5ª dose

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Talvez possamos começar outra vez.

Todo mundo conhece um cara ou uma garota que faz de tudo para ser o engraçadão na frente dos amigos. Aqueles que acham que as piadinhas de mau gosto e pequenas, talvez grandes, humilhações fazem eles subirem algum ranking de popularidade. Talvez seja a nossa culpa de sempre aplaudir os filmes que a pessoa mostra popularidade humilhando alguém. Glamourizamos tanto isso, mas quando é na vida real percebemos que o popular é só mais um otário ou otária que não liga para os sentimentos de ninguém e que precisa urgentemente de terapia, e não de um amor.

Ítalo tem dezoito anos e ficou em primeiro lugar no ranking da popularidade quando resolveu me humilhar, mas sozinho, provavelmente em seu quarto, me mandou mensagem às sete da manhã querendo conversar. Se eu não estivesse grávida, não o encontraria, mas eu estou e quanto mais rápido eu souber como agiremos nessa situação, mais rápido meu coração vai voltar a bater de forma normal.

Eu não sei onde ele mora, então marcamos próximo a uma padaria. Ele demorou vinte minutos para chegar. Nada de pontualidade. Ítalo beijou a minha bochecha em uma simpatia quase agradável. Quando ele se afastou, mexendo em seu cabelo preto bem fino, percebi seu rosto com uma linha bem aparente. Provavelmente a marca de alguma coberta ou do seu travesseiro.

— Dormi demais, foi mal. — constatou o que eu já sabia.

Não ri. Não respondi. Não caí de amores. Ítalo andou na minha frente como se tivesse medo de alguém nos ver juntos e eu andei atrás prestando atenção em como sua camisa se ajustava perfeitamente em seus ombros largos.

Ele mora com a avó e ela saiu bem cedo para ir à feira e depois bater um papo com uma amiga, então somos só nós dois, ele disse.

Ítalo abriu o portão e, como o oposto dos filmes, andou na frente me deixando para trás enquanto eu fechava o cadeado duro demais para um portão visivelmente novo. Sua varanda é grande e vasos de plantas estão por todos os lados: uns pendurados no teto e outros na mureta. Tirei os chinelos deixando-os no tapetinho da entrada, mas antes reparei na frase: "volte quando trouxer cerveja.".

A cara dele mesmo.

Ítalo bate no interruptor e liga o ventilador de teto. Me sento no sofá sem paciência alguma de fazer cerimônia e, quando ele senta no outro, puxa sua camisa para cima deixando-a de canto. A pele clara de Ítalo dá um contraste perfeito à minha pele escura. Observo seu peitoral e seu abdômen magro. Sua bermuda um pouco para baixo revela o começo de uma cueca boxer vermelha. Quando olho suas mãos finas e brancas, sinto uma vontade enorme de entrelaçar meus dedos ao dele.

— Podemos começar ou você quer continuar olhando o meu corpo. Se quiser eu posso tirar a roupa. — ele rir mostrando o canino levemente maior que os outros dentes.

Tento manter o foco e não me apaixonar novamente.

— Aqui! — Entrego o exame Beta HCG a ele. — Você se lembra de algo?

— Não muito, mas o meu pescoço deu sérias evidências que a transa foi boa. — reviro os olhos e ele continua. — Refresca a minha memória. Ainda não sei direito como o meu espermatozoide encontrou seu óvulo, e tudo mais se usamos camisinha.

Tudo em Ítalo é irritante. Queria que ele falasse sério pelo menos uma vez.

— Eu também tinha marcas e ia muito além do pescoço. — Tento recuperar o foco. — Transamos com camisinha, mas, em algum momento, ela estourou e não percebemos. Eu tomava pílula também, mas tive que tomar um antibiótico por causa de uma otite e, em nenhum momento, fui alertada que isso faria o efeito diminuir ou simplesmente não existir.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora