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Eu estava aterrorizada quando entrei na aula de Estudos Socioeconômicos pela primeira vez.

Eu era uma aluna do primeiro ano na época, ainda perdida no grande esquema das coisas e, ao ter sido colocada naquela aula, eu estava preocupada com o quão interativa eu teria que ser nela. Muitas matérias de humanas envolviam discussões em classe, debates e trabalhos em grupo, coisas que sempre me desagradaram, dada a minha timidez e ansiedade. Eu odiava ser forçada a falar, ter um holofote obrigatoriamente sob mim. Eu descobri rapidamente, no entanto, que não era assim que as aulas do sr. Daniels funcionavam. Claro, o homem adorava a participação coletiva e incentivava o diálogo e discussões, instigando-nos a defender nossos pontos de vista e expor nossos pensamentos, mas ele nunca havia sido aquele chamando nomes para responder suas perguntas. Ele nos deixava à vontade e talvez essa segurança de saber que eu não era obrigada a dizer nada foi o motivo para que, de vez em quando, eu desenvolvesse coragem para levantar a mão e dizer o que pensava quando tinha um bom ponto, mesmo que as minhas bochechas ainda corassem com a atenção.

Em fato, eu adorava aquela aula. Eu adorava o modo como ela nos fazia pensar e nos empurrava para não nos conformarmos com repostas rasas, argumentos simples. Ali, nós éramos desafiados a realmente refletir sobre os assuntos, de maneira profunda e inteligente. E eu me esforçava para isso. Embora minha participação verbal fosse mais limitava, eu certamente entregava tudo de mim em meus trabalhos escritos, colocando esforço e dedicação máximos em cada palavra posta no papel.

Aquela era uma aula, entretanto, onde nos sentávamos em duplas e o trabalho com seu parceiro era fundamental em alguns momentos. Eu havia sido colocada com a mesma dupla desde o primeiro ano e Caroline e eu havíamos nos tornado de certo modo amigas. Ela era fácil de conversar e tão dedicada como eu, de modo que trabalhar com ela não me dava dores de cabeça. Meus dias de sorte, entretanto, haviam se encerrado, uma vez que Caroline estava se mudando para o outro lado do país com sua família, de modo que eu não tinha mais uma dupla e, por isso, quase temia que tipo de novo arranjo o sr. Daniels faria para mim.

Naquela tarde de segunda-feira, eu me sentei em meu lugar habitual, exatamente cinco minutos adiantada, e esperei o sinal tocar. Eu assisti meus colegas de classe adentrarem a sala e ocuparem suas respectivas mesas, a maioria conversando entre si e com os celulares em mãos. Às vezes, quando estava sozinha, eu pegava meu celular também, apenas para parecer ocupada, mesmo que na realidade ficasse apenas entrando e saindo de aplicativos sem fazer algo concreto de fato. Foi o que eu fiz naquele momento, baixando a cabeça e rolando por tweets que eu já havia lido até ouvir a som alto do sinal e então o sr. Daniels entrando na sala, fechando a porta atrás de si.

- Ok, pessoal, vamos começar! - ele disse, chamando a atenção da turma. Enfiando meu celular de volta na mochila, eu voltei meu foco para a frente da sala, onde meu professor estava correndo os olhos pelo papel que estava em sua mão. Ele analisou-o por um segundo antes de se endireitar e continuar - Antes de tudo, nós temos um novo aluno nessa turma. Senhor Hunter Collins?

A maioria das cabeças, incluindo a minha, virou-se para procurar o novo aluno assim que o sr. Daniels chamou pelo nome. Eu não conhecia nenhum Hunter Collins, mas o garoto com a mão erguida sentado a alguns metros de distância definitivamente era familiar. Ele tinha cabelo castanho chocolate e olhos cinzentos impossíveis de não notar. Duas pequenas pintas marcavam sua maçã do rosto esquerda, a única que eu conseguia ver e um moletom cinza cobria seus ombros largos. Então, quando eu vi a bolsa esportiva com o logotipo do time de lacrosse, percebi exatamente de onde o reconhecia.

Era muito raro que houvessem jogadores de lacrosse naquela aula, mas eles apareciam ocasionalmente, alguns mais empenhados do que outros. Hunter Collins, por enquanto, era uma incógnita nesse aspecto.

The Colors BetweenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora