Capítulo 29 - Problemas

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Lewis

Infelizmente, fui embora quando as minhas roupas secaram. Ace disse que estaria em risco se eu ficasse lá. Não é pra menos, permanecemos nos pegando até a meia noite.
Acabei gozando por acidente, logo sujando a cueca boxer que Ace vestia. Eu fiquei envergonhado, é claro, ele riu da situação, mas acabou me expulsando da sua casa. Valeu a pena.

Quando cheguei, fui imediatamente ao meu quarto para estudar, ou tentar estudar, caso Ace decida sair um pouco da minha mente, para uma prova que haverá nessa semana. Minha mãe ou meu pai não vem a porta do meu quarto para perguntar por que voltei para casa tão tarde, eles devem achar que vou dar uma das minhas crises de "eu mando em mim mesmo!", mal sabem eles que estou muito feliz para gritar com alguém.

Eu até tento saber as vezes como acabei gostando tanto de Ace. O quê de tão especial nele me atraiu? Tudo, talvez?
Quando nos conhecemos, numa aula chata de biologia, eu jamais poderia imaginar que o garoto andrógino que andava com a garota que eu era afim, futuramente seria a pessoa que mais amo no mundo.
Eu disse "oi" para Ace enquanto ele estava muito concentrado numa página do livro que informava algo que não tínhamos que estudar, eu estava inseguro, tentando passar a impressão séria de "eu não gosto de garotos, não confunda as coisas", quem diria, Lewis...
Lembro como se tivesse acontecido ontem, Ace me responde a mesma palavra, no mesmo tom.
Nós desenvolvemos uma amizade, e então acabei esquecendo do meu plano idiota de conseguir Lexi, em específico, com a sua ajuda. Ace me ajudou mesmo assim.
Eu passei a visitá-lo quando me disse que seu pai estava ausente e a sua mãe numa clínica.
Passei a desejá-lo também, e não entendia o por que. Eu só queria estar com Ace o tempo todo.

-Filho...-Diz a minha mãe na porta do quarto, não entra, mas parece surpresa pelo fato da porta estar aberta.-Você demorou um pouco...
-Me desculpa, mãe.-Parece mais surpresa ainda, minha mãe então começa a se aproximar lentamente, como se eu fosse uma bomba prestes a explodir.-Eu vou dormir, estou caindo de sono.
-Tudo bem, filho.-Ela sorri, é raro ver a minha mãe sorrir quando o assunto sou eu.-Boa noite, querido.-A mesma então me dá um beijo na bochecha, e caminha até a porta, acho tamanho afeto desnecessário, mas fazer o que?.-Espero que durma bem.
-Mãe.-Digo, enquanto ela ainda está aqui, vira-se cheia de esperanças.-Eu te amo.
Sorri, emocionada, acho que posso ver uma lágrima no seu olho, ela parece mais feliz do quê nunca, não ficou assim nem quando foi promovida no trabalho.
Estou sendo legal com a minha mãe numa segunda feira, falei que a amava pela primeira vez na adolescência, o que está acontecendo comigo? O que Ace fez comigo?!

Ace

Demorei alguns minutos para chegar a escola hoje, minha madrasta jovem e vaidosa me levou ao salão para escolher sua cor nova de cabelo enquanto eu apenas ouvia e concordava.
Lewis realmente deixou a sua marca em mim na noite passada. Há uma pequena mancha roxa no meu pescoço, como vou justificar isso? Ainda bem que o meu pai não deu as caras hoje.
Eu não podia usar gola rolê, faz sol e eu não quero sofrer com calor. Maquiagem não resolveria, eu poderia me descuidar e suar, quando ficasse nervoso ao ver Matt, assim estragando tudo. Eu posso inventar uma justificativa, caso alguém o perceba.
-Você fugiu ontem.-Ouço a voz de Amber enquanto me concentro somente em procurar meu livro de história no meu armário.-O Matt é um idiota mesmo...
-Não foi por causa dele.-Digo, Amber ri e mexe a cabeça negativamente. Eu sei, não consigo mentir.-Ele... Não teve culpa.
-Então a culpa sempre será só sua?-Nem espera a minha resposta e já se prepara para dizer mais. Eu não sei porque ela se importa tanto, não pode ser ciúmes, até onde sei Amber foi uma das únicas garotas da escola que nunca teve nada com Matt.-Eu vi como ele te tratou ontem, você estava sangrando, Ace.
Fecho a porta do meu armário, deixando até o meu livro para trás.
Amber acha que estou sofrendo por causa de Matt? Posso até admitir que estou um pouco sim, mas nada fora de controle. Como ela viu aquela cena ontem? Será que saiu para me procurar e acabou vendo?
-Não foi ele quem me fez sangrar.
-Só estou falando para o seu bem, ele só é legal com alguma garota antes de transar com ela.-Caminho devagar, Amber não me acompanha, mas continua falando, talvez não acredite em mim.-Eu acredito que com você não será muito diferente.
Ignoro. Continuo andando.

