Capítulo 27

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- Coisa, você tem certeza de que é aqui?

- Tenho, Théo.

- Mas aqui não parece ser um lugar muito legal.

- Por isso que eu pedi pra você vir comigo. - Ela pagou o táxi e desceu, mas eu fiquei. - Théo, vamos!

- Não. Tô com medo.

- Puta que pariu. Vamos logo! - Ela me puxou e eu desci do carro.

Nós fomos até a fila e ficamos esperando por mais ou menos meia hora pra entrar. Nesse meio tempo, eu fiquei tirando bolinhas do casaco do cara que tava na minha frente e a Stela ficou cantando algumas músicas.

- Você tem uma voz bonita - eu disse.

- Obrigada! Um elogio vindo de você é ótimo.

- Não foi um elogio. A gente elogia uma pessoa quando queremos que ela se sinta bem com o nosso comentário. Eu só quis dizer que sua voz é bonita, pois eu observei isso quando a ouvi cantar. Não quero que se sinta bem com o meu comentário, apenas quero que saiba que você sabe cantar.

- Théo, é tão mais fácil você dizer um "Ah, de nada". Aí eu ia dizer alguma coisa sobre você, tipo... Seus olhos são bonitos.

- Ai, obrigada! - a imitei. - Um elogio vindo de você é ó-ti-mo!

- Não foi um elogio - ela me imitou. - E blá blá blá eu sou um chato e blá blá blá.

- Não gostei da sua imitação.

- Também não gostei da sua, mas... né. Ah, somos os próximos. Que bom!

Entramos sem nenhum problema e fomos até uma mesa, que era perto do bar. Logo vi que tinha umas bebidas coloridas e muito loucas e quis experimentar alguma.

- Quer alguma coisa? - perguntei pra Stela.

- É, quero.

- O que?

- O que você pegar tá ótimo.

- Tá.

Pedi pro barman uma bebida que eu vi um cara tomando. Era muito legal! Era verde embaixo e azul em cima! Uma coisa muito louca, cara! Voltei pra mesa e estendi a bebida pra ela, que tomou em um gole só. Também tomei, porque não queria parecer um fraco bebendo de pouquinho, né? O negócio desceu queimando.

A banda começou a tocar e eu comecei a ficar com sono. A música falava sobre um homem e uma mulher e depois sobre uma criança e sobre um outro homem e um barman e um... não sei, sei lá. Aí tocou mais uma, que era sobre implorar perdão a um cara do posto. Aí tocou outra, que deu uma excitada nas pessoas e todos começaram a levantar e dançar lentamente.

- Vem dançar comigo - Stela me chamou.

- Tá, mas só um pouco. Aí depois a gente vai embora, né? - Ela assentiu.

Ela colocou os braços em torno do meu pescoço e eu coloquei na cintura dela. Legal, ela sabe dançar. Ela começou a se aproximar e, sei lá, foi uma coisa tão rápida que eu nem pisquei e ela já colou nossos lábios. Ah, não soltei não. Tava bom. Por que eu vou parar um beijo que está bom? Ah, não, espera, a jovem Ellouise. Ah, cara, só consegui imaginar a cara dela de decepção se nos visse desse jeito. Empurrei a Stela no mesmo momento.

- O que foi?

- Eu tenho namorada. E ela é sua amiga! Por que você fez isso com a sua amiga, sua trouxa?

- Desculpa, não deu pra... segurar. Ah, mas ela não vai saber mesmo.

- É claro que ela vai saber! De hoje e do outro dia! Eu não vou conseguir esconder isso dela. Vai doer na minha alma, vai remoer tudo aqui dentro, aí se eu não contar eu vou ter que me matar e...

- Você já pensou em ser escritor? É muito boa essa história aí.

- É sério, Stela. Vamos embora.

- Tudo bem. - Ela segurou na minha mão. - Pra eu não me perder de você. Tá muito cheio de gente.

Nós fomos até a saída e chamamos um táxi. Enquanto ele não chegava, eu tentava tirar o batom dela, que estava todo espalhado pela minha boca.

- Me diz pra quê usar batom escuro? Pra quê?

- Porque é chique.

- Não é chique um cara ficar parecendo que esfregou cranberry na cara! Porra, isso não vai sair.

- Deixa assim mesmo, os taxistas já viram coisas piores, tenho certeza.

- Mas... Ah, caraaaaa... Isso sai até amanhã, não sai?

- Mas é claro que sai, Théo. A hora em que a gente chegar no internato, você vai no meu quarto que eu limpo tudo, beleza?

- Tá.

O táxi chegou e nós entramos. O caminho de volta foi silencioso. Dessa vez eu paguei e nós descemos. A gente já tava no meio do corredor dos quartos femininos e ela me para.

- Hey, espera. É... valeu pela noite, gostei bastante. Ah, um a mais não faz mal, né? - Ela me beijou de novo. Cara, o que tá dando em mim? A gente tá no meio do corredor! Se alguém resolve abrir a porta... Fodeu! Como assim?

Nos separamos e eu esperei do lado de fora do quarto, enquanto ela pegava um demaquilante ou sei lá o que. Ela voltou com um frasco e um algodão. Limpou minha boca e eu dei tchau, indo para o meu quarto. Ah, cara, isso não podia ter acontecido. Isso não devia ter acontecido. E agora, como é que eu vou contar isso pra Ellie? Eu perdi toda a minha razão do piti que eu dei sobre não ser chifrado! Ela foi chifrada! Duas vezes! Isso foi muito desumano!

Entrei no meu quarto e o presidiário estava estudando. Mesmo. Ele tava com a luz acesa, com uns energéticos na escrivaninha e várias apostilas no chão.

- Cara, o que você tá fazendo?

- Estudando, carinha. Preciso estudar. Aonde você estava?

- Então, cara... Eu fiquei com a Stela de novo.

- O que? Transou com a menina de novo?

- Não, foram só uns beijos, mas... Ah, não me julga! Ela é bonita, tava dando em cima de mim... Cara, a carne é fraca!

- E como você vai contar isso pra Ellie?... Você vai contar isso pra ela, não vai?

- É, é, vou.

- Ah, carinha, não acredito que fez essa merda.

- Por que? Eu sempre faço merda! Já é rotina já.

- Eu tava combinando de sair eu, você, a Jojo e a Ellie! Pra você me dar umas ajudas, carinha!

- Você tá afim da Jojo?

- É, mais ou menos.

- Mas cara, a menina tá no primeiro ano, você sabe, né? Ela tem 15 e você tem 19, tá quase fazendo 20. Isso é errado.

- Eu sei, carinha. Mas ninguém me quer, só ela, aí vai que dá certo, né?

- Mas você gosta dela?

- Não muito. É tipo você com a Ellie.

- Mas eu gosto da Ellie.

- Não gosta não. Se gostasse, não faria o que tá fazendo. Você gostaria de ficar do lado dela e não ia sair com mais ninguém. Se ela não quisesse sair, tudo bem, você ficaria com ela. Mas você saiu com a Stela, carinha! Isso é errado! Acho melhor você contar logo, pra não se enrolar ainda mais nas suas mentiras, carinha.

- Eu gosto da Ellie sim, ok?

- Então tá. - Ele levantou as mãos em forma de rendição.

O Menino dos Olhos AzuisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora