Capítulo XIV

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O café da manhã real já havia sido servido quando eu cheguei na sala de estar naquela manhã doentia. A cadeira da ponta final da mesa estava ocupada pela rainha de Marshall, que no momento lia as notícias com um irritante sorriso satisfeito. Obviamente que ela estaria satisfeita, já que as outras principais cadeiras ao seu lado estavam vagas, as quais correspondiam a sua única filha, sua herdeira, e seu futuro noivo.

E obviamente que meu estômago estava dando voltas e voltas a cada pensamento que eu tinha dos dois. O que teriam feito, as suas expressões, o sorriso de satisfação dele, os olhos dela... Não havia percebido que estava encarando a cadeira vazia de Camila até a porta se abrir e Austin aparecer com um sorriso radiante, agora totalmente vestido.

E era óbvio que a rainha já sabia o motivo.

- Bom dia, príncipe.

- Bom dia, rainha. – seu sorriso ia de orelha a orelha quando ele fez uma semi-curvatura. – Bom dia, conselheira.

- Ah, bom dia, alteza. – respondi, desviando o olhar da cadeira vazia e sentindo uma insistente pontada no peito.

- Seu quarto não estava ocupado, Austin. Aconteceu alguma coisa? – a rainha perguntou, não disfarçando o tom. Ah, a arte de ser sutil.

- Oh, rainha. Eu não dormi lá. – E a falsidade dele era uma coisa impressionante. – Na verdade, eu vim buscar o café da Mila. 

Por mais que eu quisesse ir me afogar na piscina, eu lhe dei um olhar extremamente gelado. Nunca, em minha vida, eu pensei em ver alguém tão falso.

- Então, o meu convite de passar a noite aqui veio a calhar, hm?

Austin ia responder, pegando algumas frutas, mas um barulho nos fez virar para a porta.

Camila havia batido no batente e caminhava meio grogue para dentro da sala de jantar. Seu rosto estava coberto pelo capuz do blusão branco e não se via o seu rosto inteiro, coberto pelos cabelos bagunçados que caíam embaixo do capuz. Arrastava os pés e trombou em outra cadeira, soltando um resmungo baixo. 

Enquanto observávamos, ela se aproximou da empregada que permanecia de pé ao lado da mesa e murmurou alguma coisa em seu ouvido, que saiu correndo para a cozinha. Aproximou-se da mesa e suas mãos correram cegamente em busca de uma xícara e o bule de café. Com todos em silêncio, a empregada voltou com um comprimido, o qual ela pegou sem agradecer, junto à xícara, virando-se para sair.

Por um momento, eu tive uma intensa vontade de rir. Então era assim que a Camila ficava depois de uma noite com o Austin? Arqueei sarcasticamente as sobrancelhas, enquanto lhe dava um sorriso irônico para ele e foda-se se realmente isso soasse infantil ou imaturo, mas eu estava chateada, chutada, sozinha e não ia perder essa oportunidade.

- Senhora Jauregui? A senhora precisa de alguma coisa? – perguntou a mesma empregada, fazendo minha atenção voltar-se para ela. – Não comeu nada hoje, senhora.

Camila estacou, virando-se para trás. A mão afastou os cabelos da frente dos olhos sem tirar o capuz, fazendo-me poder vê-la. Duas bolsas arroxeadas circulavam seus olhos, estreitados em sono. Ela permaneceu a me encarar e seus olhos iam crescendo enquanto marejavam minimamente, uma expressão confusa e magoada em seu semblante.

E eu perdi todo aquele meu sentimento estúpido de vingança, todos os sentimentos da noite passada e desta manhã voltando com força total. Eu não sabia o que deveria sentir. Medo? Tristeza? Decepção?

- Eu... não tenho fome, Liz. – respondi baixo, desviando o olhar para o chão.

-Camila, está tudo bem?

Charmed |Camren|Where stories live. Discover now