Capítulo XXVII

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No quarto dia, houve uma melhora considerável das crianças, o que faz com quem lady Graham já não passasse tanto tempo com elas. Havia assuntos a tratar e negócios a fazer, muita coisa se acumulara naqueles dias e, agora, ela podia dedicar uma atenção especial a aqueles assuntos burocráticos. Com a governanta assumindo a frente de batalha contra a gripe, Elizabeth passou aquele dia no escritório lendo cartas e fazendo contas.

A tarde avançou depressa e a noite caiu. Elizabeth seguia no escritório quando George chegou em Graham Park após o jantar como sempre havia feito naqueles dias. Conforme havia pedido, a governanta informou que sua patroa estava a sós. Ele pediu que uma ceia leve fosse servida e que ele mesmo levaria depois de estar com as crianças. Passou-se meia hora até que ele estivesse a frente do escritório com uma bandeja com bocado de frango assado, alguns legumes e vinho para acompanhar. Sem cerimônias, ele entrou sem bater e encontrou a baronesa adormecida por cima de seus papéis com a cabeça descansando em cima dos braços. A cena lhe provocou um sorriso involuntário de bem querer. Logo, passou a agir. Deixou a bandeja sob uma mesa e foi até ela, ajoelhando-se ao seu lado.

"Elizabeth", chamou-a enquanto afagava seus cabelos. Em resposta, ela ronronou e se virou sem sequer abrir os olhos. "Vamos, Lizzie, acorde", insistiu George com um tom mais alto e viu alguma movimentação acompanhada de um novo ronronar. "Deixe de ser preguiçosa", ele sussurrou baixinho perto dela. Talvez mais perto do que seria saudável, pois foi o suficiente para sentir-lhe o aroma que se desprendia da pele dela, leve e sedutor. Sabão e lírios, ele identificou enquanto o corpo de George ia despertando, ficando em estado de alerta.

Dormia um sono leve e gostoso quando ouviu seu nome sendo chamado lá longe. Sentiu os cabelos sendo afagados, aquilo era bom e ela ronronou protestando contra o consciente que queria despertar. A voz era dele, percebeu. Deus como era bom ouví-lo em sonho com a voz rouca, baixa ali, ela pensou enquanto aos poucos ia submergindo. Ao abrir os olhos, percebeu que estava no escritório e que a mão, que lhe afagava os cabelos, seguia ali. Sentiu a presença de George de imediato sem ao menos vê-lo. Sempre sentia quando ele estava por perto. Sua certeza se confirmou quando se virou e se deparou com ele ajoelhado ao seu lado. Toda a sisudez natural de sua expressão havia dado lugar a um olhar de amor. Sim, era isso que fora capaz de ver naquele mar azul claríssimo dos olhos de George.

"Cochilei", suspirou rouca com um meio sorriso envergonhado.

"Estou vendo", ele sorriu com carinho e ainda afagava os seus cabelos. "Você está precisando descansar".

"Há tanto o que fazer, George", Elizabeth fechou os olhos ordenando os pensamentos sobre o que fazer nos próximos dias.

"Diga-me e eu faço. Você vai comer e ir para cama", ordenou descendo a mão que estava no cabelo dela para seu rosto. Não tinha dedos delicados, mas, com cuidado, ele acariciava os traços do rosto dela.

"Fala como se eu fosse um dos seus marujos", ela permaneceu imóvel enquanto arrepios lhe percorriam o corpo com aquele simples toque.

"Falo como se você fosse minha mulher", disse com alguma profundidade e ela abriu os olhos para o encarar o duque. O amor naquele olhar cedera lugar a um calor e talvez fosse o mesmo que ela sentia.

"Se eu fosse sua mulher, não receberia uma ordem dessa forma, George", Elizabeth o desafiou porque sentiu que era o que deveria fazer. Ele riu sonoramente e inclinou-se um pouco, aproximando-se dela.

"É verdade", concordou ele com calma, deixando com que a mão escorregasse do rosto em direção ao pescoço, descendo pelas costas e parando na cintura. "Você teria que receber uma ordem de outra forma, Elizabeth", havia um tom novo na voz dele. Era algo sedutor que ela nunca havia visto. A voz saia grave e macia, fazendo com que ela ofegasse sem fazer nenhum esforço. "Uma forma mais convincente", e ele sorriu aquela altura estava a distância de um beijo.

"O senhor está tentando dizer que sou persuadida por meio do seu charme, milorde?", ela provocou. O entendimento estava totalmente nublado pela presença, pelo toque, pela voz dele. Como poderia proceder? O corpo ardia de uma forma nova, ia disperto, envolvente como nunca antes e como apenas George, ela supôs, poderia causar.

"Estou dizendo que quando uma estratégia falha", dizia George baixinho fazendo a barba roçar lentamente pela pele do pescoço dela. "Um homem deve usar de meios pouco ortodoxos para fazer valer sua vontade", sussurrou fazendo com que o corpo dela estremecesse. Sem esperar que ela reagisse, George deixou que o desejo que sentia por Elizabeth finalmente se transformasse em fato real. Com um gesto rápido, ele a ergueu no colo enquanto seus lábios faziam uma trilha em busca dos dela. Quando o encontro aconteceu, o mundo parou, suspendendo todas as suas atividades. Não havia comércio, guerra, baile e qualquer outro negocio, tudo o que havia naquele momento era aquele primeiro toque íntimo daqueles dois velhos amantes. Ao fim do beijo, quando a vida ao redor seguia suspensa como no dia do nascer do mundo, Elizabeth percebeu que estava sentada colo de George e este, por sua vez, que estava sentado num divã do outro lado da sala. Nenhum dos dois, todavia, conseguia lembrar como haviam chegado ali.

A respiração de ambos ia acelerada revelando a urgência pelo outro, mas não houve avanços até que a baronesa ousou e começou a abrir os botões da camisa de George. Era uma atividade boba, mas aos dois era o mundo.

"Rasgue logo a maldita camisa", rouquejou o duque impaciente, observando o quão graciosos eram os dedos da mulher quando faziam os botões se abrirem.

"Ora, cale-se, homenzinho irritante", ordenou a baronesa com um meio sorriso sem alterar a disposição com a qual abria os botões. Quando o duque pensou numa resposta inteligente, lá estavam os lábios de Elizabeth colados aos seus, prontos para confundir o entendimento, ficando ali até que não haviam mais botões.

"Minha vez", ele sussurrou com um sorriso gatuno por entre a barba. As mãos foram até as costas dela e, pouco a pouco sem delicadeza ou graça, fizeram os botões cederem e caírem no chão um a um.

"George!", ela protestou rindo. Ele não respondeu apenas seguiu em abrir o corpete do vestido. Ao fim disso, ele desnudou o tronco dela e parou apenas para observar as curvas generosas do busto dela. Em silêncio devotado, ele tocou os seios da baronesa e Elizabeth gemeu baixo. A este primeiro contato seguiram outros mais íntimos que traziam novas sensações e a descoberta de como cada traço do outro se encaixava com perfeição.

Naquela noite, enquanto os corpos de George e Elizabeth se uniam, o tempo continuou suspenso pelos anos de separação imposta ao casal. E assim o foi até o primeiro raio desavisado de sol quando eram apenas sono, cansaço e plenitude.   



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