A guardiã dos destinos ( Anjos guardiões, livro 2)

2- Enganos

# Rafael # 

        Tentei  esquece-la. Tentei esquecer minha missão. Meu propósito. Quis voltar a minha existência humana. Mas nada adiantou. Eu teria de continuar. Com ou sem a Alice. Minha vida não acabava nem aqui, nem agora.

Quem era Rafael Martins? E porque teve de ele se apaixonar por uma guardiã? Meu pai também amara o proibido. E nunca desistiu dela. Porque devia eu desistir? Renegar o meu único verdadeiro amor. Desde que a vira em sonhos, eu soube... Ela seria a única mulher que amaria!

    Seria ilusão minha acreditar que também ela se apaixonara por mim? Mas eu sinto que ela me evita. E tenta negar o que sente. Parece ter medo. Não ser capaz de entregar, se refugiando no seu papel de guardiã. Dizia que não podia... Mas todos sabem que as regras podem ser quebradas.

" Lembrando o rosto da amada? Não te tortures mais, querido amigo.  Alice saberá reconhecer teu amor. Só precisa de tempo. Ela sofreu muito com a morte da mãe. E acredita que o amor apenas trará sofrimento."

" A minha Alice faz-se tão frágil... Mas por dentro sofre! Ela não devia ser tão dura consigo própria. Queria poder ajudar-lhe. No entanto, não sei o que fazer."

" Deves retomar a tua missão. Só assim ela terá um pouco de paz!"

" Como posso? É uma tortura ficar ao seu lado, tendo que estar afastado. Não conseguirei cumprir missão alguma. Meus pensamentos estão apenas com ela."

" Tens de fingir que não sentes nada por ela. Só assim poderás conquistá-la. Aos poucos ela baixará a guarda. Alice não vai poder negar para sempre seus sentimentos. Acreditando que teu amor foi uma ilusão, ela permitira a tua aproximação. "

              Havia passado uma semana que Rafael fugira. Agora vivia junto com os outros anjos. Tornara-se amigo de Ícaro, os dois pareciam irmãos. Casamenteiro como ele era... Por estes dias já devia estar a procura de uma noiva para Rafael. Seria bom ele encontrar alguém. Assim o doce Rafael me esqueceria, e nada mais impediria de realizar a profecia. 

Ele voltou mais cedo do que eu esperava. De certo percebeu que não podia fugir do seu destino. Que era um dever seu restaurar a harmonia perdida! Porque detinha o mesmo brilho nos olhos? Já estaria de novo apaixonado... Que outro motivo seria? Que estava eu a pensar? Devia ficar feliz... Radiante por ele ter encontrado alguém!

" O teu anjinho já voltou? Que doce criatura o fez esquecer de ti?"

" Para Amara! Existem razões mais importantes para celebrar."

" Estais perturbada, Alice? Nunca te vi assim. Tu estás apaixonada por ele?  E ele esquece-te. Mas tu pediste. "

" Que ideia mais absurda! Rafael é mais um aprendiz que tenho de treinar. Nunca deixarei me envolver por ele."

" Faz um favor a ti própria. Não te escondas mais. Admite o que sentes."

      Rafael continuava belo e magnânimo. Por vezes me perdia nos seus olhos. Deixava-me seduzir pelo seu belo rosto. Mas não era paixão. Era apenas encanto. Agora todo voltaria a normalidade. Treinaria ele para ser o verdadeiro salvador.

" Lamento pela minha atitude. Deixa-me levar pelos belos sonhos. Pensei que estava apaixonado por ti. Mas iludi-me. Tu apenas és a minha guia. Vim para o meu treinamento."

Falava com frieza. Algo mudara. Aquele não era Rafael. Ele nunca me trataria assim. Ele não seria frio. Sempre fora tão doce e meigo. Porque mudara de repente? Alguém  andava utilizando-se dele. Seria outra mulher? Como usava ele engana-la?

" Que mulher te está manipulando?"

" Não existe mulher alguma!"

" Então porque estás tão frio?"

" Eu mostro quem sou. Desculpa se não foi sincero contigo. Mas agora todo mudara."

Rafael escondia-se. Tentava me enganar. Mas eu iria descobrir. Eu saberia o porque desta frieza. Ele não podia fugir de novo. Desta vez, eu não permitiria.

# Rafael # 

      O meu plano estava dando resultado. Alice estava ficando intrigada. Ela se enredava. Deixava cair o véu. E eu podia ver que ela sentia algo. Podia não querer admitir. Mas também ela sentia uma forte atracção, quando se aproximava de mim.

Era tão difícil fingir esta distancia. Quando o que eu mais queria era declarar-me. Enlaçar-me em seus braços. Mas era necessário continuar a fingir. Só assim Alice seria minha.