Infância

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Vegas e Pete

2003

2003

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Aquele não era um dia comum. [

O patriarca Saengtham estava reunido em sua casa com os irmãos Theerapanyakul por motivo diferente do costume. Era uma visita pessoal e não era a primeira por esse motivo. O filho mais velho de Baran Saengtham estava passando por uma fase nova e surpreendente e o pai precisava do apoio dos únicos amigos que entenderam sua situação.

Dias antes, Oak, o primogênito, tinha se declarado apaixonado por um homem. A notícia mexeu com a estrutura familiar dos Saengtham e  o patriarca está tentando entender esse novo universo. Uma coisa é ele saber que os homens da família tem uma particularidade que os diferencia dos demais, outra é aceitar o que até então era improvável: um filho seu querendo namorar um homem. Em sua mente essa é uma equação que não fecha. Que existe longe de seus olhos ele sabe e até respeita, mas no seio de sua família! É impensável. E agora ele até está aceitando conversar sobre o assunto.

 Baran, Gun e Khorn estão certos que estão sendo discretos com o assunto, mas dois pares de ouvidos infantis estão atentos a tudo. 

Mandados para brincar no jardim, sob os olhos discretos de um assistente, as duas crianças estão encarando o mesmo assunto com a facilidade comum de suas idades. Para eles, Oak e o namorado estão se gostando e podem brincar juntos, como eles fazem. Baran explicou ao filho menor que as brincadeiras de adultos são diferentes e que a forma de carinho também muda com a idade e Pete aceitou bem. Para ele, seu Hia era um ídolo e os heróis nunca decepcionam seus fãs. Simples assim.

Mesmo que o longo quintal garanta a distância entre as preocupações dos adultos e os folguedos infantis, as flores coloridas e as folhagens perfumadas não disfarçam o clima de novidade e apreensão a que as duas crianças  sensíveis  captam.

Os dois meninos brincam no jardim dos Saengtham, mas, diferente do que os adultos pensam, os garotos de nove e onze anos não estão alheios aos assuntos que são tratados na sala. O afastamento não levou os pensamentos inquietos dos dois para longe. Ao revolver a terra com as pás de jardinagem, eles revolvem junto as incertezas que se acumularam nos últimos dias. As novidades são aceitas com facilidade, mas eles não sabem como reagir a elas e por isso conversam entre si, cada um trazendo para dentro de sua amizade as poucas informações que ouviram da família.

-     Pete, você acha que quando crescer seus olhos vão mudar de cor como o do Pī Oak? - O pequeno Theerapanyakul é curioso e imaginativo, em sua cabecinha linda de cabelos negros há uma doce imagem de um Pete adulto sorrindo raios multicoloridos pelos olhos.

-      Claro. Eu sou um Saengtham legítimo. Papai disse que todos os homens de nossa família tem essa coisa. - O outro garotinho respondeu cheio de certeza em sua eloquência infantil.

-     Característica, Pete. Não é coisa. Mas... E você vai gostar de meninas ou de meninos? - Aquilo era algo novo para Vegas, até ali estava acostumado com mamães e papais, mas o pai tinha sentado com ele e dito que as famílias eram diferentes. "Tem filhos", o pai explicou com carinho, segurando-o no colo, "que nascem do coração dos pais e não da barriga das mães". E quando falou do irmão de Pete, explicou: "filho, tem  vários tipos de namoro e nenhum está errado se as pessoas envolvidas conversam sobre o que elas querem viver. Oak Khatha vai namorar um rapaz. Quando eles casarem e tiverem filhos, essas crianças vão ter dois pais, entendeu?"   Vegas só não entendeu quem seria a mamãe, mas, quando perguntou, o pai repetiu a história dos vários jeitos que as crianças iam viver em família.  "Não, eles não serão mães. Se eles quiserem filhos, eles adotam, entendeu, Vegas? 

Era muito para assimilar. Mesmo tendo onze anos, ele ainda é muito infantil e Kun não tem pressa em exigir maturidade do filho.

-     Ah, vou gostar de meninas, Vee. O único menino que gosto é você. Esqueceu? - Pete fala e corre para o amigo, abandonando as mudas que estava plantando e envolve o rosto do amigo com as mãos cheias de terra.

Foi a primeira vez que Vegas viu os raios dourados passarem feito corisco nos olhos escuros do amiguinho. Foi a primeira vez que ele sentiu necessidade de abraçar Pete e o fez, com o carinho pueril de sua inocência. O garoto mais novo sorriu, se deixando abraçar.

Ficaram assim, abraçadinhos entre as flores. Nada e ninguém podia interferir nesse momento só deles. As pazinhas e demais materiais de jardinagem esquecidos. 

Ali, aconchegados no abraço amigo, ambos trocaram confidências. Vegas contou das famílias diferentes e Pete riu da tardia descoberta do amiguinho, tendo para si a sensação quase egoísta de ser mais sábio que o outro em algo. Oak, seu irmão mais velho, tinha lhe explicado tudo. Havia famílias diferentes. Casais que só tinham filhos e nunca foram casados. famílias só de papai e filhinho, outras de mamães que viviam sem o pai. E tinham os casamentos iguais o de Oak e pi Time que seria com dois homens. Tinha também de duas mulheres. 

Pete ouvia mais uma vez as mesmas explicações e compreendia os novos ensinamentos. Para ele o que valia era ser feliz. Se fosse bom para a pessoa, seria bom para os outros. Sua cabecinha infantil aceitava tudo como explicado, sem mais perguntas. Para ele, deveria ser bom ser casado com quem entende o outro. O assunto para os dois era distante fora da realidade deles. Para as duas crianças o máximo de intimidade que se permitiam era abraçar-se ou deitarem na grama ou na rede do jardim para ouvir as músicas que amavam. De resto era correr atrás de borboletas, jogar videogame e comer sobremesas antes do almoço.

Foi o mesmo Oak que os encontrou presos no doce abraço e registrou em foto, silenciosamente. A mesma foto que anos depois tornou-se o protetor de tela do laptop de Pete.

 A mesma foto que anos depois tornou-se o protetor de tela do laptop de Pete

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Âmbar    #VegasPeteWhere stories live. Discover now