Capítulo XXVII

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Novamente em um hospital. Por mais bizarro que parecesse, eu até que gostava de hospitais. Gostava do cheiro de soro e de lençóis limpos, do ar frio que vinha dos corredores brancos, do silêncio inquietante. Da pressa dos médicos em salvar vidas, de como lidavam com a morte. A correria de uma maca sendo levada para a UTI, as portas duplas indo e vindo, o choro que ecoava dos berçários. Eu gostava de tudo isso, mesmo quando minha mãe tinha vindo para cá, no último mês que vivera.

Mas não hoje. Não com ela aqui.

Hoje eu me abraçava com muita força, tentando me aquecer daquele vento cortante que parecia vir de lugar algum, açoitando meu rosto e minhas juntas doloridas de uma noite mal dormida. Eu caminhava para o quarto 2350 lentamente, como se uma força invisível me empurrasse para trás. Eu fazia uma força incrível para colocar um pé na frente do outro e me mover naquela direção. Naquele corredor que me levaria ao quarto de Lauren.

E ao mesmo tempo parecia que eu voava até a porta; era como se eu tivesse rodas nas solas de meus pés e deslizasse pelo chão de linóleo em cor pastel. Eu corria e tudo estava ao meu favor para que eu chegasse mais rápido até a porta branca.

Eu queria, mas não queria, eu não tinha coragem.

A coletiva de imprensa não poderia ter sido pior. Eu tentara disfarçar e entrar sem ser reconhecida, mas era impossível com a quantidade de seguranças que andavam junto comigo. Então, eu perdi meia hora respondendo perguntas que eu realmente não sabia responder. Chris havia tentado me ajudar antes de vir, falando como responder direta e objetivamente o que eles queriam, mas eu não havia prestado atenção. Eu estava tão... feliz por vir que eu realmente não me importei na hora.

Mas a cada pergunta feita, eu me sentia mais e mais nauseada. Se antes falar com os repórteres era entediante, agora era angustiante. Eles me faziam perguntas que eu mesmo me fazia. O que aconteceu? Ela está bem? Quando ela vai sair? Há alguma lesão mais grave? Ela caiu ou foi empurrada? E essa última fez o meu coração disparar. Como Lauren havia caído da escada, se não estava bêbada. Ela poderia muito bem ter tropeçado, mas aquela era lauren, da postura impecável.

Alguém teria tido a coragem de empurrar ela? Na mesma hora, Austin foi o primeiro que me veio à cabeça. Mas como ele poderia ter empurrado ela se estava no quarto, exatamente onde eu havia o deixado? Ele poderia ter um cúmplice, foi meu segundo pensamento, mas idéia veio e foi rápida. Cúmplice para quê? Para matar Lauren? Era certo que ele estava meio obsessivo, mas não era para tanto, ele não havia ficado louco. E então, como Lauren caiu?

Mas mesmo assim, eu deixei a pergunta de lado e logo me revoltei, deixando de ser educada e gritando que eu não ia responder mais nenhuma pergunta. Isso foi o suficiente para que eu pudesse me desvencilhar de todos e seguir para o quarto dela, sozinha.

Sozinha como eu nunca havia estado antes.

Parei por um segundo e respirei fundo, sentindo meu coração martelar fortemente contra minha caixa torácica e girei a maçaneta, entrando no quarto. Era um quarto igual a qualquer um; paredes, guarda roupa e cortinas brancas, tudo impecavelmente limpo. As cortinas estavam abertas, fazendo o mínimo sol entrar e bater na cama, onde Lauren repousava. Engoli em seco, deixando meus braços penderem ao lado do meu corpo e me aproximei.

Os olhos estavam serenamente fechados, como se ela só estivesse em um sono profundo. Lauren tinha um machucado na testa pequeno, coberto por um curativo e seu corpo estava coberto por um lençol branco, até o peito. A máquina de freqüência cardíaca apitava num ritmo calmo e constante e ela respirava fundo, sem ajuda de qualquer máquina. Ela estava pálido, com tubos de soro ligados no braço e sua boca estava ressecada. Foi com choque que eu vi o quanto ela parecia frágil.

Charmed |Camren|Onde histórias criam vida. Descubra agora