Capítulo Trinta e Sete

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Crazy


Era por volta das dez horas da manhã quando cheguei na mansão. Agradeci ao taxista pelo papo que havíamos tido durante o caminho sobre Guns' and roses, pois era o que estava tocando em seu carro assim que eu entrei. Sarah havia ficado em sua casa pois, com a correria que havia tido nos últimos dias ajudando a organizar as coisas para o baile, nem ao menos tinha saído para comprar um vestido. Pensei em me oferecer para levá-la para escolher seu vestido mas sua mãe parecia já ter o plano todo em mente, e ver as duas dando risadinhas ao conversarem sobre aquelas coisas femininas foi o suficiente para perceber que aquilo era uma coisa entre mãe e filha. Assim que entrei, Ana veio ao meu encontro e me deu um abraço longo e silencioso. Não sei explicar o porquê, mas foi um dos melhores abraços que eu já havia recebido na vida. 

Fomos até a cozinha onde ela preparou meu café da manhã enquanto eu contava para ela tudo o que havia acontecido, desde o jogo contra os Penn Quakkers que havíamos vencido até a viagem de avião. Ela ouvia atentamente cada palavra e acenava com a cabeça. Por fim, contei a ela sobre o pesadelo que Sarah havia tido comigo. Ela enrugou suas sobrancelhas, o que foi um sinal claro para que eu explicasse à ela como havia ido parar na cama de Sarah. Ana havia vivido em uma época diferente, em um país de cultura diferente onde o simples ato de se deitar na cama com outra pessoa só é permitido depois da celebração do casamento. Foi então que percebi que até então não havia contado nada a Ana sobre Sarah e eu. É claro que ela era uma ninja e já deveria suspeitar dos meus movimentos mas até então não havia parado para conversar sobre o assunto com ela. Ela sorriu e deu algumas risadinhas enquanto eu contei a ela as coisas que havíamos feito juntos nos últimos dias. Quando terminei, percebi que havia falado demais. Eu não tinha o costume de falar tanto, na verdade nunca conversava sobre mim mesmo com ninguém mas Ana era uma boa ouvinte e fazia qualquer pessoa se sentir a vontade para falar sobre sua vida. Ela segurou minha mão e sorriu.

-''Jadineira faz bem pra você. Não faz ela ir embora de novo''

Sorri.

-Pode deixar.

Ana acariciou minhas mãos e em seguida voltou a organizar as coisas na cozinha.

***

Estudar na casa da árvore era altamente revigorante. Depois de uma semana corrida e desgastante com partidas de futebol e viagens de avião, o simples ato de poder ler meus livros prediletos admirando a vista do alto da casa da árvore era fascinante. O sol brilhava timidamente por tras das nuvens carregadas que se afastavam da cidade lá no horizonte. Como já havia conseguido a roupa para o baile e Sarah havia me dito para passar em sua casa la para as sete horas para por fim irmos ao baile eu teria algumas horas só para o Brand, e naquele momento eu não queria fazer nada além de estudar ouvindo minha playlist, beber diet cola e apreciar a vista. Foi então que senti uma coceira no meu pulso. Foi somente ao coçá-lo que então percebi a pulseira que Luna havia me dado. Eu não havia tirado ela desde que ela havia colocado em mim e agora ela praticamente fazia parte do meu corpo. No mesmo instante me lembrei do dia em que visitamos a Ong e de como as crianças ficaram felizes com nossa visita. Me lembrei também do quanto havia sido negligente todas as vezes que havia recebido o convite para ir visitá-las. Comecei a pensar. Olhei ao meu redor. Eu poderia passar o dia inteiro ali agradando o Brand, mas aquilo não me parecia certo, algo dentro de mim me incomodava naquele momento. Nunca havia sentido aquilo antes mas de repente senti que eu não deveria estar ali, me agradando como eu sempre fazia. O sorriso daquelas crianças, seus olhares sinceros, o modo como sonhavam com seu futuro mesmo sem saber se viveriam tempo suficiente para concretizá-los, aquilo não saía da minha cabeça. E se eu, de alguma forma proporcionava bem à todas aquelas coisinhas pequenas.... por que gastaria meu tempo apenas comigo mesmo?
Me levantei. Desci a escada rapidamente e apanhei as chaves do meu carro na cozinha. Ao entrar no carro liguei o som no máximo e coloquei meus óculos escuros. Ajustei o retrovisor interno e pisei fundo.

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