V - No clube

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O que havia de sedutor em Hugo Black, também havia de estranho. O sujeito sabia o seu nome, sabia sobre o cientista, Terris. E Hugo parecia-se muito com muitos galantes homens que conheceu em poucas festas, que frequentou durante a transição da adolescência para a vida adulta.

Amanda sempre foi uma admiradora de homens inteligentes, aqueles tipos que gostavam de seduzir com palavras rebuscadas, mistério e uma boa dose de "aura bíblica". Em outras palavras, aqueles sujeitos que pareciam recitar parábolas a serem interpretadas e não frases comuns em uma conversa informal.

O misterioso Black não era nada diferente. Olhava para ela sempre em cumplicidade, já devidamente alocado em uma mesa do bar a observar o cientista Terris, ou melhor, aquele que julgava querer ser o deus do tempo, de longe, com um grupo a circulá-lo.

– Nem sei como explicar quantas vezes tentei avisá-lo que aquilo que tenta fazer é o que desgraçaria sua vida. – Comentou o homem a bebericar uma dose de álcool com as sobrancelhas arqueadas para Amanda que mantinha sua postura de passividade sobre as palavras de Black.

– O que quer dizer? – Ela estava sentindo-se atônita.

Black sorriu-lhe, o que a desarmou completamente. Fez um gesto de impotência com a mão, os ombros descaíram.

– Estamos aqui por causa de dois acontecimentos. Um relaciona-se com o cientista. O outro, relaciona-se consigo, senhorita.

– Só quero ir para casa.

– Perfeito! Não nos vamos demorar aqui, então...

– Nem devia cá ter entrado.

Black apagou o sorriso tão depressa como o tinha acendido.

– Oh... Então por que motivo fez a viagem?

Amanda não quis responder. Apertou os lábios gretados, abraçou-se a si própria e olhou para o grupo onde se inseria o cientista. Não compreendia como o podia estar a ver... vivo. A falar, a beber, a interagir com outras pessoas. Tinha perdido o juízo, só podia... Num minuto estava na sala de interrogatório do FBI, no minuto seguinte estava num clube exclusivo, com um porteiro a condicionar as entradas, com um perfeito desconhecido a observar os gestos de um morto!

Amanda conteve-se para não se levantar e ir embora. Assim que ali entrara, indicou a Black que desejava apenas um pouco de água. Porém o acompanhante parecia não dar-lhe tanta atenção como esperado e ao invés de dar algo a ela que terminasse a infernal sede a consumir sua garganta, este solicitou para a jovem uma dose de vodca.

Estava tão afoita para pôr algo na sua garganta, que quando a vodca lhe foi ofertada bebeu tudo de uma única vez, algo que a fez tossir ao constatar o quanto estava forte a bebida que nem em sonho teria pedido ou cogitado tomar antes dos lábios racharem pela secura de horas a fio.

Forte? Olhou ao redor do bar, as tonturas gradativamente a piorar, Seria a bebida ou o seu corpo muito débil a protestar?

Voltou a olhar em frente. Pestanejava para se manter acordada. Olhou para o pequeno copo vazio, depois para os lábios de Hugo que moviam-se, mas que não produziam som algum como se seus ouvidos estivessem bloqueados. Olhou para uma televisão ao fundo do balcão de bebidas, que estava a duas mesas de sua localização com o desconhecido.

O telejornal exibia cenas de uma forte tempestade que tomava a costa leste americana. Depois era anunciada as vendas do final da liga de Hóquei no gelo e por último as notícias sobre o casamento real que havia terminado.

– Espere... – Ela disse colocando a mãos na testa confusa. – O casamento, a liga, a tempestade. Tudo foi há cerca de um mês... Isto não faz sentido! Por que motivo estão a transmitir notícias antigas?

SentenciadosWhere stories live. Discover now