XV - Traições

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A penumbra descia sob os rostos inconscientes, ou melhor, sob as duas figuras capturadas no motel "Lovely Heart" de Parker. Agora estavam num anexo improvisado, um galpão desconhecido no interior do edifício a pedido de Gartix Vog. Não tinham ido longe, embora assim tivesse parecido aos dois capturados, pois tinham andado às voltas na estrada, enjoados e zonzos, dentro de uma furgonete. Era uma maneira de os despistar, não saberem onde efetivamente estavam, para não pedirem ajuda ou julgassem que o podiam fazer.

Amanda foi a primeira a acordar. Lentamente recuperou a consciência e a primeira coisa que viu foi a face de Terris, desacordado. Sobressaltou-se com o ambiente de pouca luminosidade e na tentativa de se mexer sentiu nos pulsos e calcanhares os apertos entorno da pele provocados por cordas. Amaldiçoou-se por ter começado toda aquela jornada ao lado do cientista, o estúpido homem que apenas complicou a sua vida. Não estava exatamente com rancor de Terris, mas sim do fato de ter se associado a ele. A escolha tinha sido dela, em última análise. Podia ter-se afastado e chamado a polícia. Se o tivesse feito, de certeza que não estaria amarrada, naquele lugar desconhecido e escuro, a sentir receio pela própria vida.

Primeiro foi o caso com o relógio que recuperou da cena de um crime. Depois foram as mudanças temporais e as sucessivas confusões relacionadas com visitas ao passado. Agora, naquela reta final, ela estava na mão de um gangue que nem sequer conhecia, mas que a faziam temer por sua segurança apenas pelos rumores e notícias que tinha captado na mídia. Ainda agitada, ao olhar o entorno da sala, sentou-se de encontro a uma parede cinzenta por onde adentrava fios de luz através de uma janela entaipada.

Amanda rebolava-se, tentando libertar-se das cordas dos pulsos. Se tivesse as mãos livres podia soltar os pés e fugir... Olhou para o cientista e desatou a chutá-lo.

– Terris! – chamou ela, tentando trazê-lo a si depois da pancada. – Acorda! Estás a ouvir? Acorda, Terris!

O cientista, no entanto, não reagia aos chutes e Amanda sentiu seu estômago dar uma cambalhota desconfortável. Pensou o pior. Estaria morto? Não podia ser verdade, ele estava apenas inconsciente, mesmo porque precisavam dele para completar o projeto das viagens no tempo. Seria difícil que tentassem prejudicá-lo antes disso. Jogou seu corpo para o lado até conseguir se arrastar até a ele.

– Terris? – insistiu. – Terris, estás a ouvir-me ou não? Dá-me um sinal.

Escutou as vozes do lado de fora. Amanda congelou de medo, debruçada sobre o cientista.

– O que ele está fazendo aqui? – questionou uma voz grave.

– Ordens do chefe, vamos ter que deixá-lo entrar... Veio buscar a garota.

E Amanda ficou desesperada chutando o cientista com mais força. Ele precisava fazer alguma coisa antes que aquele desconhecido que a viria buscar entrasse ali. O seu terror aumentou.

– Terris, por favor, acorda! – Estava desesperada, não tinha ninguém para protegê-la, apenas aquele cientista ruivo. Sentiu-se muito sozinha.

A porta do galpão se abriu e surgiu um homem alto que tinha um aspeto assustador. Ao contrário dos outros raptores não cobria o rosto e se não o fazia era porque queria ser reconhecido. Podia ser reconhecido sem qualquer problema.

– Boa noite, senhores...

Aquilo era um péssimo sinal. Amanda, no meio do seu desespero, soube quem era o visitante. Sentiu as lágrimas lavando seu rosto. Mordeu os lábios até fazê-los sangrar. Suspirou, acuada:

– Black?!

Ele ficou a olhá-la durante algum tempo e depois começou a falar.

– Lamento que as coisas tenham se desenrolado desse modo, senhorita Scott. Eu tentei de todas as formas não necessitar chegar a isso, no entanto, não me escutou nem sequer por um momento. Não posso mais interferir no balanço por mera pena de sua figura. – Ele circulava a secretária. – Vou limpar essa bagunça agora. O idiota do Poleris vai achar que isso foi uma obra do Gartix Vog, assim que chegar. Vou entregar-lhe seus corpos e contar-lhe que aconteceu um percalço... Porque os percalços acontecem. Desculpe, você não estava nos planos antes, porém, como não me escutou como deveria, agora vai pagar por sua ousadia. Poderia ter sido mais feliz. Espero que em uma próxima vida tenha mais sorte. Adeus senhorita Scott.

SentenciadosWhere stories live. Discover now