29ª dose

788 98 25
                                    

Meu filho parecia estar pressionando minha bexiga, me fazendo ir ao banheiro de cinco em cinco minutos. Não consegui dormir direito. Fiquei pensando no beijo de Bernardo a noite inteira. Naquela noite, ficamos um bom tempo no carro. Nos beijamos mais vezes. Jessica tinha razão quando dizia que eu precisava me divertir e não ser apenas mãe. Pensei em tudo o que tinha acontecido naqueles quase sete meses e decidi que era hora de dar uma chance à vida. Tinha passado tempo demais sofrendo, me sentindo a pior pessoa do mundo por ter engravidado e pensado que minha vida tinha acabado. Agora, isso tinha ficado para trás. Não quero mais me estressar e desejo finalizar minha gravidez com a maior paz que conseguisse.

Passei a sair com Bernardo. A terapia estava sendo um fiasco, então, após uma única frase em que basicamente eu dizia que aquilo não estava sendo útil, Ítalo concordou em guardar as sessões restantes para outro momento. O bom é que Antonella concordou plenamente, então não precisei usar todas as frases que tinha treinado na frente do espelho.

Bernardo me faz bem. Me sinto viva com ele como há muito tempo não me sentia. É algo diferente. Eu sei que minha vida está de cabeça para baixo por causa da gravidez, mas com ele é como se eu conseguisse arrumar algo. Tudo fica no lugar certo. Volto à época de estar com alguém, sair, aquele medo de estar com a boca suja, a escolha do batom certo. São coisas fúteis pelas quais ninguém deveria se desfazer na vida. São esses nervosismos fúteis que me fazem chegar em casa com um enorme sorriso todas as vezes que saio com ele. Há dias em que não choro. É um grande progresso.

Julia: Sete meses! :) - 12:14

Envio a mensagem para Bernardo e fico pensativa. Quero encaminhar a mesma mensagem para Ítalo ou escrever uma mais fofa contando que falta pouco para o nosso filho nascer, mas não sei se ele quer papo comigo, então reprimo minha vontade de puxar assunto.

Bernardo: Pooorra! \o/ Vamos no shopping? - 12:17

Julia: Fazer o quê? - 12:20

Bernardo: Comprar uma roupa bem foda para esse moleque aí. - 12:25

Julia: Te espero aqui :) - 12:27

Andamos lado a lado no shopping. Senti a mão de Bernardo encontrar a minha e sorri ao olhar, discretamente, nosso reflexo na vitrine de uma loja. Ele não parece ter vergonha de alguém nos ver juntos. Quando passa ao lado de um grupo grande de pessoas, ele não muda a postura. É como se elas não estivessem ali. É bom ter a companhia dele. Antes de sair de casa, mandei uma mensagem para Jessica contando. Ela ficou toda animada e insinuou que estamos virando um casal. Não é bem assim. Acho que não. Nem faz um mês que estamos saindo.

Andamos o shopping praticamente todo. Nosso destino certo era a loja de bebê, mas ele queria fazer um tour por um shopping que eu conheço até quem joga papéis de bala no chão. Mas eu não tenho nada a perder, então topei. A mão quente dele envolvendo a minha foi o melhor motivo para eu aceitar o passeio de quase uma hora antes de entrarmos na mesma loja de roupas de bebê que vim com Jessica, Yara e minha mãe.

— Quer uma ajuda, senhora?

É estranho ser chamada de senhora com apenas dezessete anos, mas eu sei o que eles imaginam: uma grávida casada. Tenho que me acostumar com esse termo. Nego a ajuda com a cabeça e continuo olhando as roupas. Cada peça que Bernardo levanta, ele faz alguma gracinha. Estar com ele é leve. Estou me divertindo bastante e meu bebê também, já que não para de se mexer. Por um momento, eu quis que Bernardo fosse o pai do meu filho. Pelo menos não iríamos brigar. Mas, como não posso mudar isso, aceito Ítalo, sabendo que ele, apesar de tudo, será um bom pai.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora