Nessa coletânea de contos sáficos, iremos juntas vivenciar alguns dos sentimentos que acompanham mulheres que amam mulheres;
medo: do preconceito, da rejeição familiar, da falta de emprego, da reclusão social,
dúvida: será que isso é mesmo o que eu...
Alguém me disse uma vez que o amor quando verdadeiro, libertava. Então se é assim, eu posso dizer ... Que talvez depois de tantos anos... Eu esteja pronta para amar de novo.
Eu digo de novo, porque tenho plena consciência de que já vivi um grande amor... Aliás, por muito muito tempo me conformava com isso... Minha vida amorosa estava uma bosta e eu pensava num dar de ombros... eu já tive o amor da minha vida é por isso... O amor da minha vida foi Maria... Minha perdição por ela começava pelo nome...
maria... Maria... maria... ma...ri... aaaaa Derretimento e explosão...
Maria era da minha turma Maria beijava bem Maria era bonita Maria fodia bem pra caralho Maria era minha e só minha.
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Talvez por isso eu guarde essa foto aqui na capa do meu telefone... Porque Maria e eu éramos o amor na sua forma mais sincera, Maria e eu éramos o amor na forma física, palpável, Maria e eu éramos o amor que chamam de épico, daqueles que só acontecem uma vez a cada mil anos ou sei lá...
Era semana de prova e eu tive uma crise de ansiedade horrível. E precisei sair da sala correndo, vomitei horrores no corredor. Quando levantei a cabeça tinha alguém segurando meu cabelo enquanto eu vomitava... E quem era? Era ela. Daí em diante nunca mais nos desgrudamos. E assim eu pude contar para ela sobre meu crush em meninas e ela me contou o mesmo... Nosso primeiro beijo foi um selinho no banheiro da escola...
Eu tinha saído da sala, era aula de português e a professora estava de costas escrevendo um poema gigante no quadro, sai escondida simplesmente porque queria sair... Entrei no box do banheiro e bom... Escola pública e tranca em banheiro são duas coisas impossíveis de coexistirem juntas. Eu escrevia algo na parede do banheiro e olhei por sobre o ombro direito... vi que ela estava lavando o rosto, quando ergueu o rosto me viu através do espelho e sorriu
— Mas o que é que a menina exemplo está fazendo fora da sala? - brincou se virando pra mim e ficando encostada na pia de braços cruzados... Por Deus, estava tão linda
— Representatividade sapatão - falei voltando a desenhar, era uma bandeira lésbica, ela riu e caminhou até mim dentro do box meu coração acelerou.
Maria sempre dera sinais de que me achava bonita, ao contrário de mim que sempre fui uma covarde... Quando passou da porta, usou a mão direita para fechá-la totalmente, Maria era alta, ri ao lembrar... Naquele tempo ela já alcançava segurar a porta por cima, a mais alta da sala. Eu adorava aquilo, sempre me atrai por meninas altas... Ela era meu top um desejos e estava ali bem perto de mim segurando a porta nos mantendo... finalmente a sós... Eu não me virei para olhá-la, continuei fingindo concentração na bandeira, quando senti sua mão livre pousar tímida na minha cintura, e o polegar subir e descer em um afago carinhoso, e me permiti fechar os olhos.
Nenhuma palavra foi dita, ela deslizou sua mão para minha barriga colando nossos corpos e assim me virou para que a olhasse, e o fiz, e me derreti... Ela se inclinou, suas bochechas estavam rosadas e ela parecia nervosa, mas não como eu estava, com toda certeza, seus olhos negros cintilavam para mim e eu me perdia em olhá-la... Assim, sua mão esquerda me puxou pela nuca e ela colou nossos lábios em um beijinho inocente, mas que espalhou calor por todo meu corpo. Corei. Ela riu com a testa colada na minha...
