A guardiã dos destinos ( Anjos guardiões, livro 2)

16- parte II

            Queria chorar.  Afogar as minhas mágoas. Esconder-me para sempre deste mundo cruel. Mas a minha irmã precisava de mim. Não podia abandona-la agora. Iríamos descobrir uma forma de atravessar as almas perdidas. Voltei para junto de Ícaro... Tínhamos de ultrapassar nossas divergências. 

" Estás melhor?"

" Isso agora não importa. Precisamos de salvar a minha irmã."

" Como vamos encontrar a tua mãe?"

" Pensava que terias alguma ideia, Rafael!"

" Bem tenho tentando. Mas não encontro nenhuma solução. Só se conhecesses alguém capaz de atravessar esse caminho, sem ficar perdido..."

" Eu acho que sei quem vais-nos poder ajudar!"

Foi nessa altura que lembrei-me do meu pai. Da sua força para derrotar os problemas. Do amor verdadeiro que tinha pela minha mãe. E do arrependimento que sentiu... Ele queria ter podido ficar com ela! Mas fugiu. Só no fim da sua vida compreendeu o erro que tinha feito. Teria a encontrado? Só ele era capaz de tal mérito! Apenas ele podia-nos ajudar... Ele tal como eu adorava Alice. Não deixaria ela definhar-se.

" Tens a certeza, Alice? O teu pai?"

" Qual é o problema, Ícaro? Ele arrependeu-se do que fez. Todos merecem uma segunda oportunidade."

" Só estou perguntando... Será o grande Saúl capaz de encontra-la?"

" Claro que sim. Já deve ter a encontrado."

       Caminhamos em silencio. Percorremos um extenso túnel que nos levaria ao encontro do meu pai. A medida que nos aproximávamos temia este reencontro. Lembraria dela ainda? Diziam que quando os anjos atravessavam o outro lado se esqueciam de todo. E se o mesmo tivesse acontecido ao meu pai? Como iríamos ajudar Alice? Tinha de ser positiva. Se perdesse agora as esperanças...

" Já chegamos, Amara!"

" Onde está meu pai?"

" Deve estar naquele jardim."

Encontrávamos-nos no Paraíso dos anjos mortos. Era o lugar das grandes figuras . O meu pai havia sido um dos maiores guardiões dos céus. O criador permitira que ele viesse para aqui, apesar dos seus erros. Mas deixara as suas memórias intactas? Só havia um modo de descobrir.

" Pai!"

     Seu rosto permanecia o mesmo. Os mesmos cabelos grisalhos. As mesmas mãos macias. E os olhos límpidos como a água. Sorriu quando o chamei. Havia me reconhecido. O criador fora generoso. Ou adivinhara que as suas filhas precisariam dele. 

" Amara! És mesmo tu, minha filha?"

" Sim, paizinho. Preciso da sua ajuda."

" Aconteceu alguma coisa, a tua irmã?"

" Como adivinhou?"

" Que outro motivo terias para visitar um velho como eu?"

" Não diga isso. Eu o amo muito."

" Eu sei, minha filha. Mas agora diz-me o que aconteceu a tua irmã!"

Expliquei-lhe todo. O seu romance com Rafael. Os receios que Alice teve. E finalmente a maldição da qual foi vítima por uma serva das trevas. Meu pai ficou apreensivo. Por momentos ficou calado a refletir. Era muita informação para uma pessoa só. Esperava apenas que nos pudesse ajudar. Se não minha irmã estaria perdida para sempre!

" Quem fez essa atrocidade, a minha menina?"

" Não sei, pai. O Rafael não nos quis dizer."

" Como? Mas porque? "

" Ele achou que era o melhor. Mas não temos tempo a perder. Precisamos de encontrar a mãe."

" Tens razão. Converso com o Rafael quando todo tiver terminado."

" Por favor diga-me que sabe encontrar a mãe!"

" Não te preocupes, Amara. Eu encontrei uma vez a tua mãe. Ela perdoou-me. E nós amámos-nos de verdade. Eu irei encontra-la novamente."

        E assim partimos para nossa jornada. Meu pai ia a frente para guiar-nos. Só ele sabia o caminho. Se saíssemos da sua mira.... Estaríamos completamente perdidos! Rafael e meu pai não se cumprimentaram. Ambos estavam muito tensos. E meu pai achava que a culpa era de Rafael. Ícaro também estava afastado de mim. O que dissera magoara-o muito. Mas agora não havia tempo para explicações. O mais urgente era encontrar a minha mãe. Só ela podia salvar Alice. Esperava que tal como o meu pai... Ela ainda tivesse as suas memórias. 

                                                                                                                                               Continua...