LÍGIA - CAPÍTULO XII

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"[...] existem grandes amores que precisam... sossegar..."
Matilde Campilho - poeta portuguesa.


São 9 da manhã. É domingo... Estou no jardim de uma praça que não faço ideia de onde fica. Sentada aqui nesse banco eu vejo um Ypê amarelo muito bonito. Fico repassando a conversa que tive com Dália hoje cedo... Essa hora a ambulância já deve estar pegando Anely para levar para o hospital que eu pedi.

~*~
Depois que revelei a Dália que eu era a garota que tinha sido a primeira namorada de Anely, ela enlouqueceu de alegria e eu me alegrei junto, mas o entorpecimento passou rapidamente quando chegou uma mensagem de Isabelle no meu celular perguntando se eu tinha chegado bem ao hospital. A mensagem me fez lembrar que estou presa. Eu não posso mais terminar com Isabelle porque ela vai doar um rim para minha mãe. Ela simplesmente pode desistir se eu terminar o namoro, e por mais que essa seja uma maneira facilitada para mostrar aos meus pais que tipo de pessoa ela é, certamente, não é a atitude mais sensata.

- Então quer dizer que depois de anos você finalmente tomou coragem para se aproximar dela e agora vai se afastar assim?

- Dália, eu não sou nenhuma maluca, tenho que admitir que na verdade sou reservada até demais. Deus sabe o esforço que fiz pra me achegar, a coragem que tomei levou anos para surgir... O sentimento nunca acabou, mas pensa comigo... Depois de 13 anos eu apareço e sorrindo quero que Anely esteja me esperando? Isso não existe... Eu... Eu ... Queria fazê-la se apaixonar de novo. Parece idiota, não é? Mas queria me apresentar de novo, conquistar o coração dela de novo e finalmente ficar perto... Pra sempre.

- Você é muito romântica.

- Acredite. Não sou. Eu só ... Não sei... Quando se trata desse menina eu mudo. Nada parece mais ser preto no branco.

- Eu queria continuar olhando o que tem na sua caixa documentário ... Tô morrendo de curiosidade, você não me deixou pegar em nada.

Respirei fundo e fechei os olhos

- Talvez um dia eu deixe você ver a minha. - cruzei os braços e abri os olhos encarando-a - que tal me contar de algo da caixa dela... Só pra eu me despedir desse sentimento com um mínimo de paz...

- A sua mãe pode encontrar outro doador, você mesma disse que não sabem nem se você é compatível... Olha eu tô inconformada.

- Dália... Por favor... - pedi

Ela com a cabeça em negação, tomou uma respiração profunda e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

- Ãm... Deixa eu ver... Eu sei que... É... Ah! Ela tem umas tampinhas de cerveja... Em um saquinho com uma florzinha pitica lilás ... - ela fez o tamanho da flor com o dedo indicador e polegar mostrando que era pequena, a lembrança fez um sorriso saudoso se desenhar inconscientemente na minha boca.

- Sobre o que estão conversando tão concentradas? - a voz sonolenta de Anely surgia, irrompendo o silêncio.

Antes que pudéssemos responder, ela se virou para pegar uma cadeira na mesa ao lado, ao que eu imediatamente levantei, o avental do hospital tinha apenas um nó frágil nas costas deixando uma fresta que dava ver suas costas nuas e um pouco da calcinha.
Pigarreei.

- Me dê seu paletó. - falei entre dentes para o segurança mais próximo a mim e fui até ela colocando o paletó sobre seus ombros. - Melhor assim, moça... - lhe disse uma com suavidade que surpreendia até a mim.

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