LÍGIA - CAPÍTULO XI

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"[...] só sei que quando chove [...], muitas pessoas se molham a toa. Acredito muito na premissa de que devemos escolher que temporais encarar... E em que momento encarar... [...]"

- O LIVRO DAS COISAS VÃS

Esse trecho do meu livro favorito era a única coisa que fazia sentido agora. Eu precisava, definitivamente, escolher que temporal encarar. Mas agora eu só precisava ir até o hospital e ter certeza de que Anely estava segura. Todos os outros problemas teriam minha atenção depois, inclusive temo que por muito muito tempo.

Chegamos em casa depois do jantar e Isabelle foi para o banho, aproveitei para checar minhas mensagens, e lá estava...

"21:13 - Kkkk quem vê assim pensa até que você é uma mulher difícil de se apaixonar"

Um pensamento intrusivo mandava eu colocar a mão inteira na boca e gritar! Que menina sagaz! Ri internamente. Mas respondi me fingindo de desentendida

"22:40 - olha, eu acho que você não me conhece o suficiente, moça"

"22:41 - Conheço sim, é menina que está apaixonada por duas mulheres ao mesmo tempo 🤗"

Ela não sabia brincar, sinceramente. A mensagem dela agora me deixava pensativa, não podia trazê-la para isso, para essa confusão. Mas não tinha como apagar o que eu sentia por ela... E por mais que ela me dissesse que eu estava apaixonada por duas mulheres, ela não sabia do que falava... Simplesmente não amo Isabelle. Cometi um erro indo até ela em um momento de fraqueza, porque sabia que era um lugar onde seria aceita... talvez isso me torne uma vilã, mas não há como mentir que sou uma pessoa perfeita, não é? Porra... Agora analisando a situação com mais calma eu começava a juntar as peças... Isabelle e eu estávamos terminadas até alguns dias atrás... o que significava que ela conversou com minha mãe durante esse tempo, e tudo aconteceu quando estávamos terminadas. Mas ela não dava ponto sem nó... Certamente era sua estratégia para voltarmos... Mas eu fui e voltei sozinha... O barulho de Isabelle saindo do banho me fez sacudir a cabeça e o meu turbilhão de pensamentos se dispersou, encarei o celular em minha mão e procurei em minha mente uma resposta criativa e leve para dar a Anely e assim fiz

"22:41 - ué, e você é contra o poliamor agora?"

Digitei rapidamente guardando o celular no bolso logo em seguida e encontrando lá o papel que papai tinha me entregado: Bonardo Nikeeroto Seguido de um número de telefone.

- Agora é sua vez, meu amor. - ela disse vindo se aninhar novamente no meu ombro, a envolvi no abraço e me desvencilhei

- É, é minha vez.

No banho evitei olhar o celular, eu precisa começar a esquecer a ideia de ter Anely de volta. Afinal, isso não seria mais possível. Não mais.

~*~

- Ylen, olha só ... Consegui revelar nossa foto. - os olhinhos dela ficaram marejados, e ela pulou no meu pescoço para um abraço.

Era quinta-feira, horário de educação física, sempre faltávamos. A minha mãe nunca foi do tipo que se importava. E ela, bom, ela tinha um esquema de pirâmide com a professora de educação física, ela corrigia os trabalhos dos alunos para ela em troca das presenças falsas... Lembro da nossa alegria quando a professora aceitou a ideia dela... Agora finalmente teríamos um tempinho pra nós. Não era fácil ser sapatão naquela época. Ninguém sabia de nós, claro. Ninguém. Exceto eu sobre ela e ela sobre mim.

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