Capítulo X

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Quase um mês após a morte do marido, aquela era a primeira vez que Elizabeth chorava. As lágrimas desciam pelo rosto da baronesa enquanto recebia um embrulhinho que se contorcia todo. O maior desejo do coração de James estava ali em seus braços: uma menina, uma gorducha e ruiva menininha como ele sempre havia sonhado. Não havia como sentir o coração partir ao pensar que o marido jamais conheceria a filha e a menina nunca saberia o quanto o pai dela a amava e ansiava por ela. Por meia hora, chorou sozinha com a menina, que chamaria de Audrey em homenagem a sogra, em seus braços.

A pequena dormiu serena desde o momento que a mãe cantara para lhe acalmar o primeiro choro e a alimentava primeira gula com o leite de seu próprio seio. Agora, a mais nova bebê Graham ressonava tranquila descansando languidamente de todo o esforço de nascer sob a vigília materna.

"Peça aos meninos que entrem, senhora Fitzgerald", solicitou a baronesa a meia voz para a governanta. A mulher cumpriu a ordem e logo quatro cabecinhas entraram no quarto enquanto George e William ficaram a porta espiando a cena. "Senhores, esta é a irmã de vocês, Audrey", anunciou a mãe enquanto os meninos subiam na cama sem cerimônias e a rodeavam.

"Ela é ruiva como o Pat", observou Gregory beijando a fronte da menina.

"Ela parece um presunto", comentou Colin, olhando para a mãe. "Mas ela é bonitinha e eu gosto de presuntos".

Todos riram do comentário do pequeno e Audrey, ouvindo aquela reunião de família, despertou e olhou curiosa para aqueles vários pares de olhos.

"Oi, Audie", cumprimentou Patrick baixinho, segurando a mãozinha da irmã. "Sou seu irmão mais velho, Patrick, mas todo mundo me chama de Pat. O meio-loiro é o Gregory e aqueles dois parecidos são o Colin e o Ian. Está faltando um de nós, o papai, mas ele foi pro Céu". O menino fez uma pausa sério e logo prosseguiu. "A gente vai cuidar de você e da mamãe por ele, tá?", e sorrindo, o pequeno deu um beijinho na testa da irmã, sendo brindado com um sorriso banguela e um balbuciar feliz.

"William, querido, pode se aproximar", chamou Elizabeth ao perceber os olhos curiosos do menino. "E o senhor também, milord. Venha conhecer sua afilhada"

George que estava ali apenas olhando a cena, imaginando-se parte dela como o pai daquelas crianças e o marido daquela mulher, despertou de um devaneio quando sentiu o filho puxando-lhe a calça e indicando os Graham com a cabeça.

"Tia Elizabeth nos chamou pra conhecer a Audrey, pai. Podemos ir?", o menino perguntou um tanto solene.

"Claro, Will", respondeu o pai tomando o filho pela mão e se aproximando sem tirar os olhos de Elizabeth. A baronesa tinha a face corada, provavelmente pelo esforço feito. Os olhos estavam ainda mais cansados, inchados, úmidos e vermelhos, indicando que ela parecia ter chorado há poucos instantes, mas eram um mar dourado de felicidade e orgulho, tristeza e solidão indo e vindo em ondas. Os cabelos ruivos estavam soltos, desalinhados, mechas caindo sobre o rosto da mesma dando um ar selvagem ao seu aspecto. Outras damas nobres nunca se deixariam ver assim por um homem, mas ela, pensou, não era como as outras.

"Milord, esta é Audrey Octavia Graham, sua afilhada", apresentou Elizabeth com doçura e uma certa emoção na voz, afinal não deixava de pensar que esta poderia ser a filha dos dois. Com cuidado, ela inclinou a bebê para que George a visse melhor.

"Ela é toda você, Elizabeth", sussurrou George apenas para que ela ouvisse e o olhar dos dois se encontrou comunicando mais coisas do que poderiam ou deveriam dizer.

"Segure-a", disse preparando para passar a menina para os braços dele.

"Não...eu não sei...eu nunca", balbuciou tentando explicar que nunca havia segurando uma criança na vida.

"Deixe de besteira.", disse a mulher pacientemente. "Vamos, Stanfield. Seja corajoso! Apoie o corpinho com o braço e a cabecinha com a outra mão", instruiu colocando Audrey aos cuidados de George.

"Isso é fácil", indicou com um meio sorriso por entre a barba que ostentava enquanto sustinha a menina no colo. "Agnes não me deixa segurar nossas crianças. Ela diz que sou desajeitado", comentou levantando-se com a pequena no colo, experimentando pela primeira vez, de fato, a ligação entre um homem e um bebê. Ele ouviu Elizabeth balbuciar algo, mas tão encantado estava com a menina que mal percebeu que a baronesa havia caído no sono. 

O azul dos olhos teusWhere stories live. Discover now