03

33.7K 2.9K 2.3K
                                    

Fernanda.

Fui acordada por Christopher, eu estava abraçada com meu bebê e nós dois estávamos num sono tão bom. O cheirinho dele me acalmava de um jeito incrível.

Encarei Christopher que estava exalando perfume. Seu perfume. Uma barba rala crescia em seu rosto lhe deixando com uma expressão mais séria, seus cabelos estavam bem penteados e ele usava uma roupa casual. Acho que hoje estaria de folga.

Me levantei com todo cuidado possível esfregando meu rosto e senti a mão grande e quente de Christopher em meu ombro. No momento que ele me tocou senti uma corrente elétrica passar pelo meu corpo.

─ Tudo bem? ─ indaga.

─ Sim.

─ Eles já vão preparar ele pra cirurgia. Vai tomar café da manhã.

─ Tá bom.

Vou no banheiro do quarto lavar meu rosto e fazer minhas necessidades e depois sigo pra lanchonete no hospital na companhia de Gustavo e Nicole.

─ E os paulistas? São gatos mesmo? ─ Gustavo pergunta. ─ Acho o sotaque horrível.

─ Eu nem presto atenção.

─ Você quase não tem tempo né? ─ dessa vez é Nicole que pergunta.

─ Trabalho de segunda a sábado pela manhã, não tenho tempo pra nada.

─ Direito é um curso foda também.

─ Mas vale muito à pena.

─ Vou pegar um suco ─ Nicole se levanta e me deixa sozinha com Gustavo.

Ele me olha durante alguns instantes, sei que quer perguntar algo mas se contém. Eu também não digo nada.

─ Fernanda... sei que a situação está difícil mas veja o lado de Christopher também. Ele sofreu muito, ele te amava muito. Acha que é fácil pra ele ver a mulher que ama ir embora? Não é fácil. Ele viveu todos esses anos isolado, não saia com a gente, não queria mais nem conversar direito e não transou com ninguém durante esses anos.

Naquele instante meu coração se aperta. Como assim ele não havia transado com ninguém? Ele me falou que tinha seguido a vida sexual dele.

─ Ele mentiu, ele queria que você seguisse porque você precisava se cuidar e deixar de ter medo. Christopher só tem olhos pra você, ele só se fechou pra tudo.

─ Gustavo eu não tive culpa, você sabe que eu precisava me afastar... minha doutora disse que eu poderia machucar meu filho por causa da minha depressão. Imagina eu tentando matar ele? Eu preferi me afastar antes que isso acontecesse. Eu não iria me perdoar se machucasse Christopher ou Miguel, é melhor que eu me afastasse do que me matasse. Eu estou me curando aos poucos desse trauma, eu estou mudando, já evoluí muito. Todos os dias me culpo por ter me afastado deles dois, eu o amo, mas quando se sofre o que sofri... tudo fica mais difícil. Eu estava tomando remédio, não contei isso pra ele. Estava dormindo no efeito de remédios porque não conseguia dormir sem me lembrar de tudo e chorar como um bebê. Eu pago por ter me afastado mas eu vejo que o que fiz foi o melhor. Eu quero sempre o melhor.

Ele se cala, encara seus próprios dedos e eu solto um suspiro. Logo Nicole retorna e nós terminamos de tomar café e seguimos pro quarto.

Meu bebê estava acordado, a enfermeira conectava o soro nele e colocava as cânulas em seu nariz já o preparando pra ir pra sala de operação. Meu coração estava apertado como nunca, eu tinha muito medo. Meu maior medo era perder meu filho.

Estava aflita com a cirurgia... mas acreditei que tudo iria ocorrer bem. Eu sei que iria ocorrer tudo bem.

Logo ele havia sido encaminhado pra sala de cirurgia. Nós não podíamos entrar com ele mas podíamos ver através de uma salinha, eu não quis ver... não iria suportar ver meu filho tão pequeno passando por isso.

Um presente da vida #2Where stories live. Discover now