Capítulo 40 - Novas Decisões

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Alex


Saí da reunião atordoado.

Estar no meio dessa loucura estava testando os meus limites. Agora, além de lidar com as mentiras que me contaram desde que nasci, eu tinha que mentir também.

— Alex? — Uma voz grossa me chamou quando estava prestes a entrar no elevador.

— Sim? — Me virei vendo Anthony parado na minha frente. Sua feição assustava qualquer um.

— Não preciso nem dizer que essa reunião nunca aconteceu, correto? — Ele iniciou — Ninguém pode saber, Alex — Acenei a cabeça lentamente —, nem se quer mencione isso quando estiver sozinho, pois você já percebeu que aqui as paredes tem ouvidos e as fofocas correm rápido. — Me encarou com um olhar sarcástico. Eu sabia muito bem do que ele falava.

Não vi Elisabeth depois daquele episódio, e embora precisasse dela naquele momento para desabafar, dormi tranquilamente só por saber que meus amigos estavam em segurança. Durante a noite eu tive a sensação de estar sendo vigiado, como se alguém estivesse me encarando ao pé da minha cama. Consegui ver uma sombra quando assustei, mas não sei ao certo se era um sonho ou realidade, mas serviu para que eu não pregasse o olho o resto da noite. Assim que o relógio despertou, apontando três e meia da madrugada, eu revirei os olhos levantando e me preparando psicologicamente para o meu primeiro treino que começava em meia hora.

Enquanto atravessava o labirinto que era aquele lugar, pensava em desistir de me envolver nessa história, e ao ver a Nataly ali parada, de costas para mim, conversando com uma enfermeira da agência, me fez recuar. Eu não estava pronto para aquilo. E nunca estaria. Depois das palavras dela na reunião, eu realmente achei que conseguiria estar em um mesmo ambiente que ela, mas agora eu só queria voltar para aquele quarto horrível. Porém quando estava me virando para sair a tal enfermeira já estava passando por mim com um sorriso forçado e um bom dia bem alto para que Nataly percebesse a minha presença.


Nataly

Após a reunião eu estava sem chão. Anthony havia me convocado na sala dele para esclarecer o áudio. Ele ainda duvidava da minha lealdade, mas não queria que soubessem, pois iriam querer a minha cabeça em uma bandeja. O único motivo para aquela reunião ter acontecido foi porque Mauricio entregou o áudio para a agência brasileira também, pois ele sabia que se tivesse vindo apenas para nós ninguém mais saberia. E o propósito dele tem sido me afastar dessa missão e ter a todos desconfiando de mim.

Após duas horas de interrogatório — Que eu apenas aceitei sem questionar, já que ultimamente a minha situação não tem sido das melhores por aqui —, eu cheguei ao meu quarto, exausta e apaguei.

No meio da noite eu tive a sensação de estar sendo observada e assustei com uma sombra se esgueirando para fora do quarto, rapidamente peguei minha arma que se encontrava debaixo do travesseiro e corri para fora do quarto pronta para atirar no que estivesse pela frente, mas quando sai, o corredor estava completamente vazio. Respirei fundo e parei para raciocinar que era impossível alguém ter entrado ali sem antes passar por toda a segurança dos corredores, então só podia ser um sonho. Logo voltei para o quarto para tentar dormir, mas não obtive sucesso. E assim que meu despertado tocou para que eu acordasse, eu já estava saindo do quarto em direção à sala de treinos. Aproveitaria esse tempo livre, antes da tortura começar, para poder descarregar minha raiva em algum saco de pancadas.

— Por que será que eu tinha plena certeza de que te encontraria aqui uma hora dessas? — Anna disse escorada no batente da porta, interrompendo meu treino que começara a uns vinte minutos.

— Não te ensinaram a bater na porta antes de entrar? — Seguro o saco de pancadas que antes eu socava.

— É uma área totalmente de vidro — Mostrou ao redor — Da para ver qualquer um antes mesmo que ele decida entrar aqui.

— Tá bem! — Revirei os olhos — O que você quer? — Voltei a golpear o saco de panada.

— Que você pare com esses treinos malucos e comece a tomar seus remédios, ou você não vai aguentar encarar aquele garoto sem sentir uma vontade absurda de vomitar.

— Quem te contou que eu vou treiná-lo? — Perguntei desconfiada virando para ela.

— Diego?! — Disse como se fosse óbvio.

— Tudo bem! — Disse pegando minha garrafa de água.

Após beber dois comprimidos e ela me explicar quais remédios eu devia tomar e suas determinadas horas, ela se despediu e saiu pela porta do outro lado da sala, onde parou para falar com alguém.

— Bom dia, Senhor! — Ela falou alto trazendo minha curiosidade à tona.

Virei a tempo de ver Anna saindo e Alex parado me encarando. Acho que ficamos ali, congelados, encarando um ao outro durante minutos ou talvez horas, sem falar nada, apenas sentindo toda a dor que a nossa separação trouxe.

Na minha mente só vinham imagem dele sorrindo ou dizendo eu te amo. A nossa primeira vez. A nossa briga. O pedido de casamento que nunca aconteceu. — Um nó se formava na minha garganta — Cada toque. Cada suspiro. Eu só queria poder voltar no tempo e reviver esses momentos incríveis. Sem mentiras, sem brigas, apenas eu e ele. Eu só queria poder gritar e dizer que ainda o amo, que eu estou carregando um filho dele, e que se ele quisesse, eu fugiria com ele naquele instante para bem longe daqui.

— Desisto! Isso não vai dar certo! — Alex disse negando com a cabeça freneticamente. Uma lágrima desceu pelo seu rosto quando ele voltou a me encarar.

— Concordo! — Disse me virando para pegar minhas coisas que estavam em um canto da sala, segurando as lágrimas que tentavam a todo custo descer. Assim que peguei meu celular uma mensagem de Diego apareceu. Eram exatamente quatro da manhã.

"Lembre-se do que isso se trata. Lembre o motivo de estar nessa sala com ele agora. Não é sobre o que vocês sentem um pelo outro. É de como você vai se sentir se desistir agora e deixar Mauricio fazer o que bem entende com um garoto despreparado."

Olhei para o celular e respirei fundo tentando controlar as lágrimas. Estar sem ele ao meu lado doía muito, mas só a sensação de saber que ele poderia morrer, me matava por dentro. E com isso, eu não podia viver.

— Quer saber? — Levantei me virando para ele que já estava para sair — Se você quer desistir, — Ele finalmente me encarou — você vai desistir sozinho. — Joguei minhas coisas no chão e cruzei os braços. Nesse momento eu nem sabia mais de que desistência eu falava. — Aqui, eu sou apenas uma agente de campo especializada, cumprindo uma punição por infringir a regra mais importante da agência, que é não revelar a nossa identidade a um civil. E você é apenas mais um civil a ser treinado para combate em campo especializado. — Não sei como fazia para segurar as lágrimas, mas eu ainda as segurava — Eu vou ser a sua mentora, quer você queira ou não. Eu vou fazer o meu trabalho e pouco me importo se você fará o seu. 

S.W.A. 1 - As Mentiras De Uma VerdadeWhere stories live. Discover now