Os dias iam passando e, mesmo a dor não diminuindo, estávamos conseguindo ficar mais fortes por causa do Valentim.
Antonella bateu na nossa porta às três e meia da tarde. Ítalo estava arrumando a casa e eu tinha acabado de dar banho no Valentim. Ela nos contou que Yara era sua grande amiga desde o ensino médio. Disse que foi ela quem insistiu com a terapia e, depois de muita pressão e argumentos aceitáveis, resolveu concordar. Afirmou que passou boa parte da infância ajudando Yara, mas se mudou para outro país e, quando voltou, o contato não era o mesmo. Perguntei se ela é formada em algo e ela sorriu, dizendo serviços sociais. Ítalo questionou sobre o teatro e ela se defendeu, explicando que realmente trata casais com problemas através de uma terapia alternativa. Ela disse que começou para conseguir um dinheiro extra e que seus amigos pediram, mas quando percebeu já estava ajudando muitas pessoas, então continuou. Yara pediu que ela ajudasse e assim fez. Não houve pagamento.
— Ítalo é praticamente da minha família. Sabia que podia ajudar. Foram conselhos de uma tia.
Ele não questiona mais e nem fica bravo. No fim, temos mais alguém para confiar. Antonella diz que podemos continuar com a terapia e nós concordamos. Ela resolve denominar como uma conversa íntima e soa melhor assim. Ela fez um bom trabalho, apesar da raiva que senti nas suas insistências sobre Rômulo.
Quando vai embora, a casa fica novamente silenciosa. Ítalo arruma obsessivamente cada canto e passa a chave no quarto de Yara. Quer deixar o cômodo assim. Não quer mais entrar. Não quer mais olhar. Não quer mais sofrer. Os dias transcorrem em uma imensa tristeza.
O primeiro mês sem Yara foi tão triste que Ítalo confessou que se o Valentim não existisse, ele se mataria. Fico mal por ele e estou aqui sempre que precisar, mesmo quando ele não precisa. A vida pode continuar sendo boa quando alguém importante parte. Só estou tentando descobrir como.
Quando insisto que ele precisa sair um pouco, ele diz que vai passar a tarde na casa de Bernardo e me chama para acompanhá-lo. Digo que vou ficar na casa dos meus pais e ele não insiste. Se Bernardo tivesse aparecido em outra época, tudo seria diferente, mas eu amo Ítalo e estou aceitando muito bem esse sentimento. Bernardo virou apenas um amigo muito importante para mim. Ítalo não sente ciúmes dele.
— Dá tchau para o papai. — Seguro a mão do Valentim e balanço, fazendo uma voz fina. — Tchau, papai!
— Você é louca!
Ítalo está rindo com as minhas palhaçadas e eu não me importo em ser chamada de louca se é para ver aquele sorriso outra vez. Ele beija a cabeça do nosso filho e me dá um beijo rápido. Sinto o cheiro bom de seu perfume quando fica perto demais.
Quando chego à casa dos meus pais, vejo Jessica me esperando com um imenso sorriso.
— Meu príncipe! — ela diz, tirando o Valentim do meu colo.
Valentim passa a tarde inteira sendo mimado por Jessica e meus pais. Quando consigo ficar sozinha com minha amiga, resolvemos colocar o papo em dia. Faz um bom tempo que não conversamos sobre a vida. Tenho sentido falta disso.
— Adivinha quem vai estudar em uma faculdade federal?
— Ai caramba, parabéns!
— Valentim necessita de uma tia rica pra dar passagem para a Disney no aniversário dele.
— Precisa mesmo.
— Só tenho que descobrir como ficar rica cursando filosofia — ela brinca. — Como está o relacionamento de você e Ítalo sem a Yara por perto?
Suspiro. Falar dela me deixa com uma sensação estranha. Queria que ela estivesse aqui cuidando de tudo e me fazendo rir.
— Ítalo está muito triste! Mas nosso relacionamento está bom. Não brigamos sério ainda.
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Quando estiver sóbrio (COMPLETO)
Teen FictionAdolescência pode ser a fase mais divertida da vida, mas, quando algo sai fora do programado, ela se transforma em algo bem difícil. Julia não sabia se deveria acreditar ou não em amor à primeira vista, mas bastou uma única vez para ela pensar em Ít...