XI - Nova identidade

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A televisão mostrava sem parar, no noticiário principal das seis, o misterioso caso do cientista morto por uma secretária num edifício da Rua 21.ª, com reportagem em direto desde o exterior, com o referido edifício em pano de fundo. Amanda sentiu as bochechas ficarem vermelhas quando a chamaram de "complexada do amor". De onde havia saído aquela afirmação? Como podia uma pessoa como ela, que nunca havia visto o homem, ser alguém que matou por amor?

– Eu estou dizendo, ela parecia muito certinha, mas é como dizem. Pessoas muito quietas têm mentes muito barulhentas – falou a mulher gordinha e baixa que usava óculos.

Amanda reconheceu na hora Megan, uma das garotas faladoras do Call Center. Essa, em particular, adorava bisbilhotar e sabia de tudo e todos. Quando nasciam boatos na empresa, eram criados pela dita fofoqueira.

– Vaca! – protestou de um modo audível e notou que não estava sozinha pela primeira vez depois de ter se distraido com os disparates propagados na TV.

Olhou para Terris. Ainda era algo estranho. Teve um lampejo de lembrança e se deixou levar pelo beijo dele. Fora saboroso, inesperado, despertou qualquer coisa quente na sua alma. Ainda assim, na sua cabeça não se via como uma apaixonada. Era apenas a secretária que tinha sido acusada de tê-lo matado e que fizera uma viagem no tempo. Que morrera e que regressara do Além e que tinha a vida de pantanas.

– Você deveria parar de ver essas coisas – aconselhou o ruivo bebendo um pouco de água. – Não fará bem à sua saúde mental.

– Ainda acho que vou acordar daqui a pouco com o barulho do despertador. Ainda acredito que estou a sonhar... Talvez seja um sinal de sanidade, classificar isto tudo como uma fantasia. Então, digamos que estou bem.

Ele observou-a demoradamente. Ela debatia-se com o dilema de estar cheia de problemas e ele sabia ser paciente quando necessitava, e que a ajudaria no que fosse necessário. Afinal, a situação fora criada por ele. Adotou uma expressão compreensiva então retomou:

– Amanda, eu sei que isso é confuso e bastante desconfortável... Mas uma vez que se altera o tempo, existem infinitas possibilidades em que isso possa dar errado. Somos a prova disso... Repare bem...

Quando estava prestes a iniciar sua explicação eloquente, Terris percebeu uma alteração ocorrendo no canal que transmitia a notícia. Alguma barafunda, ansiedade, iria existir um direto em breve, uma transmissão ao vivo, um momento muito importante pelo que estava a ser relatado. Apareceu o enquadramento próprio de uma conferência de imprensa, muitos braços esticados munidos de microfones, os jornalistas acotovelando-se, a imagem a ser focada para ficar completamente nítida. Apareceu o inspetor-chefe do FBI assumindo uma postura rígida mediante os vários microfones.

– Por favor, Poleris, aqui! Aqui! Olhe para aqui!

Todos os repórteres gritavam ao mesmo tempo e flashes disparavam em direção a ele, fazendo sons de máquinas fotográficas no sistema de áudio das emissoras. O inspetor-chefe começou a falar:

– O caso ainda está sendo investigado, mas a morte recente da principal testemunha e suspeita do crime do homicídio do cientista Terris O'Brian nos leva a crer que tudo, de fato, estará ligado a uma organização criminosa. Também... – Mais flashes e uma pausa ligeiramente dramática. – Também foi encontrado em um terreno abandonado um corpo queimado que mais tarde foi identificado como sendo de um homem chamado Charles Henry Pett, que era mais conhecido como Charles Big. Segundo a nossa principal testemunha, antes de esta ter falecido repentinamente de um ataque cardíaco, Charles Big foi o autor do disparo contra o cientista. As investigações estão avançando de modo conclusivo e acreditamos estar mais perto de solucionar o caso, uma vez que surgiu uma testemunha inesperada, quando estávamos no "apagar" das luzes.

SentenciadosWhere stories live. Discover now