Capítulo 24

18.1K 1.9K 881
                                    

- NÃO. TRANSE. SEM. AS. DEVIDAS. PRECAUÇÕES. Não é seguro sem elas. Viu, menina? Como é seu nome?

- Stela.

- Tá. Stela, vou te dizer NÃO TRANSE SEM AS DEVIDAS PRECAUÇÕES. Quantas vezes eu já falei pra você, Théo?

- Nenhuma.

- Isso mesmo! Nenhuma! É por isso que você tá enfiando o pinto em toda xerequinha que encontra! Sua mãe não teve "a conversa" com você não?

Me lembrei de quando eu e meus pais tivemos a conversa. Não foi legal. Bom, acho que nunca é.

- Tio Chad, não foi uma coisa... planejada.

- Ué, por que, você queria que fosse como? "Ah, calma, vamos no astrólogo, no médico, na puta que pariu pra resolver quando e como faremos isso. Olha, aqui está uma planta da casa do menino; nós bebemos um pouco, nos chapamos e depois a gente sobe nessa escada aqui ó. Então, aí a gente vai pra esse quarto aqui..." Ah, peloamor, né? O que você acha disso, Josh? - Sim, o tio Josh também estava no carro.

- É uma coisa muito feia e tals, não pode. E gente, vocês viram que jogaram uma bomba no cemitério?

- O que? - Stela perguntou, um pouco assustada.

Fiquei imaginando os corpos voando. Um braço pra cá, uma cabeça pra lá... Um zumbi cantando I Believe I Can Fly, sei lá...

- É. Os policiais disseram que até agora não há sinal de vida.

...

...

...

- Isso foi uma piada? - perguntei.

- Era pra ter sido.

- Tio, desiste dessa vida.

- Ah, até que foi engraçada - Stela disse.

- Sério? Então vou perguntar pra você: o que são cinco pontinhos coloridos no meio do jardim? - meu tio perguntou, animado.

- Ahm... Não sei. O que são?

- Os Flower Rangers. - Ele começou a rir. Eu fiquei batendo minha cabeça no vidro. - Sabe? Os Power Rangers, aí como eles estão no jardim, eles viram os Flower Rangers!

- Tio, vou fazer uma pra você. O que é um pontinho gay sendo jogado de um carro pelo sobrinho?... Você, se não parar com essas piadas ridículas

- Ai, coitado do seu tio, Théo.

- CALA A BOCA, DEMÔNIA. Porra, tio, para nessa merda de farmácia logo!

Meu tio parou o carro e eu desci. Comprei aquela porcaria de pílula e uma garrafa de água. Entrei de novo no carro e entreguei pra ela, que logo tomou. Tio Chad começou a fazer um caminho meio conhecido... Aí ele parou numa casa bem conhecida.

- Onde estamos? - Stela perguntou.

- Na minha casa. Tio, a gente tem que ir pra escola.

- Rá, até parece. Eu vou contar pra sua mãe. Tu-di-nho.

- Ah, é? Então, tio Josh, sabe onde o tio Chad foi parar com a minha mãe e a tia Lucy?

- Na cadeia. - Eu e o tio Chad o olhamos assustados. - Eu estava esperando você me contar, Chad.

- Ficou sabendo como?

- Zack. Não são só você, a Ariel e a Lucy que se conversam, meu bem. Eu tenho amigos.

- Que amigos, Joshito? Não estou gostando dessa história! Daqui a pouco você me larga pra viver com esse Zack! Me deixa sozinho em casa, cuidando de nossas crianças! Eu não quero que tenha amigos, Joshito!

- Quer que eu tenha amigas, então?

- Não! Você já namorou meninas! Eu sou seu amigo! Sou a única pessoa de quem você precisa na vida!

- Então para de conversar com as suas amigas também. E aqueles caras da praia.

- Mas é claro que não. Tá louco?

Os dois saíram do carro e eu fiquei preso lá com a Stela. Mas o tio Chad deixou a chave lá. Que burro. Fui pro banco do motorista, liguei o carro e fui embora. Rachei de ver a cara do tio Josh quando percebeu. Até mandei um tchauzinho pra eles.

Fiz o caminho pra escola, me perdendo umas três vezes. Nós finalmente conseguimos chegar! E meus pais estavam parados com o carro lá! E meus tios estavam junto! Como é que eles chegaram antes de mim? Isso não é possível! Resolvi me render logo e parei o carro. A Stela ficou meio sem reação nos primeiros minutos, então, depois, ela resolveu descer.

- Ééé... Tchau, e valeu. - Ela me deu um selinho.

- Quem te deu essa intimidade, minha jovem?

- Cara, acho que pelo o que passamos ontem... Eu tenho essa intimidade.

Ela desceu e foi correndo pros dormitórios. E eu desci do carro e encontrei o Quarteto Fantástico - só que não. Minha mãe tava roxa de raiva, meu pai tava dando uma lustrada no carro e meus tios estavam parados lado a lado, com um olhar desaprovador. Levantei as mãos em forma de rendição e fui chegando perto deles.

- Oi. - Dei aquele sorrisinho amarelo.

- Olá, meu filho. Que atitude bonita. Primeiro, fica bêbado e chapado em uma festa; depois, quase engravida uma menina; e por último, rouba o carro dos seus tios. Pa-ra-béns.

- Obrigado, mãe.

- Para de graça. Eu não sei mais o que fazer com vocês. Acho que vou deixar você e a Ekena virarem mendigos. Vão ter que aprender a trabalhar com miçanga. É.

- Não, mãe. Não precisa, quê isso! Não precisa, tá? Só relaxa e curte o momento. Curta o agora. Curta a vida. Curta tudo. Tem que curtir, dona Ariel. Uhhull.

- Você não era assim, Théo. Só não te mudo de escola novamente porque você está no último ano. Mas a Ekena, se não melhorar, vai pra escola de freira. Aí eu quero ver ficar fazendo tatuagem com namorado... Zack, fala alguma coisa!

- Cara, por que essa árvore entrou na minha frente? Ela riscou o meu carro! Eu fui estacionar e do nada ela apareceu! A culpa não foi minha, amor! Você viu, não viu?

- Você riscou o carro? Deixa eu ver. Ah, é, riscou... Agora é a hora de te contar que eu também risquei e você nem percebeu.

- O que?

- Mas a culpa não foi minha, amor! Eu tava indo na loja do Chad, beleza, aí eu fui estacionar, beleza, só que quando eu fui sair... Raspou a parte de baixo da porta na calçada. Mas foi pequenininho, por isso você nem percebeu.

- Você devia ter me avisado! Nós prometemos que nunca iríamos mentir para o outro! Você mentiu pra mim, Ariel! Por que não me avisou? Tinha que me avisar! Pelo menos dizer um "Ah, risquei o carro hoje, ok?", e eu diria "Ok!". E pronto! Só isso!

- Eu sei, mas... Esqueci.

Enquanto eles estavam brigando sobre quem riscou mais o carro, eu resolvi sair de fininho. Fui meio correndo e acabei trombando na Ellie.

- Desculpa.

- Théo, espera um pouco.

- Não posso. Tenho que correr. Bastante.

- Mas eu preciso falar com você.

- Agora não. Ai, meu Deus, meu tio! Tenho que correr! Corre também, minha jovem!

- Aonde você estava ontem? O Lenny tava te procurando.

- Ah, eu, é... Nenhum lugar não. Depois eu falo com o presidiLenny.

O Menino dos Olhos AzuisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora