Capítulo 18

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Assim que escutei a porta abrindo, me sentei na cama, com as pernas cruzadas. Eu tinha deixado apenas a luz do meu abajur acesa, direcionada para meu rosto. Ok, aquilo estava me deixando um pouco tonto e eu talvez fique cego, mas eu precisava deixar o momento bastante dramático.

- Théo?

- Olá, jovem Ellouise. Que surpresa te ver aqui.

- Eu achei o Lenny e ele disse que você tava aqui. Vim te chamar pra comer. - Eu continuei a encarando. - Théo, você está me assustando.

- Essa é a intenção. - Levantei rapidamente e acendi a lanterna que estava na minha mão. - Com quem esteve hoje? Por que demorou tanto? Onde estava? Por que estava lá? O que estava fazendo nesse lugar onde esteve? Havia homens nesse local? Você me traiu com um deles?

- Eu só fui comprar minhas velas. Nós vamos ou não vamos comer?

- Vamos. - Desliguei a lanterna e saí. - De que aroma você comprou?

- Canela e bacon.

- Bacon?

- É. A mulher da loja disse que é novidade.

- Aroma de bacon? Como ass...

- E aí, gatinha? Hoje à tarde foi demais. - Rick passou e bateu na bunda da Ellie. - Podemos repetir outras vezes. - Ele piscou e saiu.

- Mas o que...?

- Aham. Você tava lá, comprando suas velas de bacon. Não tinha aroma maionese não? E aroma alface, tinha? Eu já deveria saber. - Me virei pra ir embora, mas ela me segurou. - Me solta, Ellie. Eu já entendi tudo.

- Entendeu o que, Théo? Não é o que você está pensando! Não é nem pra você pensar alguma coisa, porque eu nem entendi o que aconteceu!

- Eu não sou trouxa. Todo mundo pensa que pode fazer o que quiser que eu não vou ligar, MAS NÃO É ASSIM QUE FUNCIONA. Eu tenho sentimentos, tá? Eu sabia que não daria certo esse negócio de namoro! Mas eu, Théo-idiota, resolvi ajudar uma amiga que queria pegar o retardado do Rick, que é o cara que eu mais odeio na face da terra! E eu comecei a gostar de você de verdade, Ellie! E eu achei, por um tempo, que você gostava de mim e tinha parado de fingir o namoro! Eu achei que era de verdade, Ellie! E acabo descobrindo que você tá me chifrando? Mesmo que eu não gostasse de você, já seria ruim, porque nós combinamos que um não trairia o outro! Ah, quer saber? Esquece!

- Mas Théo, eu não te traí...

- Eu já disse que não sou trouxa. Sua... sua... Lacraia-traidora.

Saí de lá, meio confuso. Eu não sei se tô com raiva porque ela me traiu, se tô feliz porque essa foi minha primeira namorada e quem terminou o relacionamento fui eu, se eu tô triste porque acabou tudo, ou se eu tô com fome. Bom, eu posso estar com tudo isso, mas o que prevaleceu foi a fome.

Entrei no refeitório e achei o presidiário comendo sozinho. Peguei qualquer coisa que tinha e fui me sentar ao lado dele. Ah, gente, deu dó dele.

- Oi, carinha. Achou sua namorada?

- Ela não é mais a minha namorada.

- Jura? O que aconteceu?

- Chamei ela de lacraia-traidora.

- Devia ter chamado de "bafo de desinfetante". Ou "cabeça de lâmpada". Falando em lâmpada, pra quando é o trabalho de inglês?

- Era pra hoje, na verdade. E o que inglês tem a ver com lâmpada?

- É que na sala de inglês tem lâmpada, dããã. - Puta que pariu.

Os caras do time começaram a se juntar na mesa e aquela menina-lá-que-eu-não-lembro-o-nome se sentou no meu colo. Aí eu percebi que as amigas da jovem Ellouise estavam olhando. Aí eu larguei a menina em cima de mim mesmo. Ela, percebendo que eu não fiz nada, começou a me abraçar pelo pescoço.

O Menino dos Olhos AzuisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora