18ª dose

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E o meu chute é que a vida só é boa quando a gente arrisca.

Ítalo conseguiu um emprego em uma loja de informática, o que significa que ele está passando menos tempo em casa. Agradeço mentalmente a algum dos seus trinta amigos por isso, pois não preciso mais ficar olhando para ele vinte e quatro horas por dia. Isso é bom para minha alegria, conforto, paciência e para pagar pelas novas consultas e exames que precisamos. Realmente estávamos precisando dessa mudança.

Minha barriga está cada dia maior e aproveitei o fato de Ítalo agora estar trabalhando para retomar o assunto delicado. Durante a primeira semana, abordei Ítalo sobre a questão do exame de paternidade. Investi horas em pesquisa sobre o assunto, imprimindo meticulosamente tudo o que julguei relevante e deixando o material em cima da mesa do computador para ele ler. No entanto, apesar do meu esforço em oferecer uma explicação detalhada, Ítalo demorou uma semana inteira para percorrer as dez páginas de pesquisa. Incluí relatos pessoais, informações sobre o primeiro teste realizado, comparações entre os dois tipos de exame, entre outros detalhes. Sua reação, porém, foi questionar minha sanidade, enfatizando repetidamente a palavra 'invasivo', enquanto mencionava apenas uma vez, em tom quase inaudível, que o outro tipo de teste era muito caro, embora tenha acrescentado que estaria disposto a arcar com o custo, caso fosse necessário. Achei que ele poderia considerar solicitar um empréstimo ou concordar com o exame mais invasivo, mas, para minha surpresa, ele apenas deu de ombros e classificou tudo como uma bobagem.

— Depois de tudo o que aconteceu, me mostrar essa pesquisa é subestimar minha capacidade de ser um canalha, não acha? — ele diz.

— Como assim? — questiono.

Ele solta uma risada e passa a mão na cabeça.

— Eu te engravidei, ué. Ponto final, Julia.

— Ítalo...

— Julia — ele me interrompe. — Eu acredito em você. Agora admito que só li os dois primeiros parágrafos.

Ele ri e eu cedo. Fim de história. Ponto final. Caso resolvido.

Acordo um pouco mais cedo, percebendo a ausência de Ítalo na cama ao meu lado. A presença dele se tornou tão familiar que agora parece estranho acordar sem ele ali. A cama de casal, que antes parecia espaçosa demais, agora parece um pouco pequena para nós três. Com o dia frio lá fora, pego uma coberta e vou para a sala, onde me deito no sofá para assistir ao filme "Diário de uma Paixão" com Yara.

— Viu? Eles brigam, mas se amam — Yara comenta, concentrada no filme.

Penso em expressar as diferenças entre a história do filme e a minha própria, mas opto por ficar em silêncio. Não estou interessada em abordar temas sobre amor e toda a confusão que ele traz. É um fato que não amo Ítalo, e ele não me ama. No início da semana, decidi retornar para minha casa, mas quando estava prestes a partir, Ítalo chegou da rua contando todo animado que conseguiu um emprego, então pensei em ficar um pouco mais aqui já que nossa convivência vai ser menor.

Tivemos uma conversa séria alguns dias atrás. Não houve gritos, choro, xingamentos, nada disso. Apenas sentamos e conversamos como adultos. Perguntei se ele se sentia desconfortável comigo invadindo sua casa, seu espaço e sua vida. Recebi uma resposta negativa e novamente ouvi ele usar minhas palavras sobre tudo estar acontecendo rápido demais. Consideramos isso como um entendimento mútuo e uma trégua. Tentaremos evitar brigas.

Eu ainda estava na sala quando deu sete horas. Ítalo sai do trabalho às seis da noite, mas o trajeto até em casa demora uma hora.

— Olá! — ele diz ao abrir a porta.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora