Capítulo 33 - Castigo

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- O que será que Quíron irá inventar para o nosso falso castigo? – me perguntou Percy enquanto esperávamos o centauro no refeitório como havíamos combinado na noite anterior.

- Shhhhhhh! – exclamei ao ver que ainda havia alguns semideuses ali por perto da mesa do chalé de Poseidon – Ninguém pode saber que esse castigo não é pra valer. Temos que fingir que estamos muito chateados com isso, lembra?

Ele fez um sinal positivo com a cabeça. Ou ele estava conseguindo fingir muito bem, ou ele realmente não estava nada animado com aquela história de castigo falso. Imaginei que deveria ser porque ele não queria ter hora certa para que pudéssemos ficar a sós. Essa ideia também não me agradava muito. Mas que escolha nós tínhamos? Uma coisa era certa, nenhum dos dois estava disposto a abrir mão desses momentos de intimidade.

Foi estranho passar a última noite sozinha em minha cama. Percy havia dormido ao meu lado apenas duas noites e eu já tinha me acostumado com aquilo. Era ruim demais ficar longe dele. Sentia falta do seu calor, dos seus braços em volta de mim, do seu corpo. Minutos atrás, quando tomávamos café, ele tinha me dito que também sentira minha falta. Eu já morria de vontade de fugir com ele novamente. Para o nosso santuário ou para qualquer outra parte, só para podermos ficar sozinhos. Eu sabia que não seria sempre assim. Essa vontade que parecia interminável era porque nós estávamos na fase de descobertas. Tudo era muito empolgante e tentador. Um dia isso iria passar, mas enquanto não passasse eu queria aproveitar ao máximo.

- Ai vem ele... – disse Percy que não parava de olhar para a porta ansioso.

Me virei naquela direção e avistei o centauro que dessa vez vinha sem sua cadeira de rodas. Ele adentrou o refeitório e veio ao nosso encontro. Ele trotava lentamente, olhando para os campistas que iam deixando o local. Provavelmente ele queria que não houvesse ninguém por perto na hora de falar conosco. Ele se aproximou e esperou pacientemente até que o último semideus tivesse saído. Eu e Percy nos colocamos de pé esperando para ouvir o que ele tinha a dizer.

- Certo, vamos direto ao assunto – disse voltando o rosto para nós e nos encarando de cima – O castigo que vou propor, digo impor a vocês é o seguinte: levar as armaduras usadas nos treinos até o rio e lavá-las. Uma das harpias da limpeza os acompanhará para ver se estão fazendo tudo direito. O trabalho deve ser feito a noite, para que não atrapalhe no treino de vocês. Para isso lhes concedo permissão para se ausentarem de seus chalés três vezes por semana. Alguma dúvida?

- Só três vezes por semana? Ai... – dei uma cotovelada nas costelas de Percy ao ouvir a pergunta que ele fazia.

- Não Quíron, não temos nenhuma dúvida – falei lançando um olhar de reprovação a Percy – Quando começamos?

- Quanto antes, melhor! – disse ele mantendo o tom autoritário que não combinava nada com ele – Bom, agora se me dão licença, tenho outros meio-sangues que castigar.

Ele deu meia volta e saiu do refeitório galopando. Percy ainda passava a mão no lugar onde eu o tinha atingido. Cheguei a sentir pena, apesar de ele ter merecido aquilo. Ele me fitou e eu percebi que ainda havia muito desânimo e desapontamento em seu olhar. Coloquei as mãos em sua cintura e lhe dei um selinho bem rápido. Depois olhei em seus olhos verdes que insistiam em me hipnotizar.

- Por que está com essa cara, cabeça de alga? Deveria estar feliz, acabamos de ganhar passe livre para nos ausentar dos chalés a noite três vezes por semana!

- É muito pouco – reclamou ele – O que vou fazer nas outras... – ele demorou alguns segundos enquanto fazia as contas mentalmente – quatro noites da semana?

Lembranças De Um VerãoWhere stories live. Discover now