Capítulo 5

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- Carinha, acorda. Primeiro dia de aula.

- Ô, caraio! Droga!

Levantei, com aquela super vontade de sair da minha cama linda. Me troquei certinho, me sentindo um retardado com aquela roupa. Esse povo da escola não atualiza os uniformes não? Que gravatinha é essa? Bom, pelo menos eu não estava que nem o presidiário, parecia que os botões da camisa dele estavam pedindo socorro e pulariam a qualquer momento.

- Mas não é possível, essa camisa tá muito pequena pra ser minha. Ah, é tamanho M. É sua, carinha.

Camisa, aguente firme, camisa. Eu vou te lavar muito bem por causa desse cecê, camisaaa! Não se preocupe, você estica mas volta. Volta porra nenhuma, o presidiário bugou tudo. Vou ter que comprar outra depois. OU... tá, não tem "ou", eu vou ter mesmo que comprar outra.

Nós pegamos as coisas e saímos, indo para as salas. Eu teria aula de matemática, o presidiário teria de filosofia. Entrei na sala e quem eu encontro? Não, não foi a Stela. Foi a jovem Ellouise.

- Olá, Théo.

- Olá, minha jovem. Posso sentar aqui do seu lado, pois não conheço mais ninguém?

- Pode sim, meu jovem.

- Não me chame mais assim, minha jovem.

- Mas você me chama de "minha jovem", então eu posso te chamar de "meu jovem".

- Não pode não. Eu vou te explicar uma coisa, minha jovem: eu dou apelidos para as pessoas. Você é a minha jovem. E o coisinho lá que dorme no mesmo quarto que eu é o presidiário.

- O Lenny? - Assenti. - É, pensando bem... ele tem mesmo cara de presidiário. Vou começar a chamar a Jojo de namorada do presidiário.

- Não sabia que o presidiário tinha namorada.

- Ele não tem. É que a Jojo é louquinha por ele.

- Quem é Jojo, minha jovem?

- A minha amiga, meu jovem.

- Eu já falei que você não pode me chamar de "meu jovem", minha jovem. Me chame de Théo.

- Ok, meu jovem. - Fiz uma bolinha de papel e enfiei na boca dela. - Que atitude é essa, meu jovem?

- Acho que eu vou me sentar naquele lugar ali...

- Não, desculpa. Tá, não te chamo mais de "meu jovem".

- Obrigado, minha jovem.

- Bom dia, alunos. Sou o professor de matemática, Daniel. Já estou nessa escola há mais tempo do que vocês existem na terra. Eu posso ter dado aulas para os seus pais! Então, não queiram me questionar, porque eu sei o que estou fazendo. Bom, vou fazer a chamada, para ir conhecendo mais vocês. - Ele começou a falar os nomes, e as pessoas levantavam o braço. Depois de chamar um tal de Reyes ou sei lá o que, ele fez uma careta. - Ah, não. Théo Martin? - Levantei a mão e ele me analisou, com uma cara de desgosto. - Ah, não, cara. Você, por um acaso, é filho de Ariel Raymonds e Zack Martin?

- Sou.

- Já dei aula para eles.

- Eu sei.

- Já te falaram de mim?

- E como!

- Bem ou mal?

- O senhor não vai querer saber.

- E a sua mãe está feliz com o seu pai? - Adorei o jeito como ele muda de assunto do nada, cara. Sensacional.

Começaram a bater insistentemente na porta e o professor a abriu. Uma mulher meio baixinha, ao lado de outro homem também não muito alto, estavam lá, parados, procurando alguma coisa (eu).

O Menino dos Olhos AzuisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora