Capítulo 40

9.8K 1.2K 539
                                    

Eu. Não. Aguento. Mais. Ficar. Nesse. Internato. Faz mais ou menos um mês que eu percebi isso. Na realidade eu percebi desde que eu entrei mesmo, mas foi só mês passado que eu me enchi dessa vida bosta.

Meu único amigo é um cara idêntico a um presidiário, que é bem burro. Eu tinha uma namorada... tinha. Aí eu gostei da outra menina também... lésbica. Aí eu realmente decidi que eu quero mudar de escola. Mas enquanto isso não acontece... Eu tenho uma nova namorada. Ela se chama Lilo, tem 16 anos, mora no Havaí e é inexistente.

- Carinha. Temos outra festa esse fim de semana. E eu ouvi dizer que... TEM UMA GATINHA QUERENDO VOCÊ!

- Não posso, cara. Tô namorando.

Ele paralisou.

- Desde quando? E com quem?

- Desde semana passada. Quando eu fui pro Havaí, que foi o casamento do cara da família do meu pai. É.

Esse casamento vai ocorrer essa semana ainda, mas o presidiário obviamente não lembra.

- Você arrumou uma namorada do Havaí?... Tá bom né. Um namoro à distância legal. É. Quero ver foto dela.

- Uma... Foto? - Ele assentiu. - Ah, foto dela. É que... Não. É que... Ela não tem fotos. Ela tem vergonha de tirar, sabe? Redes sociais assim, ela não curte muito...

- Então é feia.

- Você acha que eu namoraria uma menina feia?

- Sinceramente? Acho. De qualquer jeito, o jogo de basquete vai começar. É o nosso time contra o dos Rovers. Vamos ver, carinha.

Fomos pro ginásio e na arquibancada lá em cima vimos as meninas. Tinha um lugar enorme do lado delas sobrando... E eu não me sentei lá. Aconteceram umas coisas nesses tempos, o que significa que eu não sou mais amigo delas. O presidiário ainda é, e ele não tem um pingo de vergonha de me deixar sozinho pra ir sentar com aquelas traidoras palhaças.

Durante o jogo, eu pensei em uma ideia genial pra me tirar dessa merda aqui. Ah cara, eu sou demais! Como não tinha pensado nisso antes? Tenho que ligar pro meu pai.

Jogos de basquete não me interessam mais (é claro que interessam, mas eu estou tão fodido da vida que nem presto mais atenção nisso), então eu saí no meio mesmo.

- Alô?

- Oieeeeeeee.

- Quem fala?

- Seu filho.

- Edneu? Filho, quanto tempo que não me liga!

- Edneu seu cu. É o Théo.

- Theodore. Olá. - Meu pai fez uma voz de locutor.

Essa música é pra você, dona Maria Helena, que deixa o marido ir pro bar tomar uma pinga e fica em casa chorando!

Esquece isso. Gente. Foca em mim, volta pra história. Desculpa.

Ele está bêbado. Aí eu olho pra trás e a Ekena está grudada na árvore, com um menino em cima dela. Aí gente que nojo. Não é assim que beija. Tem que ter emoção, paixão... o Anthony é corno. Ai meu Deus!

- Pai, passa pra mamãe.

- Hm.. Não quer falar comigo? Estou aqui, por você e para você. - Ele deu uma risada nasal.

- Não, não quero. Passa pra mamãe.

- Tá. AMOOOOOOOOOR. Seu filho, Théo Henri Martin, está lhe chamando. Ele lhe deseja. - Depois de alguns barulhos de risos e sei lá... beijo... minha mãe finalmente me atendeu. - Oi, Théo.

- Oi, mãe. Vou pro Havaí ano que vem, tá?

- Não, é semana que vem. O casamento é semana que vem.

- Eu sei. Maaaaaas... Eu quero fazer um intercâmbio pro Havaí ano que vem.

- Você sabe que eu não vou deixar até que você me dê mil motivos legais e sensacionais pra te enfiar em um lugar super longe e ficar sem te ver por semanas.

-... Mas você já deixa. Você me enfiou nessa merda de escola.

- Mas você vem pra casa nos fins de semana. Bom. Alguns.

- CARINHAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

- É o Leonard?

- Sim. Ok, mãe, vou fazer uma lista de prós e mais prós e te mantenho informada. Tchau. O que foi, presidiLenny?

- Aconteceu de novo. - Fiquei encarando ele tipo... "Tá, pode continuar, eu ainda não estou entendendo nada". - Eu e a Jojo ficamos de novo.

- Como assim "de novo"? Eu nem sabia que vocês já tinham se tocado!

- Eu te contei!

Chegamos no nosso quarto e eu me joguei na cama, abraçando meu travesseiro.

- Contou nada. Você não é mais o mesmo, presidiLenny. Você esconde as coisas de mim, não me conta mais sobre como foi seu dia, você chega tarde, não me cobre mais na hora de dormir...

- Ah carinha, é que daqui a pouco a gente entra de férias e eu não quero ficar com notas baixas, pra depois repetir de novo. Desculpa, vem cá.

- Não. Vai lá com a menina Haturu. Mentira, senta aí, me conta os babados, menino!

- Então, da outra vez que a gente ficou foi naquele dia em que ela me chamou pra sair. Você lembra carinha, eu pedi ajuda pra você e pra sua namorada... Sua ex. Aí agora aconteceu agora mesmo, antes de eu voltar. Porque eu tava voltando...

- Se foi antes de voltar, por que você estava voltando?

- Agora você quer contar a história? Então, deixa eu continuar. - Ele sentou na minha escrivaninha e ela fez um barulho estranho. - Não me olhe assim, eu não quebrei, foi só um peido. Então, aí ela me chamou, e a gente tava conversando super de boa e conversa vai e conversa vem e eu comecei a prestar atenção na boca dela. Aí você já sentiu que tipo você tá prestando atenção numa parte do corpo da pessoa e não tá escutando merda nenhuma do que ela tá falando?

- Não.

- Mas foi assim. Então... Eu segurei ela e falei pra mim mesmo "Agora vai", só que eu falei em voz alta e ela falou "Agora vai o que?" aí eu "Aí meu Deus, eu estou estragando tudo" aí ela "Sim, realmente você está". E ela me beijou.

- Nossa, que... Emocionante! Espera.

Levantei da cama e fui até meu guarda-roupa. Desmontei a pilha de roupa limpa/roupa suja/sapatos/sabe-lá-mais-o-que e tirei de lá uma caixinha vermelha de veludo. Coloquei a pilha de volta e fechei o guarda-roupa.

- Olha, presidiLenny, como seu melhor e único amigo...

- Você não é meu único amigo.

- Se você me tem, não precisa de mais ninguém; então sim, eu sou. Você precisa dar isso pra menina Haturu.

- Mas são... as alianças que você comprou pra Ellie!

- Sim. E eu não usei. Não estão amaldiçoadas ou coisa assim. Pede ela em namoro. Vai. Sério mesmo.

- Tá. Tá bom. - Ele saiu correndo do quarto, mas logo voltou. - Por acaso você tem um buquê aí no guarda-roupa também?

- Buquê não, mas eu tenho um jardim sustentável aqui - falei irônico.

- Entendi. Não tem. Obrigado.

***
DESCULPA DESCULPA DESCULPA DESCULPA. LoveElvisPresley demorou pra voltar? Demorou. Mas se meu deuso Elvis permitir, eu volto pra ficar. Tô de férias, sem absolutamente nada pra fazer, então.... Capítulos novos em breve, mai frêndi!

O Menino dos Olhos AzuisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora