Anely - XXI - medo, dúvida e desejo

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"Eu acredito no amor, porque me obrigo a crer que há mais que merda nesse mundo." - trecho deletado de um artigo de Anely para a universidade de literatura.

QUARTA-FEIRA - 16 DE MARÇO

Hoje é quarta, tenho mais aulas de gramática que literatura e isso me chateia. Fui obrigada a voltar para a casa de Lígia, mas ela não aparece por aqui. Aliás, desde o domingo não nós vemos ou nos falamos... Começo achar que fui apenas uma brincadeira pra ela esse tempo todo e que ela agora cansou, nada mais natural...

Aproveito o intervalo das aulas para stalkear Lígia, e é claro que não há nada lá. Respiro. Respiro... E respiro ... Mas nada parece ajudar...

Abro o perfil de Isabelle; fotos antigas das duas e declarações cheias de amor. Ao que parece Lígia pediu ela em namoro em um passeio de balão... O que pode ser mais romântico que isso?

Largo o celular brava sobre a mesa dos professores.

Bufo.

Reviro os olhos.

O horário toca e é hora do intervalo, resolvo ver como estão meus pequenos, que não são mais pequenos.

Há alguns casais novos por aqui, como por exemplo um casal de meninas, não é o primeiro da escola obviamente, mas certamente é o mais corajoso, elas se olham descaradamente querendo transar ali mesmo. Safadas ... Rio com o pensamento e minha memória me leva a um dia em que eu minha Maria estávamos daquele jeito na arquibancada da escola. Lembro claramente das palavras que trocamos naquele dia

~*~
Ginásio lotado. Futebol masculino. Suor e muita testosterona... Adolescente suam demais... Estávamos na arquibancada, algumas meninas jogavam vôlei na outra parte da quadra, outras ficavam soltando grunhidos eufóricos para os meninos que jogavam... Caila minha melhor amiga na época pintava as unhas de outra garota...

- Engraçado pensar que eu achava que você era hétero... - Maria me diz baixinho

- Ué, do nada isso, Maria!? - lhe dou um empurrão no ombro

- Bom, não tem quem diga, olhando para essa patricinha que você é - ela faz uma linha no ar que vai da minha cabeça aos meus pés - que você não adora um pênis.

- Credo! Sua boca suja!!! - faço uma careta e bato meu ombro no dela, a empurrando novamente

Nós rimos muito.
Surgiu um silêncio estranho e pesado.
Durou um tempo, até que ela falou meio sem jeito...

- É você já... - engoliu em seco e pude ver o nó da sua garganta subir e descer enquanto ela me olhava- já...você já ficou com um cara desse jeito ? - pigarreou, eu ergui as sobrancelhas me divertindo com seu constrangimento - ora! Ylen! Pare com isso!!! Você sabe do que estou falando! - ela bufa

Dou uma risada de jogar a cabeça para trás e sei que ela revira os olhos.

- Ssssiii- NÃAAAAO !!! Eu nunca fiquei... Desse jeito com um cara.

O rostinho dela suavizou. Ela se curvou sem baixar a cabeça e disfarçadamente me acarinhou a panturrilha.

- Que bom... Que bom... - sussurrou me dando um sorrisinho de lado

- Você já?

- O quê? Com um cara? Eca! Não!

Me curvei ficando com o rosto pertinho do dela, até parecia que eu tinha esquecido que era um ambiente público em 2011

- Mas com meninas já, não é?

~*~

O sinal tocou. Enchendo os ouvidos de todos e me arrancando brutalmente de minhas lembranças. Respiro, me dou mentalmente um minuto para recuperar o fôlego. Os alunos me receberam bem quando voltei. Me abraçaram e me entregaram muitas cartas. A turma do 3° ano juntou economias para me presentear com um colar com pingente de lua. Não tinha significado. Lembro de rir sobre a fala de Mariana

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