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Demoraram cinco meses para eu sentir, dentro do meu coração, que as manhãs vieram novamente.

Cinco meses pode parecer tempo demais. Acredite... eu sei disso. Mas, para alguém que passou longos dias desses cinco meses sentindo que nunca seria capaz de viver normalmente ou ser feliz de verdade, cinco meses é um tempo muito bom. Apesar de ter superado coisas pequenas demais para me orgulhar de mim mesmo no passado, a dor no meu coração foi, aos poucos, se dissipando... Foi dessa forma que eu aprendi que passos pequenos são necessários... e que coisas pequenas pesam demais quando o assunto somos nós, humanos, e nossas dores.

Eu aprendi, finalmente, a me perdoar pela minha fraqueza.

— Então, essa semana foi igual a última... — eu dizia, confortável, enquanto olhava nos olhos dela. — Ficamos juntos e eu não fiquei com aquela... aquela coisa no peito. — Simulei uma dor, tocando meu peito esquerdo sobre a blusa. — Comemos juntos e nos falamos normalmente. — Parei, abaixando o olhar.

Logo ela entendeu o que eu quis dizer, indagando:

Mas...?

Olhei nos olhos dela, minha psicóloga, mais uma vez e suspirei.

— Continuo me esquivando do assunto principal... — eu disse, por fim. — É que... as coisas parecem ter voltado ao normal e eu tenho medo que uma conversa sobre aquilo destrua tudo isso — eu disse.

Estava me referindo aos meus pais, Jimin e os acontecimentos que quase destruíram minha relação com ambos. Esse assunto... céus, desse assunto eu não consigo tratar, pelo menos não com os meus pais. Se eles tentam, me esquivo e vou embora porque prefiro não pensar no que eles fizeram.

É mais fácil assim...

— Você continua se esquivando pelo mesmo motivo? — ela perguntou. Assenti.

— Eu quero tanto que isso termine, mas suavizar o assunto foi tão difícil que eu fico com medo de tentar encerrar ele, não conseguir, e ser... mais difícil ainda — digo. — Para falar a verdade, às vezes eu sinto que estou pronto para ouvir eles... mas aí, fico com medo e deixo pra depois... mas... — Soltei um muxoxo, perdido.

Doutora Ahn balançou a cabeça, me dando um sorriso calmo e compreensivo.

— Não tem problema sentir medo, Jeongguk. Você não precisa focar nisso o tempo todo — ela disse, então. — Pode pensar, por agora, se você está pronto ou não. Faça uma lista dos prós e contras. Tente imaginar como vai ser... descubra seus limites, mas com calma, pensando bem antes. Sabemos que é assim que as coisas funcionam, certo?

— Certo... — eu digo, dando um sorriso calmo também.

Quando o relógio informou que tínhamos acabado por hoje, a doutora Ahn ajeitou sua postura na poltrona e deu um suspiro, calma como sempre.

— Essa vai ser a atividade que eu vou passar para você essa semana — ela me disse, anotando em um papel. — Quero ver você fazer uma lista e acrescentar coisas nela todos os dias... ou seja, não pode fazer tudo de uma vez. Tem que começar hoje, continuar amanhã, depois, até chegar na nossa próxima sessão, clareando suas ideias.

Ela arrancou a folha da caderneta e me passou. Eu gosto que minha psicóloga põe desenhos fofinhos nas atividades que me passa... é como se eu ainda fosse uma criança.

E, para falar a verdade, ela é a minha psicóloga desde que eu era (de fato) uma criança.

Sra. Ahn é uma profissional que atende crianças e adolescentes. Quando decidi voltar a ter sessões, tive certeza de que ela era a única que poderia me ajudar. Me sinto confortável perto dela mesmo depois de anos... o acolhimento que seu olhar me dá é o suficiente para eu me abrir completamente. Tenho certeza de que ela é uma das melhores profissionais do seu ramo.

Meu amigo não tão imaginário {jikook} EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora