Capítulo XXVI

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Um zumbido estranho preencheu meus ouvidos e eu só me percebi gritando quando Bob me puxou, sacudindo-me. Eu me livrei de suas mãos e empurrei a empregada, ajoelhando-me ao seu lado com as pernas trêmulas. Eu ouvia agora mais vozes ao nosso redor, as luzes da casa se acendendo. Com as mãos muito trêmulas, eu toquei o rosto pálido que estava esfriando numa velocidade assustadora. Lauren estava com os braços e pernas abertos em direções estranhas, um filete de sangue saía de sua boca e seus olhos estavam semi fechados, revelando um pouco do branco de seus olhos. 

Eu não conseguia pensar. Eu não conseguia nem me mexer. Tudo o que eu fiz foi ficar ali ajoelhada no primeiro degrau, olhando para o filete de sangue que começara a escorrer degraus abaixo, detrás de sua cabeça. E eu sentia nitidamente meu coração batendo num ritmo alucinante, meus olhos arregalados buscando, procurando, querendo que alguma coisa comprovasse para mim que aquilo era algum tipo de brincadeira.

Eu até ouvi resquícios de vozes, alguém falando que o pulso dela estava fraco, outro chamando a ambulância e alguém falando repetidamente meu nome. Mas eu só conseguia olhá-lo, meus olhos ardendo, minhas mãos mais trêmulas que nunca sobre seu rosto e uma sensação de queimação que se espalhava como veneno por meu corpo.

Se... Se Lauren, meu Deus, não. Eu não podia pensar nisso, eu não queria pensar nisso.

- Mila!... Mila!

Pisquei, sentindo duas grossas lágrimas escapulirem de meu rosto e irem pingar direto na blusa negra que ela vestia. Virei-me lentamente para a pessoa que me chamava e me deparei com Bob ao meu lado, segurando um de meus ombros. Eu via sua boca se mover, mas eu não conseguia entender nada. Foi aí que eu me toquei. Ela não poderia ficar ai deitada, ela tinha que ir ao hospital, ela...

- Bob! Ela precisa ir para um hospital! – eu disse, meus olhos vasculhando a sala e encontrando agora uma grande quantidade de funcionários ao nosso redor. – O que vocês estão fazendo parados, chamem uma ambulância!

- Camila, se acalme, já está a caminho. – Bob respondeu, franzindo as sobrancelhas, olhando pra mim com um olhar estranho. Ele suspirou me puxando e eu não consegui impedir, era como se meu corpo não me obedecesse. – Camila, você precisa se acalmar, não fique assim.

- Não ficar assim?! Bob! – não consegui continuar a falar tornando a repetir seu nome e no momento que eu caí no choro, Bob me abraçou, suas mãos também trêmulas apertando-me com força.

Não ficamos assim nem por cinco segundos quando as portas da frente se irromperam, uma confusão de médicos entrando ao mesmo tempo que alguém descia as escadas correndo.

- Alteza, por favor, o rei! Ele está passando muito mal no quarto!

Prendi a respiração, meu olhar indo dos paramédicos até a empregada, que me olhava com expectativa. Não, por favor, agora não, eu precisava ir, eu precisava.

- Senhora? 

Eu fiquei olhando a colocarem numa maca com cuidado, uma máscara de oxigênio em seu rosto. Eles faziam tudo rapidamente e cochichavam entre si, como se o estado dela fosse caso de vida ou morte. Merda, e era.

- Camila, fique, eu vou com eles. – Bob me olhava como se esperasse que eu fosse fazer um escândalo, sua feição mais séria e pálida do que eu jamais havia visto.

- Bob, não, por favor. – eu retribuí seu olhar, lágrimas furiosas saindo de meus olhos.

- Você precisa ficar com seu marido, Camila.

Charmed |Camren|Onde histórias criam vida. Descubra agora