Christopher.

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Lembranças de anos atrás...

Ela se vai, seu sorriso e seu olhar ficam grudados em minha memória, seu perfume continua no ar. É como se ela só estivesse ido ao banheiro e que logo voltava. Não era verdade. Ela tinha ido embora.

Meu coração estava em pedaços, por um instante fiquei totalmente sem reação e só depois me contive.

Miguel chorou em meus braços no instante em que Fernanda foi pro seu vôo, não sei se ele estava entendo a situação mas ele chorou. Nicole pegou Miguel de meu colo e me tirou do transe. Limpei a lágrima passageira que escorreu do meu olho e segui Nicole pra saída.

Eu estava meio aéreo, era como se meu corpo estivesse ali mas minha mente estivesse em outro lugar. Era a dor anestesiada da perda.

─ Christopher? ─ mais uma vez ela me chamou.

─ Hã?

─ Você vai dirigir?

Encaro Miguel que estava quieto no colo dela e fico em silêncio durante alguns segundos.

─ Você sabe dirigir? ─ pergunto com um nó na garganta.

─ Sim, só não tenho carteira.

─ Dirige então, vou atrás com Miguel.

─ Belezinha.

Entrego as chaves pra ela e pego meu pequeno nos braços indo pro banco de trás. Sinto seu cheiro no ar, minha barriga esfria. Miguel segura no meu dedo com força e eu o olho, ele mordia a outra mãozinha, abri um sorriso. Eu o tenho, é um motivo de ser feliz. Eu tenho uma parte dela comigo e pra sempre irei ter.

Vou todo o caminho calado, eu não consigo falar ou pensar nada, minha mente está travada. Só consigo sentir uma dor funda no peito, era como se algo tivesse sido arrancado de mim.

Sei que Fernanda já passou por vários traumas e tem feridas ainda expostas, entendo bem que ela não seja tão apegada sentimentalmente comigo. Eu nunca iria desistir dela, eu sempre fiz de tudo pra ela se sentir bem. Sempre respeitei a vontade dela, sempre que ela queria fazer amor eu fazia e quando ela queria apenas ficar deitada no meu colo eu respeitava. Nunca forcei a barra com ela, sempre tive muito medo de magoar ela de alguma forma.

Fernanda sempre foi diferente, de tudo, de todas.

Mal vejo quando Nicole chega no apartamento e estaciona. Miguel já está adormecido no meu colo e não acorda quando o boto no bebê conforto.

─ Chris quer que eu durma aqui hoje? ─ ela pergunta meio preocupada.

─ Não precisa, eu sei me cuidar e sei cuidar do Miguel, você sabe.

─ Mas você está em condições?

Assinto e pego minhas chaves.

─ Vai pedir um táxi ou Wesley vem te buscar?

─ Vou pedir um táxi.

─ Tudo bem.

Espero ela pedir um táxi e fico olhando pro nada enquanto seguro o bebê conforto. Sinto meu coração bater rápido e minhas mãos tremem, coloco o bebê conforto no chão e meto as mãos dentro do bolso pra disfarçar.

─ Tá tudo bem mesmo? ─ há dúvida no seu olhar.

─ Uhum.

Logo o táxi dela chega, agradeço aos céus. Amo Nicole mas têm vezes que prefiro ficar sozinho do que na companhia dela. Ela fala muito. A vejo despejar um beijo na cabeça de Miguel e entrar no carro, aceno e pego o bebê conforto entrando no prédio.

Eu não consigo pensar em nada. Minha mão treme e minha maior vontade é de chorar. Eu sou muito frágil, eu sei.

Quando adentro no apartamento é como se houvesse levado um soco no estômago. O cheiro dela está no ar e tudo parece tão vazio. Geralmente toda vez que chegava eu a via jogada no sofá com aquela barriga enorme ou então com Tony no colo e Miguel no bebê conforto. Ela era minha paz.

Sinto minha cabeça doer e respiro fundo, precisava manter o foco pelo meu filho.

Tony surge e balança o rabo, tudo me lembra ela, tudo me lembra ela. Era rotina eu chegar do trabalho e ele surgir... depois de um tempo ela logo atrás. Ela me dava um sorriso, fazia carinho em Tony e corria pros meus braços.

Sinto minha garganta doer e meu nariz arder, não consigo me segurar... eu choro.

Fernanda não era uma simples pessoa para mim. Fernanda havia se tornado mais que uma simples pessoa, ela havia se tornado a minha pessoa. Eu só precisava de Fernanda para viver e de mais nada.

Me sento no sofá na companhia de Tony e Miguel e choro. Eu desejava tudo de bom na vida dela, mas desejava que ela realizasse essas coisas ao meu lado.

O que era pra ser mais uma noite de sexo se resultou num bebê e numa garota problemática que me fez ficar louco. Eu queria uma vida ao lado dessa garota problemática. Era eu, ela, nosso filho e um cachorro. Eu não precisava de mais nada.

Infelizmente nem tudo é como queremos.

Naquela noite Miguel acordou de madrugada... o que era raro. Eu o embalei nos meus braços enquanto encarei a cama vazia. Ela devia está ali. Devia estar resmungando e querendo levantar no meu lugar pra colocar o Miguel pra dormir.

Devia estar ali pra me acordar com sua voz doce e um beijo molhado nos lábios. Queria poder cheirar seus cabelos e a envolver num abraço.

Depois que Miguel adormeceu eu o coloquei na cama e me deitei ao seu lado. Tentei dormir mas foi em vão... eu precisava dela.

Me levantei e olhei pela janela aquela cidade repleta de luzes. Mais uma vez senti vontade de chorar... estar sozinho é algo doloroso. Meu coração estava partido, eu me sentia como um garotinho de quinze anos que teve sua primeira decepção amorosa.

Pego meu celular e vejo algumas fotos nossas, analiso seu sorriso, seu olhar, sua boca e seu jeito simples de ser. Era a minha mulher, nós já tínhamos passado muita coisa juntos, um do lado do outro. Eu não podia a prender do meu lado, não podia a fazer ficar.

Eu queria uma família, queria que a mãe do meu filho o olhasse crescer e me ajudasse com as fraldas matinais e com o leite. Fernanda não esteve aqui quando Miguel deu seu primeiro passo e nem sua primeira palavra.

Eu queria que Fernanda não fosse alguém com problemas psicológicos, queria que ela não guardasse traumas e feridas dentro dela. Eu a queria normal.

Infelizmente não escolhemos o destino da vida de ninguém.

Preferia sofrer do que a ver sofrer.

Eu tinha que a deixar partir e viver. Ela era uma borboleta que havia criado finalmente asas após anos sendo uma lagarta. Eu precisava seguir minha vida e cuidar do meu filho, ser mãe e pai.

Miguel todos os dias me lembrava ela com seus olhos brilhantes e aquele sorriso lindo que nem o dela.

Ele era tudo que eu tinha, meu porto seguro, minha vida.

Era doloroso pensar em outros a tocando e em Fernanda arranjando outro alguém... mas era a realidade. Eu não podia a fazer ficar.

Precisava deixar ela viver, precisava deixar ela ir.

Mas ainda esperava ela voltar pra mim... meu coração sempre seria da minha pequena nanda.

Um presente da vida #2Where stories live. Discover now