Ametista...

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Bangcoc, 2003


Era um dia comum na casa de Boran Saengtham

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Era um dia comum na casa de Boran Saengtham.
O burburinho do amanhecer se espalhava pela casa e todos estavam ocupados com seus afazeres. Menos os herdeiros Saengtham. 

Pete, o garotinho de bochechas rosadas e olhos de coelhinho, que passou a tarde anterior na casa de Vegas, seu melhor amigo, ainda dormia, cansado de suas brincadeiras e descobertas infantis. Tay, o menorzinho, dormia no berço sob a constante vigilância de algum adulto. O pequenino,  nem fala ainda, mas corre atrás dos dois irmãos e já aprendeu fugir do berço. Razão pela qual ninguém o deixa sozinho por muito tempo
Na sala, o filho mais velho, que despertou cedo, conversa feliz ao telefone, rindo animado.

 Jovem adulto,  o rapaz não deixa transparecer a idade que tem e ultimamente está sempre se afastando do pai.
Ainda preso ao telefone, ele sobe ao seu quarto tão logo o pai surge na sala. Diz que vai separar sua roupa de montaria.
No andar superior acorda os irmãos e segue, ainda conversando ao celular.
Minutos depois, desceu e sentou-se com os dois pequenos no jardim. 

Os dois menores sorriem ainda sonolentos para o irmão que para eles é uma espécie de ídolo pop.
Pete, que de alguma forma se parece demais com Katha e Tay, uma bolinha redonda de pouco mais de um ano que idolatra os irmãos e os segue por todos os lados,  tropeçando nos próprios pés, parece mais a mãe.
Boran, o pai, sente algo no ar. Algo estranho o oprime. Para ele, seus filhos serão sempre bebês e jamais sairão de suas asas. Mas de uns dias para cá, Oak anda arredio, evitando-o mesmo na empresa.

Oak Katha resolveu ir trabalhar  na empresa da família  muito cedo e foi praticamente impossível  impedi-lo de ingressar no trabalho junto ao pai e aos Theerapanyakul,  que ele admirava. Estudou sem perder uma aula e mesmo assim nunca relaxou  no trabalho, destacando-se em todas as funções que desenvolveu durante os primeiros anos.
Saengtham fez com que ele começasse como auxiliar de serviços e por meses o rapazinho correu de um escritório ao outro levando documentos, água, café, lanche e repondo tinta,  bateria e todo tipo de insumo de escritório.
Sua ascensão seguiu seu preparo escolar e ele só recebeu uma mesa no escritório coletivo em seu segundo ano de faculdade,  quando voltou a cavalgar e se arriscar em alguns campeonatos de montaria. Depois da formatura começou a separar um dia para tomar café com o irmão e quando Tay nasceu, ele simplesmente colocou o novo irmãozinho na sua rotina. Boran acha lindo quando ele desce pelas escadas com as duas crianças no colo e segue para o jardim,  onde ouve as conversas divertidas de Pete e o balbuciar úmido do caçula.
Não importa quão corrido será o dia, ele senta-se com os irmãos e conversam. Para Boran o filho está dando valor à família.  Atitude que ele incutiu em Oak com o seu exemplo. Ele mesmo nunca sai de casa antes de ver e falar com os três.

Naquela manhã,  depois de tomar café com os irmãos e os deixar sob os cuidados da babá, Oak, que agora, já formado, divide seu tempo entre a empresa e as competições nacionais, saiu para o treino, sem falar com o pai.
Boran sente o corte. Está acostumado a ir e vir da empresa com o rapaz que para ele, é uma cópia fiel de seu caráter e personalidade. O pai já o imagina casado e com filhos, pronto para manter seu nome e linhagem e vê-lo se afastar é como perder o controle sobre o rapaz.
Os amigos já andam induzindo-o a aconselhar o rapaz a escolher uma de suas filhas para o casamento. Seria a junção perfeita de bens e poder. As propostas são vantajosas e Boran já  as analisava contra a opinião de Khorn e Gun Theerapanyakul,  seus sócios e melhores amigos. 

-     Boran, não caia nessas armadilhas, nosso Katha é livre e feliz, casá-lo para aumentar nossa fortuna seria como amputar uma parte importante dele.
-      Eu nunca vou fazer isso com meu Vegas. -   É a conversa do pai de Vegas e do pequeno Macau.
Agora,  vendo-o sair sozinho em seu carro, Boran se pergunta se fez certo em pedir ao filho para pensar em ir a algum encontro com uma dessas moças. O filho não reagiu bem e foi buscar apoio nos dois únicos adultos que não incentivariam tal loucura.
Agora ele está evitando o pai para não brigar com ele e no fundo o patriarca dos Saengtham agradece por Gun e Khorn ouvirem  e apoiarem seu filho.

Agora ele está evitando o pai para não brigar com ele e no fundo o patriarca dos Saengtham agradece por Gun e Khorn ouvirem  e apoiarem seu filho

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Boran conhece a agenda do filho e o seguiu para o hipódromo. Em um ambiente mais ameno, como as cavalariças, ele saberá quais palavras dizer para mudar a opinião do filho mais velho.
No entanto,  a manhã que começou leve e familiar não terminaria assim.

O homem mais velho se aproximou pelo gramado, amando a sensação de pisar no tapete verde que tinha sob seus pés. Para ele que está sempre preso no escritório pisar o chão é uma forma de reconectar com o divino. Uma oportunidade de ter um contato direto com sua própria humanidade. Ao andar sob a grama, ele sempre lembra que também é pó e que um dia voltará para a Terra.
Pensando em sua condição mortal, ele demorou para notar a cena que se desenrolava à sua frente.
Ao imaginar o que acontecia, antes mesmo de ter alguma certeza, ele esqueceu  de que era um homem caminhando para a morte, como todos os mortais.
Quando enfim percebeu o significado do que os seus olhos viam, ficou nervoso. Em um piscar de olho ele se sentiu o maior de todos os seres.  Agora ele era de novo a pessoa para o qual todo os os seres deveriam prestar respeito e obedecer-lhe as vontades. Fechou o punho revoltado quando viu seu filho sobre o cavalo. E não foi o exercício equestre que o tirou do sério,  já que ele ama o espírito competitivo do jovem. Foi algo muito pior do que qualquer coisa que ele pudesse imaginar.
Deu dois passos trôpego sobre a grama e gritou sua negativa.

Logo a frente, Oak Katha estava sentado em seu cavalo, mas não estava olhando para o circuito que ele tinha acabado de vencer. Seus olhos estavam presos no homem que estava a alguns metros de si.
Boran notou o interesse. E reconheceu Time.

Anos antes a empresa do pai do jovem tinha feito uma parceria vantajosa com ele. Olhando para o rapaz, Boran não lembra de ter visto ele próximo do filho. Mesmo notando aquele olhar, o pai de Oak acreditou que conseguiria interromper o pesadelo que sua mente estava criando; Suspirou e disfarçou os sentimentos, mas quando ia se aproximar para parabenizar o filho, Time se aproximou e o cumprimento com familiaridade.
Oak sorriu e estendeu a mão para o homem à sua frente, ficando de lado para o pai, que ele ainda  não tinha visto e Boran ficou estático.
Os olhos do filho estavam mudados. Uma luz emanava de suas orbes e sua íris  estava tomada por uma nova cor:  ametista.
O senhor Saengtham ficou perplexo. Seu  filho primogênito,  o futuro de sua linhagem, aquele em que ele apostou todas as suas fichas agora estava apaixonado por um homem!


-   Não.

 
O desespero saiu em forma de uma negativa curta e mesmo que tenha sido quase um grito, os dois jovens nada notaram.
Time parecia preso àquele olhar como mariposa presa à luz.
Boran saiu dali tremendo. Deveria ter ouvido os amigos e casado Oak Katha com uma rica herdeira. Mas ele não se sentiu derrotado. Ele tem como fazer o filho obedecê-lo.

Decidido,  desistiu de ir ao escritório.  Sua família precisa dele agora. Era o que sua mente o fazia crer
Voltou para casa disposto a elencar todas as mocinhas livres e obrigar o filho a se casar.
-    Filho meu não fica com homens!  Nunca!

 -    Filho meu não fica com homens!  Nunca!

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Âmbar    #VegasPeteWhere stories live. Discover now