Vejo Matt algumas vezes durante o dia com seus amigos, e também percebo que ele não olha mais para a Jessy, ele sequer fala com ela. Não o vejo olhar para nenhuma garota.
Só me observa as vezes, Matt não faz menção de vir falar comigo no horário de almoço, só permenece me secando enquanto estou sentado na mesma mesa que Lewis.

Matt

Eles voltaram a ser amigos. E o que é mais revoltante nisso é que Ace parece feliz ao seu lado.
Até onde eu sei, o idiota do Lewis pegava a Lexi, que a propósito desapareceu depois daquele vídeo, dizem que ela morreu num acidente, eu não tenho certeza.
A minha raiva aumenta a cada vez mais quando vejo que Lewis lhe olha como se só houvesse Ace aqui, seus olhos chegam a brilhar. Quando Ace percebe que ele lhe olha, fica envergonhado. Meus punhos já estão cerrados, mas tenho que evitar de acabar com esse babaca em pleno refeitório, onde quase todos estão.
Fiz de tudo para evitar Jessy desde cedo, ela chegou a perguntar se eu gostei, eu não respondi. Se respondesse, justificaria porque foi tão constrangedor para mim, transar com ela pensando em como Ace estava no momento.
Na noite passada eu mal dormi, a minha consciência estava pesada, e minha cabeça chegava a doer quando lembro do seu sangue nos meus dedos. Se eu tivesse uma segunda chance, ou terceira, ou até quarta, já que vacilei de mais, eu nem sei qual seria a minha reação.
Mas de uma coisa eu posso ter certeza, Ace não vai ser dele.

Quando chego em casa, aquele mesmo clima pesado de sempre me afeta. A minha mãe fala no telefone com alguma das suas amigas, meu padrasto, quase deitado na poltrona, ri de algo na TV enquanto come bacon. Seria maldade se eu desejasse que o seu colesterol atacasse?. Meu irmão chora como nunca enquanto está rodeado de brinquedos no chão. Ele nem anda ainda, por que a minha mãe o larga assim?
Eu daria tudo para estar na casa de Ace agora.
Tento entrar sem fazer barulho para ser discreto, mas a maldita fechadura não colabora comigo, está enferrujada, e o "homem da casa" que é o meu padastro não serve nem para trocar isso. Todos olham para a porta quando entro devido ao barulho que faz.
-Achei que ia dormir fora mais uma vez.-Minha mãe afasta o telefone do ouvido para falar. Quase não ouço, devido aos gritos dessa criança no chão.
-Ele está chorando.-Digo, me referindo ao meu irmão.-Não deveria procurar saber o que ele tem?
Minha mãe se despede da sua amiga no telefone, vejo o porco do meu padastro mexer a cabeça negativamente.
-Não tem só eu nessa casa. Eu cuido dele o dia todo. É seu irmão, deveria me ajudar, e não ficar jogando ou dormindo fora toda noite.-Termina de dizer, levantando-se para pegá-lo no chão, que para de chorar imediatamente. Minha mãe não está tão velha para trinta e oito anos, parece mais ser uma irmã mais velha, fora que o loiro no seu cabelo não é natural.-Você não tem nem dezoito anos, eu queria saber o que tanto faz dormindo fora!
-O que você acha?-Diz o maldito, seguido por uma gargalhada dele próprio. Minha mãe lhe lança um olhar daqueles que já dizem tudo: "cala essa boca".
-Eu vou precisar do carro. Consegui um emprego num salão, e não fica muito perto daqui. Eu começo na semana que vem.
Não! O que será de mim sem o carro?! Ela nem dirige! Sinto vontade de dizer tudo o que quero e um pouco mais, mas infelizmente já tenho muitos problemas.
A escola também fica longe, eu não posso ir a pé, e o ponto de ônibus fica a minutos daqui.
-Exatamente! Coloque o garoto na linha!-O nojento volta a dizer, sem nem ser chamado na conversa, e sem tirar os olhos da TV.
-Ninguém te perguntou.-Digo, ele continua prestando atenção no seu filme de comédia. Minha mãe não pode continuar me chantageando. O carro era a única coisa de importante que ela podia tirar de mim, eu já não me importo mais com o time.
-Matt!-Ela reclama.-Não fale assim com o seu pa...
-Ele não é nada meu.-Interrompo.
-Respeite a sua mãe, garoto.-Diz, as vezes acho que ele só faz isso para me irritar.
-E o que você sabe sobre respeito?! Não consegue nem levantar a sua bunda gorda dessa poltrona, e quer me dizer o que fazer?!
Imediatamente, meu padastro começa a tremer, ele é cardiaco, eu sei disso, mas eu precisava falar, uma hora ou outra.
-Chega!-Minha mãe volta a largar o meu irmão no chão, ele volta a chorar. Pressiono os meus tímpanos, eu não quero suportar isso, e não vou.
Abro a porta imediatamente. Eu não quero ficar mais nem um segundo nessa casa, hoje.-Não ouse sair!
Eu saio mesmo assim. Estou estressado, não me faria bem permanecer aqui ouvindo tudo em silêncio. Mal consigo medir a raiva que sinto, mas eu sei quem preciso ver para acabar com isso. Dirijo até a casa de Ace.

O Novo AmigoWhere stories live. Discover now