Capítulo Sessenta e sete

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Uma última tentativa


Era por volta do meio dia. Eu corria pela avenida Thompson tentando encontrar a loja onde Sarah provavelmente estava provando seu vestido de noiva. Enquanto eu passava pelas pessoas pude perceber que a maioria delas me encarava com um olhar assustado, algumas mulheres até puxavam os braços dos seus filhos afastando-os de mim como se eu fosse um maníaco. De início eu não entendi o que estava acontecendo, mas foi então que parei diante da vitrine de uma loja e vi o meu reflexo. Aquele era um bairro muito bem frequentado onde somente pessoas de uma determinada classe social costumavam frequentar para fazer suas compras e passear com suas famílias,e eu estava ali, completamente sujo de lama, com a camiseta repleta de rasgos, sem um dos pares de tênis nos pés e com uma algema presa em um dos pulsos. Eu realmente parecia um maníaco.

Tentei não me incomodar com os olhares de reprovação que me perseguiam e corri o mais rápido que pude para chegar no endereço que estava no cartão que havia encontrado no quarto de Sarah. Depois de alguns minutos finalmente cheguei no endereço marcado. Olhei pela vitrine da loja mas não consegui avistá-la. Ela provavelmente só poderia estar em um dos provadores no fundo da loja. Decidi entrar.

Lá dentro o ambiente estava silencioso, parecia não haver ninguém no local, mas foi então que ao chegar no fundo da loja me deparei com ela de costas vestida com um vestido de noiva incrível. Seu cabelo negro estava preso com uma presilha dourada e um véu longo e brilhante cobria sua cabeça e se espalhava pelo chão do salão. Ela estava rodeada por uma equipe com linhas agulhas e fitas métricas que faziam ajustes e arrumava cada detalhe do seu vestido minuciosamente. Meu coração batia forte. Minhas mãos tremiam. Eu me aproximei lentamente tentando não chamar atenção, mas acabei esbarrando em uma das prateleiras derrubando uma dezena de cabidesno chão. No mesmo instante todos eles voltaram seus olhos na minha direção. Todos eles, inclusive ela, a noiva.

Foi então que pude perceber que não era ela, não era a Sarah, era uma outra mulher com características bem semelhantes à ela. Assustados com a minha presença, os estilistas deram um passo atrás. O segurança da loja que havia ido ao banheiro veio correndo na minha direção fechando o zíper de sua calça e estendendo o braço direito para que eu me afastasse da noiva. Porém antes que ele pudesse chegar até mim para me forçar a sair da loja eu dei meia volta e sai correndo.


***


Eu caminhava pela avenida completamente perplexo. Eu olhava pela vitrine de todas as lojas de vestidos de noivas na esperança de encontrar Sarah em alguma delas, mas sem sucesso. Depois de alguns minutos, completamente sem esperança, me sentei em um banco que ficava bem em frente a um restaurante e levei minhas mãos ao rosto. Eu precisava colocar minha cabeça no lugar. Precisava de um plano para encontrá-la. Eu sabia que ela estava em alguma loja naquele lugar. Foi enquanto eu pensava que senti uma mão cutucando meu ombro. Retirei as mãos do rosto e me deparei com um cara barbudo completamente tatuado desde seus braços até parte do seu rosto. Ele usava uma daquelas roupas de cozinheiro maneiras.

-Ei cara, você tá com fome?- Perguntou ele, e percebi em seu olhar que ele realmente estava preocupado comigo.

-Eu até estou mas... -Tentei ser honesto com ele e explicar o que estava acontecendo comigo mas ele me interrompeu antes que pudesse continuar.

-Ótimo, vem comigo -Disse ele, me puxando pelo braço me arrastando para um beco atrás do restaurante.- Eu sei exatamente o quanto é ruim morar na rua e não ter o que comer as vezes. Acredite, a alguns anos atrás eu estava na mesma situação que você.

O CaraWhere stories live. Discover now