03

53K 8.5K 15.2K
                                    

— Onde foi que eu coloquei?

Revirei as gavetas do meu armário, depois segui correndo para o banheiro da suíte, olhando na cesta sob a pia. Nada. Após isso, voltei para o quarto, não tinha como uma coisa pequena ter sumido daquele jeito! Era apenas um pendrive. Como que eu fui perder?

Já era quinta-feira, eu estava na merda por ter perdido o pendrive que deveria levar para o colégio hoje. Levei horas fazendo tudo naquele trabalho para no fim, perder o pendrive. Apesar de ainda faltar quase meia hora para dar o horário de eu ter de sair de casa, eu estava desesperado. Por que afinal, onde estava aquela coisa? Eu não podia tirar nota baixa naquela matéria. Se não estaria frito, completamente frito!

— Ah! Deus, obrigado. — após destrancar uma das gavetas, achei o pendrive.

Não estava na gaveta trancada, e sim na de cima desta; presa entre ambas. Como foi parar ali?

Sorri alegre para o objeto, deixando tudo aberto apenas para ir até minha mochila e guardá-lo no bolso da frente.

Caminhei de volta para as gavetas abertas, iria deixar tudo arrumado, fechado. Até que, estranhamente, minha atenção fora presa pela gaveta destrancada.

Cartas, cartas e mais cartas.

Ok. Talvez não seja tão estranho o fato de eu estar com a atenção presa naquela gaveta.

Aquilo era o meu passado.

Eu fitei a minha porta, o silêncio de casa me fez querer pegá-las. Refrescar a memória. Mas sabia que se alguém da minha família entrasse e me visse com elas, provavelmente me olharia frustrado e acabaria preocupado. Como se achasse que eu ainda não havia superado ou coisa do tipo.

Mas eu superei.

Por precaução, fui até a porta do meu quarto e espiei a casa. Ninguém. Todo mundo já saiu ou estava dormindo. Beleza. Puxei a cadeira com rodinhas e me sentei nela, me aproximando mais uma vez das gavetas e das cartas.

Não eram cartas mesmo, porque eu não as recebi e nem escrevi para ninguém. Na verdade, era como um diário meu, uma coisa minha; um desabafo de mim mesmo. Nunca seriam enviadas para alguém, até porque esse nunca foi o real objetivo de eu escrevê-las. Eu só curtia muito dobrá-las e colocá-las em envelopes bonitinhos. E até que fazia um pouco de sentido, sempre que lia as cartas, sentia que tinham sido escritas por outra pessoa. Do Jeongguk do passado para o Jeongguk do presente. Ou seria do futuro?

A primeira carta que eu escrevi fora há sete anos. Eu ainda era bem, bem pirralho. Eu tinha dez anos e para falar a verdade, odiava escrever. Porém como na época eu havia acabado de passar por uma experiência meio... Traumática e sido, tanto pela orientadora do colégio quanto pela psicóloga, indicado para fazer aquilo, eu tive que escrevê-las.

Tinha exatamente vinte cartas. A que eu mais gostava de ler era a última. Porque foi quando eu superei e comecei a viver de verdade.

Na verdade, eu nem me lembro da última vez desde que li aquelas cartas. Eu acabei esquecendo delas.

E esquecendo daquilo.

Carta número 1, de Jungkook de 10 anos;

Estou muito confuso. Eu queria saber o que aconteceu para as coisas acabarem assim, por terem começado e eu ainda não sei o porquê de terem começado. Ontem, minha mãe entrou no quarto com o pai do lado e os dois me chamaram para conversar. Eu pensei que algo de sério tivesse acontecido, como quando meu avô morreu, dois anos atrás e eles me chamaram do mesmo jeitinho. Mas quando desci as escadas, vi mamãe me abraçar com força e a noona suspirar no canto da sala, até sair sem dizer nada, entendi que era diferente. Foi ontem que eu ouvi minha mãe dizer que meu único amigo não era real. E o pai me explicou o porquê dele não ser. Existe algo chamado amigo imaginário, entende? A mamãe disse que eles aparecem quando estamos solitários e que ChimChim apareceu e ficou por mais tempo que o esperado, isso significa que estou com problemas. Como se eu estivesse triste e... Então, minha mente foi... Travessa? Eu não sei. É o que eles dizem. Eles falaram que ChimChim não é real, mas nossa, é impossível ele não ser. Eu não consigo acreditar neles. Aposto que quando eu contar para o ChimChim hoje à noite sobre isso, ele vai rir bastante.

Meu amigo não tão imaginário {jikook} EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora