Prólogo

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"Quanto mais você corre do clichê, mais tem a chance de ele acontecer.".

Não sei onde li isso ou se foi Jessica quem me disse, mas quando senti um frio na barriga em um calor de 40 graus no Rio de janeiro, de alguma forma eu sabia que aquele cara seria o maior clichê que já vivi na vida, e não seria nada bom.

Não me lembro exatamente o que a mãe de Jessica nos pediu para comprar no mercado, nem por que eu levei alguns minutos parada na porta enquanto minha amiga colocava uma embalagem quadrada em uma sacola, mas tenho certeza que observava a rua sem pretensão alguma de me apaixonar.

Fazia muito calor e a rua estava relativamente cheia por ser fim de semana. A probabilidade de chuva era quase nula, assim como a minha vontade de cair no maior clichê do mundo: amor à primeira vista. Mas quando vi aquele cara passar com vários outros caras ao seu redor em uma conversa animada, todas as minhas chances de ser uma solteira sem ninguém para amar terminaram. Sua pele branquinha, seu cabelo aparentemente recém cortado, alargador nas duas orelhas e seu jeito doce de levar meu coração debaixo do chinelo enquanto passa e não percebe que o estou amando era tudo o que eu precisava para quase babar nessa cena.

— Mais um pouco e ele percebe. Está quase babando!

Minha única e melhor amiga conseguia estragar momentos dignos de novela apenas com algumas frases. Após ele virar em uma rua e eu não conseguir mais vê-lo, reviro os olhos frustrada por ter sentido algo tão forte por um desconhecido.

— Qual a chance de eu ficar com ele?

Jessica pensou na minha pergunta, colocou o braço junto ao meu e andamos juntinhas. Não sei se eu estava ficando louca ou aquele sol tinha torrado meu lado sensato, mas eu queria aquele cara.

— Não sei, mas só te digo uma coisa: hoje é dia de stalkear! Olha ali.

Jessica apontou com a cabeça para um bar que frequentamos algumas vezes. Quando olhei, meu futuro namorado estava lá com os amigos, conversando com o atendente cujo nome eu sabia e tinha no Facebook. Sorri ao ver de longe aquela conversa animada, certa de que pelo menos o nome eu iria descobrir.

O plano de Internet Wi-Fi de Jessica não era dos melhores, então após dez minutos tentando carregar a página do Facebook e mais dez procurando por Diogo Teixeira, conseguimos entrar no álbum de fotos. Levamos uma hora procurando entre milhares de fotos de festas alguma que me levasse ao rosto do cara que amei fervorosamente hoje.

— Aqui! É esse, Jessica!

Eu estava tão empolgada que quase fechei a aba do computador. Lá estava ele com Diogo e mais três amigos. Aquele sorriso que fiquei encantada era a coisa que mais chamava a atenção na foto. Cliquei nas marcações e agora aquele rosto incrível tinha um nome: Ítalo Moraes.

— E então? Fazemos o tipo obsessivo e mandamos mensagem ou só um convite como "o Facebook sugeriu para mim"? — Jessica me fitava com o cursor em cima do "adicionar amigo".

Fiz o segundo tipo e em questão de poucas horas ele me aceitou. Não gosto de jogos, mas fiquei esperando ele me mandar uma mensagem. Não queria parecer desesperada por atenção, mas que mal tinha? Era exatamente isso que eu estava sentindo. Eu queria conversar com Ítalo. Chega a ser bom repetir o nome dele, mas resolvi esperar.

Era sete horas da noite, a lua estava cheia e meu ventilador no três não era o bastante para o calor que estava fazendo. Peguei o meu travesseiro, joguei no chão e arranquei a minha blusa, ficando apenas de sutiã deitada naquele piso, maravilhosamente, frio. Estava vendo imagens no Pinterest quando um bip mostrou uma mensagem de Ítalo. Senti todo o meu estômago revirar e respondi mais rápido do que eu pretendia.

Nossas conversas passaram de normais para "me conta sobre você" e depois quando eu já estava acostumada a falar todos os dias, se tornaram vácuo. Primeiro interessado, depois desinteressado. Eram tantos vácuos que resolvi não estar disposta a forçar uma comunicação.

Vi ítalo mais vezes na rua. Sempre com um sorriso lindo no rosto fazendo eu invejar todos os filmes e livros românticos. Embora nossos caminhos se cruzassem tantas vezes, eu sabia que minha vida não era um conto de fadas hollywoodiano, e com meus cabelos enrolados e minha pele cheia de melanina que brilha sob o sol carioca, eu sou completamente diferente da Lily Collins. E Ítalo, alheio à minha existência, seguia sempre sem notar a minha presença.

Eu tentei, não deu certo, e está tudo bem. Parei de chamar. Ítalo Moraes vai ficar no passado. Não quero mais saber.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Where stories live. Discover now