Capítulo 30 - Posse

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Matt

Até a porta da sua casa me causa emoção. Hesito várias vezes antes de bater, mas acabo não resistindo.
-Está aberta!-Ouço, então entro. Ace está no sofá onde eu costumava dormir, logo estando de costas para a porta. Ele vê um documentário no Discovery Channel.-Eu não sabia que viria agora...
Vira-se, e parece surpreso ao dar de cara comigo. Estava sorrindo quando virou-se, mas seu sorriso desapareceu quando percebeu que sou eu quem estou aqui. Talvez ele esperasse alguém, que com certeza não era eu.
Fecho a porta, e então caminho até estar na sua frente, seu olhar me segue até o meio da sala, onde paro.
-Me desculpa por vir sem avisar.-Começo, Ace parece mais confuso do que eu. Seu pulso ainda está enfaixado, mas deve estar melhor do que antes, ou pelo menos eu espero que esteja.-Eu precisava falar com você.
Ele então, ligeiramente perdido, ensaia um sorriso. Eu sei como é desconfortável para ele, nós praticamente brigamos, e eu apareço aqui como se nada tivesse acontecido. Ace então observa que também estou perdido no meio da sua sala, e gesticula para que eu sente no assento ao seu lado. Só agora percebo que ele usa pantufas e o quão ridículas elas são, mas parece até que nada fica ruim nele. Não está com raiva. Eu posso perceber isso também, ele é incapaz de sentir raiva de alguém.
Sento-me, como ele pediu. Ainda bem que não há nem rastro de Lewis aqui.
Por que eu fui me apaixonar por Ace? Essa pergunta volta para a minha mente, a resposta está tão clara que mal posso enxergar. Todas as garotas sempre foram uma só, para mim. Eu as esquecia no dia seguinte depois de fuder com elas. Eu era tão vazio semanas atrás.
Eu sempre tive medo de me apegar a alguém, e no fim acabar perdendo essa pessoa. Eu não quero que seja assim com Ace. Ele foi a primeiro pessoa a despertar esses sentimentos em mim, eu não vou esquecê-lo tão fácil, caso um dia seja necessário.
-Você não teve culpa.-Diz, quebrando o silêncio.-Estava... Nervoso por causa do jogo.
-Sim, eu tive.- Respondo, de imediato, odiando ter que admitir. Mas eu não quero estragar tudo mais uma vez.-Eu fui um idiota naquele dia, é a primeira vez que admito isso.-Quando percebo que estou mais envergonhado do quê nunca, penso em simplesmente fugir daqui e explicar tudo isso para Ace através de mensagens de texto, assim eu não teria que encará-lo enquanto falo. Depois de tudo o que aconteceu, é dificil olhar nos seus olhos que mais parecem cristais sem querer cair ao chão implorando por desculpas e para voltarmos a ser como eramos na semana passada.-Você... Vai me desculpar, não é?
Tenho medo da resposta. Eu sei que Ace é incapaz de não perdoar alguém, mas pode ser que ele comece a me odiar internamente, ou diga que seremos apenas conhecidos a partir de agora. Respira fundo, e então começa:
-Matt, eu...
-Vamos! Por favor! Eu fugi de casa só para te pedir desculpas!-Começo a implorar, sei que estou sendo babaca por fazer isso. Mas com toda certeza, eu fui babaca de verdade quando errei com Ace mais de uma vez.-Estou perdoado, não é?
Ele ri, tentando esconder o seu riso.
-Como assim fugiu de casa?
-Esquece, não foi bem assim.-Sorrio também.-Eu só... Saí sem permissão.

Levanta-se para pegar o controle da TV e trocar de canal, já que eu não gosto muito de documentários e reclamei por só ele estar se divertindo.
-Estava esperando alguém?-Pergunto. Ace para no meio do caminho e vira-se para mim.
-Na verdade não...-Percebo que ele é péssimo mentindo também. Parece que algo está lhe incomodando profundamente quando mente.-Bem... Ele não podia vir hoje...
Acho que se refere a Lewis. Tudo bem se ele lhe faz companhia as vezes, é chato pra caralho ficar sozinho nessa casa, e não vou mais implicar com Ace por causa disso. Mas se eles tivessem outro tipo de relação, eu não sei o que faria.
-Bom, agora só me falta se livrar do Zack...-Brinco. Quando espero uma lição de moral vindo de Ace, ele sorri e mexe a cabeça negativamente.
-Você está enganado. Somos quase irmãos. E ao que parece ele tá tendo um caso com a Amber.
Não posso dizer que não me sinto ameaçado, ainda assim. Quero me livrar desse sentimento de uma vez por todas. Preciso de uma certeza.
Meus planos no momento consistem em ter alguém que amo só para mim.
Para de passar os canais quando chega a um filme de terror. Parece que a cena de um cara sendo decapitado o fez parar. Ace então volta ao sofá.
-Ei!-Digo, de repente.-Essa luz acesa não combina com o filme.-Impaciente, Ace caminha até o interruptor e apaga a luz, deixando a sala parcialmente iluminada apenas pela luz da cozinha.
-Satisfeito agora, senhor?-Diz, voltando ao sofá.
-Não.-Digo, antes que Ace possa sentar, eu me esforço um pouco para segurá-lo pela cintura, e o puxar até que então, finalmente está sentado no meu colo. Não vou perder mais tempo.-Ainda não...
-Matt...
-Nós podemos...- Interrompo, mesmo sem qualquer movimento de Ace sobre o meu colo, posso sentir algo crescer dentro da minha cueca.-Por favor...
-Eu... Não posso...-Ace levanta-se, confuso, posso perceber.
-Eu achei que... gostasse de mim...
-É exatamente por isso.-Senta-se ao meu lado, como antes, porém mais perto.-Eu não posso te amar muito...
De repente, uma cena daquele filme chega a iluminar toda a sala como um flash, talvez pela TV ser enorme, não importa, percebo uma marca roxa na pele pálida do seu pescoço, como não vi isso antes?! É como uma mordida.
Provavelmente foi o maldito do Lewis. Ele ainda sonha que Ace será dele?!
Tento disfarçar que vi isso imediatamente, mesmo me sentindo meio traído. Ace ainda não sabe o que dizer, e eu também não, só o que sentir... e fazer.
-O problema é que eu te amo muito.-Falo.-E eu quero que você seja meu.
Antes que venha mais alguma das suas desculpas, eu o beijo não lhe dando a chance de falar. Ace parece me amar mais do que nunca enquanto me beija, que seja assim de verdade.

O Novo AmigoWhere stories live. Discover now