III - Na cena do crime

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No décimo andar do edifício parcialmente às escuras, Amanda manteve-se à espera de seus salvadores com uma esperança latente a crescer em seu peito. Sim, via a polícia como os seus salvadores. Mal sabia ela que nada estaria a seu favor depois de a cena do crime ser descoberta e todo o cenário selado para investigação.

De qualquer forma, depois de pensar sobre a situação viu que o seu infortúnio seria óbvio e poderia ter sido evitado se não tivesse tomado a pior iniciativa minutos antes de a equipe de socorro e a polícia adentrar ao prédio da Rua 21.ª. Nunca devia ter passado novamente pela sala do Call Center e, mais importante, nunca deveria ter mexido em nada.

Para os policiais que atenderam a ocorrência, a cena do crime fora adulterada e Amanda acabou sendo algemada e levada pelos investigadores como a principal suspeita pelo assassinato de Terris. Tudo porque assim que coletou o papel com a inscrição e o relógio, além de entrar em contato com o sangue do cadáver, acabou por espalhar as suas digitais em vários locais do escritório.

A única coisa que ainda não era conclusiva, na visão dos policiais, era a questão da arma usada no crime que ninguém localizou no edifício. Mas aquilo de qualquer forma não seria necessariamente um problema, já que a investigação balística revelaria de qual arma os projéteis tinham sido disparados, ocasionando a morte do renomado cientista. Era só uma questão de tempo até a suspeita revelar o que fizera com a arma.

Amanda fechou os olhos. A pior parte de ser investigada por um crime que não cometeu era que o caso acabou tomando proporções estratosféricas, pois a polícia comum passou o caso para o FBI, assim que esta descobriu que o crime se relacionava com o grupo criminoso, "Sentenciados", por culpa do papel que entregou ao agente da polícia que lhe fez as primeiras perguntas.

A secretária da "Investimentos & Segurança" sabia que o que tinha acontecido no edifício da sua empresa certamente seria noticiado em todos os jornais do país e porventura do mundo. Seria conhecida como uma "assassina" por todos os telespectadores, e embora soubesse que era inocente e que o caso poderia ser esclarecido, até que tudo fosse colocado na mídia de forma clara, o escândalo envolvendo o seu nome já estaria feito. A presunção de inocência não existia para a opinião pública. Se alguém era associado a um crime, então essa pessoa era automaticamente culpada.

Depois, por causa dos noticiários que já estariam a cobrir o acontecimento como uma notícia de "última hora", assinalada a letras garrafais a vermelho para chamar a atenção, Charles Big, o verdadeiro assassino, iria ficar a saber da existência dela. Ele já sabia que tinha havido uma testemunha, pois a tinha perseguido, mas com as notícias ficaria a conhecer a sua identidade. Depois bastava procurar nos arquivos e descobria a sua morada...

Quantas horas já haviam se passado desde que ele fugira do escritório? Ela não sabia dizer, já havia perdido a noção do tempo, a sanidade, bem como metade das unhas que foram roídas em meio ao seu lapso nervoso, ao pensar nas possibilidades desastrosas envolvendo os enlaces de sua vida.

Ela tinha sido levada para uma das agências do FBI na cidade e fora fechada numa sala de interrogatório que não tinha qualquer ligação com o exterior. Um local abafado, de paredes acanhadas que se fechavam sobre ela, um teto falso, uma janela espelhada que dava para um compartimento de controlo onde estariam a vigiar as suas reações – como ela vira tantas vezes nos filmes e nas séries de investigação criminal. Agora ela protagonizava uma dessas cenas.

Nada de conclusivo acontecia e Amanda, retida na sala de interrogatório do FBI, alimentava as suas paranoias, mantinha-se amedrontada e a sua cabeça era um enorme emaranhado que a impedia de formar um depoimento conciso. Tinham feito as perguntas da praxe, a curta sessão tinha sido conduzida por um investigador júnior que bocejava entre as interpelações, como se fosse um aborrecimento enorme estar ali a falar com ela, porque já sabia que era culpada e que por muito ou pouco que dissesse, nada alteraria esse estado.

SentenciadosTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang