37ª dose

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Decidi dar um tempo para a minha mente. Ítalo, por mais que esteja magoado, não precisa de mim. Conversei com os meus pais e com Jessica, e sei que tenho que aproveitar esse momento de paz para colocar as ideias no lugar e curtir o fim da gravidez. Se Ítalo estiver se sentindo triste, ele pode chamar um de seus amigos. Eu não posso fazer o papel de porto seguro se nem consigo ficar em paz sozinha.

Hoje é o dia da foto dos oito meses e, pela primeira vez, estou nervosa. Todos os meses, desde o primeiro, Ítalo, Yara, meus pais e eu nos juntamos e tiramos uma foto. Depois, eu revelo e colo em um álbum, escrevendo a data à mão embaixo da foto e destacando os meses em letras grandes ao lado. Fazemos isso todo mês. Mas não foi fácil convencer Ítalo. Só depois que Yara pediu, ele cedeu e acabou virando algo normal.

Quando você fica grávida, alguns clichês passam a ser necessários na sua vida. Registrar os meses através de fotos era algo que eu considerava o mais brega de todos. Achava que era só esperar os nove meses e pronto. Não precisava de festa, mas agora eu sou a pessoa ridícula que agradece pelas contrações de Braxton Hicks terem novamente dado uma trégua para tirar a oitava foto. Não achei tão ridículo assim quando me toquei que nunca mais vou ter o Valentim em minha barriga.

— Pensei que você não iria mais aparecer — Rômulo diz, em um tom de deboche.

Acabo de chegar na casa de Ítalo e respiro fundo, repetindo em pensamento que ele não disse nada. Não vou me estressar hoje. Cansei das piadas de Rômulo e do seu jeito de querer me envolver em tudo. Ítalo está no quarto. Depois de dar um beijo em Yara, que está deitada no sofá, vou até ele.

— Rômulo parece me odiar — falo ao fechar a porta atrás de mim.

— Não liga!

Ítalo está desenhando algo, mas não me deixa ver o papel.

— Valentim está agitado hoje.

Me sento ao lado dele na cama, puxando sua mão para a minha barriga. Adoro sentir seu toque. Sua mão sempre quente em contato com meu corpo faz com que eu fique arrepiada rápido. Não menti dessa vez. Valentim está realmente agitado. Ele se revira na minha barriga, dando chutinhos como se estivesse ansioso para sair e explorar o mundo logo.

— Já sei que ele vai curtir uma festa que nem eu.

— Oh meu Deus, o que eu fiz para merecer isso? — brinco.

— Quer que eu diga? Você transou comigo!

— Ah não! Filho não escuta isso.

Estamos rindo quando Rômulo abre a porta do quarto sem ao menos bater. Abaixo a cabeça, pois meu semblante mudou. Não gosto dele e não consigo disfarçar.

— Que felicidade!

— Sai daqui — Ítalo grita.

— Por quê? Momento família.

— Não sou da sua família! — Ítalo continua gritando.

— Quanto rancor.

Eu fico apenas quieta, observando o jeito irônico de Rômulo. Não posso negar que Ítalo puxou muito esse jeito, mesmo não sendo criado por ele. No entanto, essa é uma coisa que nunca vou admitir. A semelhança entre os dois é impressionante, mas prefiro guardar isso para mim.

— Um rancor de dezoito anos.

— Quero me redimir. Sei que fui errado ao te deixar, mas agora é outra situação. Você já é um homem. Vai me entender.

— Sai do meu quarto!

Ele sai sem dizer mais nenhuma palavra. Ítalo levanta com pressa e tranca a porta. Suas mãos tremem.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora