Capítulo XI

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Fora um idílio, George pensava enquanto a carruagem se aproximava de Milford House. A semana passada com Elizabeth e as crianças fora um pequeno idílio, um pequeno pedaço do que poderia ter sido a vida dos dois se tivessem seguido juntos. Os filhos não teriam medo de si e teria uma mulher forte e decidida, que não tolheria o direito de ser pai, amante ou marido. Sim, teria sido o paraíso, mas estava fora do alcance e agora voltava para Agnes, seus melindres e seu mau humor.

"Milorde, graças a Deus!", exclamou a governanta a porta da residência assim que ele desembarcou da carruagem. A mulher tinha com as vestes sujas de sangue, o que era suficiente para deixar o duque preocupado.

"Senhora Tillder, o que se passa? A senhora se machucou?", inquiriu George se aproximando da mulher, verificando com os olhos a fonte daquele sangue.

"Não, meu senhor. É a duquesa. Ela deu a luz a uma menina, mas milady sangra muito e o médico está preocupado", dizia a mulher apressadamente.

"Onde eles estão?", quis saber de imediato enquanto deixava seu casaco e luvas com o lacaio.

"Milady, não iria querer...", a mulher hesitou em falar, lembrando das ordens da duquesa que não gostava que o marido assistisse aos partos.

"Não perguntei o que minha mulher acha ou as ordens que ela deixou sobre minha presença no parto. Quero saber onde ela está", a voz não se elevou, mas George empregou um tom autoritário que usava antes com os seus marujos no navio, o que, com sua voz grave, era o suficiente para impor respeito. Assustada, a pequena mulher soltou um guincho e se pôs a caminhar na direção onde a duquesa estava. George a seguia com o coração aos saltos. Não amava Agnes, mas se ela morresse, como ficariam aquelas crianças sem mãe e com um pai inútil?, ele pensava.

"Ela está naquele quarto, senhor", anunciou a governanta apontando para um quarto no final do corredor no segundo andar.

"Reúna meus filhos. Assim que falar com a mãe deles, quero vê-los", ordenou caminhando em direção ao quarto, mas estancou ao ver o doutor Sanderson saindo do quarto. Tinha um avental cheio de sangue e suor na fronte sem cabelos. Quando seu olhar alcançou o do duque, a expressão do homem indicou com a expressão facial que a situação não era boa.

Consternado, George entrou no quarto que tinha um odor funesto no ar. Um choro fraco vinha do canto do recinto onde duas criadas pareciam cuidar da filha recém-nascida de seus senhores. Ao lançar um olhar para a cama, viu uma mulher pálida com profundas olheiras roxas em volta dos grandes olhos castanhos. Era Agnes, cujo o corpo se agitava quase delirante na cama e balbuciava baixinho coisas ineteligíveis.

"Lady Milford perdeu muito sangue no parto da criança, mas conseguimos salvar a ambas", o médico informou a meia voz.

"Ela não parece nada bem", observou George com gravidade ainda olhando a mulher se debatendo.

"Sua esposa está com febre pós parto e tem uma hemorragia que estamos tentando controlar, milord", explicou o médico "Já o bebê nasceu abaixo do peso ideal. Precisa de uma aia de leite com urgência. Tomei a liberdade de pedir a uma sobrinha vir e servir de aia para a pequena".

George teve apenas cabeça de assentir e lançar um olhar piedoso para Agnes enquanto fazia mais uma prece silenciosa para que Providência salvasse sua esposa. Voltou-se para o foco do choro frágil e se aproximou de onde as mulheres terminavam de vestir um bebê que parecia muito pequeno. Comparada a Audrey Graham, a filha de George era duas vezes menor tanto em tamanho quanto em peso. Sua caçula recém-nascida era a imagem do desespero e do desconforto e tudo o que George pôde fazer era tomá-la nos braços, ainda desajeitado, e levar aquele corpo frágil junto ao seu peito duro e nada maternal. Para sua própria surpresa, a menina pareceu se aninhar ali com algum conforto e o choro miado e dolorido foi substituído por resmungos baixos e um olhar que clamava por cuidados. 

O azul dos olhos teusOnde histórias criam vida. Descubra agora