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Fernanda.

Meu despertador toca, aquele barulho me causa uma dor de cabeça enorme, havia dormido tarde por conta das provas e dos trabalhos. Desligo o despertador, me calço e fico sentada um pouco na cama, pensando.

Já fazia dois anos que estava em São Paulo, cursava faculdade pela noite e de manhã e tarde trabalhava num escritório de advocacia como secretária/assistente, eu sei que não era muito mas ainda não podia atuar, era apenas um estágio. Ajudava em muita coisa, eu ganhava bem, era muito bom ganhar meu próprio dinheiro e não depender de ninguém... certo que havia gastado uma quantia da poupança mas já havia colocado tudo lá de volta, estava intacta.

Ainda morava com Mateus, ele não havia me deixado ir embora. Sua mulher estava grávida, era a Melissa, ela era um amor de pessoa e nós duas éramos inseparáveis. Eles dois viviam viajando a trabalho, na maioria das vezes eu ficava sozinha em casa com Sandra, a governanta. Fui muito bem recepcionada na casa deles, pensei que sua mulher não ia gostar mas após explicar tudo pra ela, minha história, o que havia sofrido, ela entendeu perfeitamente bem e me apoiou bastante.

Miguel estava enorme, havia completado dois anos, era um menino forte e muito sapeca, falava mamãe toda vez que nos víamos por chamada de vídeo, ele sabia quem eu era. Mas por causa do trabalho eu quase não viajava pro Rio de Janeiro, fui umas oito vezes ano passado, o aniversário de um ano dele foi perfeito. Miguel parecia muito comigo fisicamente, mas a personalidade era de Christopher. Era incrível como ele entendia, era uma criança compreensível. Christopher era muito presente na vida dele, largou até o BOPE e agora é delegado da polícia civil, tem mais tempo... Quando soube me surpreendi, ele amava a polícia militar.

Nas vezes que fui ao Rio de Janeiro nós trocávamos alguns beijos mas não passava disso, ele ficou ocupado. Miguel era louco por ele, a boca dele era o pai dele, chamava papai pra cá, papai pra lá... ele e Gustavo. Meu filho tinha tudo, tudo que eu não tive, tinha um quarto enorme na nova casa de Chris, tinha vários brinquedos e eu até não sabia o que lhe dá de presente. Quando eu pude comprar as coisas pra ele com meu próprio dinheiro foi uma felicidade sem fim, nem acreditava. Comprei roupas, comprei sapatos, maquiagem... tudo com meu suor.

No começo Christopher me ligava todos os dias pra saber como estava indo, mandava milhares de fotos, conversávamos, mas depois de um tempo algumas coisas mudaram, ele quase não tinha tempo, eu também não, nós discutimos e a gente se afastou. Ficamos estranhos, ficamos distantes, de vez em quando eu mandava mensagem perguntando pelo Miguel e ele respondia seco, o básico... não sei se foi porque não pude comparecer ao aniversário de dois anos de Miguel por causa do trabalho.

Conversava mais com Nicole e dona Grazi, elas que ficavam com ele pra Christopher trabalhar. Nicole sempre me ligava quando estava no trabalho e eu podia conversar com meu anjo, eu amava demais aquele garotinho.

Pego meu celular e encaro a tela de bloqueio, havia uma foto dele. Ele tinha os cabelos ondulados, eram claros, quase na tonalidade do de Christopher, seus olhos eram redondos e da mesma cor que o meu, suas sobrancelhas marcadas, cílios grandes, nariz reto... ele era uma cópia minha. Abro a conversa de Christopher e visualizo sua última mensagem, era semana passada.

Suspiro e me levanto indo pro banheiro, tomo meu banho, visto minhas roupas íntimas, minha saia social e minha camisa social. Arrumo minha bolsa, pego as chaves da minha biz e desço. Sandra já colocava o café da manhã, como rápido enquanto respondo alguns e-mails pro senhor Renato, meu chefe.

─ E o miguelzinho? ─ Sandra pergunta.

─ Tá lindo demais, Sandrinha ─ digo toda sorridente, pego meu celular e mostro a foto que Nicole havia me mandando ontem.

Um presente da vida #2Where stories live. Discover now