que não gostasse de pensar sobre a ambigüidade de determinadas frases. Alguma coisa na sua mente dizia que o mundo que Amanda escrevia era mais real do que ele próprio, andando com ela debaixo daquela luz amarelada.

Amanda Scott era agora escritora de romances e novelas. Também compunha crónicas sobre a atualidade que assinava sob pseudónimo num jornal local. Recolhia-se nessa tarefa durante dias, isolava-se e produzia histórias de uma qualidade requintada, pejadas de mundos imaginados.

– Não pensava em nada, especificamente. – Ela manobrou as palavras cuidadosamente. – Quero avisar-te que amanhã pretendo sair mais cedo. Não quero que fiques... preocupado.

John sorriu de leve com as palavras. A noiva não lhe dissera exatamente para onde iria, porém, como um bom investigador que era, ele sabia-o e já o sabia há algum tempo. Afinal, ela repetia aquela ação havia mais de um ano, mais especificamente em todo dia trinta de cada mês.

Amanda costumava levar flores brancas ao túmulo do cientista assassinado. No primeiro mês que isso ocorreu, quando Poleris lhe perguntou o motivo de lá ir, ela dissera-lhe que era um modo de expressar sua gratidão ao defunto. Fora por causa dele que havia sobrevivido à pior tragédia de sua vida pois o ruivo tivera a suprema coragem de receber uma bala em seu lugar.

O investigador suspeitava que com o tempo a mulher iria parar com aquela homenagem mensal, principalmente depois de os dois terem ficado comprometidos e com o casamento marcado para o fim do verão. No entanto, Amanda Scott contrariava sempre as suas expectativas sobre qualquer assunto. Em relação ao cientista havia uma certa teimosia, que sobrepujava a simples obrigação motivada pelo agradecimento periódico. Poleris, perspicaz e pragmático, entendia que se relacionar com aquela mulher de personalidade vincada seria sempre complicado e aceitou os espinhos da magnífica rosa. Pois já se sentia afortunado por estabelecer com ela mais do que uma estreita amizade.

SentenciadosOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz