17ª dose

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A paz que procuro deve vir primeiramente de mim.

Consegui ficar em paz por uma semana inteira. Não tão em paz assim, porque logo que acordei após minha crise de choro, entrei no meu Facebook e vi a besteira que eu fiz. A foto que postei da ultrassonografia teve mais de cinquenta curtidas e mais de vinte comentários. Eu tinha dado um tempo das redes sociais e deveria ter continuado assim. Várias pessoas da escola comentaram surpresas com a minha gravidez. Nenhum comentário ruim, mas fiquei tão envergonhada que decidi não frequentar mais as aulas este ano.

A diretora tentou me ajudar. Ela me deu alternativas e explicou meus direitos. Gostaria de dizer que vou conseguir concluir este ano, mas não tenho conseguido prestar atenção nas aulas, nem em nada. No próximo ano, vou voltar e me dedicar mais.

Ítalo passou a semana inteira na casa de Diogo. Ouvi a avó dele falar algumas vezes ao telefone, questionando quando ele iria voltar e se ele tinha decidido me deixar sozinha. Tenho percebido um estresse toda vez que Yara pensa que Ítalo vai embora e me deixar grávida. Não sei o que aconteceu com ele, mas esse medo que ela tem me faz juntar algumas peças, e estou quase entendendo tudo.

Passei a semana inteira dormindo sozinha e, o mais inacreditável — e o que eu não pretendo confessar em voz alta — é que me acostumei a dormir com Ítalo. Me acostumei a acordar algumas vezes de madrugada e olhar para ele dormindo tão perfeitamente, como se fosse um personagem de filme clichê.

Estou me sentindo mal pelo que aconteceu. Eu sei que o Ítalo está errado, mas não quero ficar brigando com ele assim. Também me sinto um pouco culpada. Refleti sobre tudo o que aconteceu e sinto que deveria pegar menos no pé dele. Apesar de ele ter concordado em me ter aqui, nós não somos um casal. Não preciso agir como se fôssemos.

Quando chegou segunda à noite, Ítalo chegou e não me disse nada. Me ignorou completamente, mas eu fingi não ligar. Apesar de também estar errada, acho um pouco demais ficar com alguém no quarto onde eu durmo. Me coloquei no lugar dele várias vezes e em nenhuma delas eu teria feito o mesmo. Ítalo me magoou bastante e ainda estou pensando no que irei fazer com a minha vida. Não posso mais ficar aqui e nem invadir o espaço dele. Apesar de me sentir em casa, eu não estou. Essa é a casa de Ítalo Moraes.

Eu já estou com quase quatro meses e meio de gravidez, e agora minha barriga é visível para todos. Minhas roupas, que antes me serviam perfeitamente, estão começando a ficar apertadas. Tive que recorrer a vestidos e blusas largas para me sentir confortável. As mudanças no meu corpo são cada vez mais evidentes, e isso me lembra constantemente da nova vida que está crescendo dentro de mim. À medida que minha barriga cresce, também cresce a ansiedade e a incerteza sobre o futuro. Estou tentando me acostumar com a ideia de ser mãe, mas ainda não sei como lidar com todas as responsabilidades e desafios que virão com ela.

Venho enrolando, mas é hora de contar para Jessica que não irei mais estudar. Ela fica mal de início, protesta um pouco, mas logo entende. Eu preciso de um tempo. Seria inspirador escrever aqui que fui à escola, tirei boas notas, me formei e tudo isso durante a gravidez, mas essa não é a minha história, então não posso contá-la. Eu desisti da escola logo quando as coisas ficaram difíceis e não me orgulho, pois sempre fui uma boa aluna. Mas vou me formar quando o bebê nascer. Espero que até lá as coisas fiquem mais fáceis. Decidi priorizar minha gravidez agora.

Fui até o Morro do Riacho para passar um tempo na casa de Jessica. Passei a tarde inteira lá e quando estávamos saindo, avistei Patrícia, a garota mais idiota da minha turma, parada na praça. Ela abriu um sorriso falso quando me viu e se aproximou olhando para a minha barriga. Solta algumas piadinhas, mas finjo não ligar. Pergunta se sei quem é o pai, como se fosse eu quem andasse com a escola inteira, mas antes que pudesse responder, Jessica já está mandando ela ir para alguns cantos impróprios demais para citar. Conseguimos sair e ir embora após ver sua falsa indignação e cara de coitadinha. Fiquei um pouco incomodada de alguém me ver pessoalmente do jeito que estou, mas venho tentando modificar meus pensamentos. Isso não é algo pelo qual eu precise me envergonhar. A irresponsabilidade é só minha e de Ítalo. A plateia não me intimida mais.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora