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Fernanda.

O avião aterrisa às cinco da manhã no aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Passei a viagem toda me menosprezando e me achando a pior pessoa do mundo, estava muito preocupada, com muito medo. Miguel era tudo de bom que eu ainda tinha, a vida não podia me tirar ele. Eu merecia tanto castigo assim afinal?

Desci do avião cheia de aflição, estava muito nervosa. Será que o problema de coração do meu filho era grave? Lembro que não apareceu nada nos testes que fizeram assim que ele nasceu, Miguel havia nascido perfeito.

Após pegar minha mala fui pra sala de espera com as mãos suando, de longe avistei Christopher sentado em uma cadeira, o reconheceria de longe. Ele estava mexendo no celular, de cabeça baixa, corri até o mesmo com lágrimas nos olhos, estava com saudade, mas acima da saudade, precisava do seu abraço pra confortar aquela dor que sentia. O abracei sem pedir, ele retribuiu.

Quando consegui me afastar olhei em seus olhos, estavam diferentes, mais escuros. Ele desviou o olhar e se levantou.

─ Vamos, tô com pressa ─ pede calmamente. Nota diferença em seu jeito, ele estava ríspido, não julguei... sabia que ele não estaria sorrindo com nosso filho na situação que estava.

Christopher levou minha mala e eu o segui até seu carro. Quando adentramos senti um clima bem desconfortável, eu não sabia o que havia de errado, queria poder saber o que se passava em sua cabeça.

─ Como foi isso? ─ quis saber.

─ Havia saído e ele estava com mamãe... de repente mamãe me ligou, ele havia desmaiado. Fiquei muito nervoso na hora, ele não queria acordar, começou a ter uma convulsão.

─ Mas ele está bem?

─ Estável, no hospital. Ele tem um sopro, não sei bem, o médico irá explicar melhor quando chegarmos ao hospital.

─ Mas ele está acordado? ─ pergunto.

─ Sim.

─ Está tudo bem, Chris? ─ toco seu braço, ele me olha rápido e me dá seu sorriso mais sem graça possível, sem mostrar os dentes.

─ Sim.

─ Tá me tratando estranho.

─ Impressão sua.

Não digo mais nada, fico calada. Ele também não pergunta mais nada. Pensava que seria como das outras vezes que ele me abraçava tanto quando me via e me enchia de perguntas, mas dessa vez ele se distanciou, não sabia se eu havia feito algo ou se era porque não havia ido no aniversário de dois anos de Miguel: que foi algo íntimo, uma festa pequena só pros parentes. De fato Miguel não entende nada ainda, ele só tem dois anos.

Desde quando eu e Christopher discutimos e ele pediu um tempo, ficamos bem distantes um do outro. Eu sentia que ele estava mudando, se fechando, como ele era no princípio.

Não queria que ele me culpasse, ele sabia melhor que ninguém que sempre visei o bem estar de Miguel e sempre batalhei por ele, apesar dele nunca ter precisado de nada.

Eu queria que meu filho tivesse orgulho de mim.

Nós não falamos mais nada até chegar no hospital onde ele estava. Andei ao lado de Christopher meio distante, já percebi e entendi que ele não queria proximidade. Iria fornecer seu tempo. Peguei minha identificação de visitante na recepção da ala infantil e segui até o quarto onde ele estava.

Abracei forte dona Grazi e Nicole quando encontrei ambas, elas estavam tão nervosas quanto eu.

─ Como ele está? ─ pergunto preocupada.

Um presente da vida #2Onde histórias criam vida. Descubra agora