Capítulo V

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Ela estava escrevendo uma carta para a tia Dungarvan quando ouviu o inconfundível som de botas chocando-se contra o chão. Assim que se virou, Elizabeth viu a figura de James se aproximando da escrivaninha.

"Atrapalho?", perguntou com um sorriso desarmante tendo os olhos brilhando como se escondesse uma travessura.

"Jamais, milorde"', negou com voz neutra. Aquela figura bem a sua frente lembrava de alguma forma a George e a mera lembrança dele fazia o coração de Elizabeth bater dolorido, pesado e, portanto, um pouco mais lentamente.

"Quero aproveitar que estamos sozinhos e lhe propor algo", apesar de ser um homem que lidava com a dureza, James tinha algo macio na voz. Na verdade, sua voz sorria naquele momento e isso deu um estranho conforto a Elizabeth. "Peço que ouça até o fim e se considerar um absurdo, quero que me diga com sinceridade e ainda seremos bons amigos".

"Sim, senhor", assentiu com uma pequena centelha de curiosidade acesa.

"Eu estou numa fase da vida que todos querem que eu me acerte e tome o rumo certo para um barão.", começou o discurso que tinha elaborado na mente desde a conversa com o almirante. "Vinha relutando afinal como trazer alguém para o meu lado se mal fico em terra? Que mulher estaria disposta a uma separação tão longa assim?", e ele fez uma pausa e olhou com profundidade Elizabeth. "Sempre me acho um altruísta ao pensar assim, mas fui levado por alguém mais sábio a ver a situação de uma forma...diferente".

"Pois me diga, milorde. Como é esta forma?", inquiriu Elizabeth com um traço cuidadoso na voz, queria ver onde aquela conversa iria.

"Veja que genial, minha cara. Uma vez casada comigo, a dama não estaria relegada a penalidade de minha presença constante e gozaria de liberdade em seus dias. Poderia cuidar de seus afazeres, administrar o lar, a casa e a propriedade com minhas bênçãos. Afinal, nunca poderia eu forçar uma dama a ir para o mar comigo", explicou mantendo-se atento às expressões de Elizabeth.

"Muito nobre de sua parte, milorde. Mas qual é o ponto de tudo isso?", ela perguntou já tendo em mente a resposta para sua questão.

"Muito bem. O ponto é que a única mulher que conheço que não seria uma franguinha aflita pela ausência do marido seria...a senhorita", e ele pausou esperando que ela preenchesse as lacunas daquela história.

Elizabeth permaneceu calada com um semblante neutro enquanto seu cérebro fervia. Sempre imaginara um casamento diferente do dos pais. Queria um marido presente todo o tempo ou pelo menos parte dele. A mãe não era infeliz, mas ela agia mais com uma boa amiga do pai e não como sua esposa. Agora aquela perspectiva surgia diante de si por meio daquela proposta. Era gentil de James avaliar a si como uma boa esposa de marinheiro que permanecia em terra, mas ela não podia deixar de imaginar como seria com George. Ele demonstrou uma ou duas vezes que sua esposa teria que acompanhá-lo pelo mundo em tempos de paz. Essa era uma perspectiva agradável para Elizabeth que sempre sonhou em conhecer o mundo. Além disso, com George havia a ligação, aquela rara disposição de dois corações a se atrair e fundir-se em um. Todavia, o destino alterou a sina e cortou os laços levando numa roda sinistra toda chance real de um casamento profundo.

"Preciso dizer que o senhor é péssimo neste tipo de negócio. Por sorte, não terá que passar por isso novamente.", e ela sorriu. Já não era o mesmo sorriso franco e aberto, mas era um sorriso que evidenciava o lado mais travesso e belo que tinha. "Sou prática o suficiente para evitar que alguém mais tolo se confunda com este pedido"

"Sou eu quem fiquei confuso agora, senhorita Mackenzie. Aceita minha proposta e zomba de mim ou me nega e zomba de mim?", era impossível não rir-se daquela cena.

"A primeira opção, milorde. E zombar é uma palavra forte, apenas fiz apontamentos divertidos sobre sua conduta", ela explicou encolhendo os ombros de forma jocosa.

"Que sorte a minha. Ao menos terei algum humor em casa", comentou James se aproximando ainda mais e depositando um beijo casto na testa de Elizabeth.

Assim se deu o acerto que tornou a senhorita Elizabeth Mackenzie, noiva do capitão lord James Graham, o barão Graham de Ayton. Mesmo conhecendo o histórico anterior relacionado ao agora conde de Stanfield, nem um dos dois se dispôs a falar sobre o assunto que foi enterrado na memória de ambos.

O azul dos olhos teusWhere stories live. Discover now