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Christopher.

Vou direto pro batalhão, meu peito descia e subia, eu estava muito nervoso e não escondia. Gustavo era meu irmão, meu melhor amigo e imaginar minha vida sem ele era foda pra caralho. Me disseram que ele foi fazer rota, justo hoje, na páscoa. Tinha chamado ele pra almoçar lá na casa de mamãe, mas ele disse que queria hora pra ver se tirava folga. Quatro bandidos abordaram a viatura e meteram bala.

Nem estacionei direito e já fui descendo, coração tava batendo forte demais. O clima no batalhão estava um caos, muita gente pra lá e pra cá. Sempre que tinha disso era um aviso, a gente tinha que se preparar porque era guerra. Eles não iam parar.

─ Onde Gustavo tá? ─ cheguei perguntando pra Daniel que atendia várias ligações.

─ No hospital do centro.

─ Quem fez isso?

─ Não sei mano, tô tentando acessar as câmeras, tentando conseguir alguma informação mas os soldados que estavam na viatura tão bem mal, Gustavo tá mal, levou quatro.

Puta que pariu! 

Traficante achava que a gente da polícia também não tinha família, que todos éramos corruptos, que a gente não tinha filho pequeno em casa e mulher. Assim como eles eu também tinha família, mas ao contrário, respeitava. Eu sabia como traficante era, sabia que ele descia porrada em mulher e em criança... isso eu não tolerava. Era por isso que matava sem dó. Já atendi caso de B.O de mulher cheia de hematoma, cabelo raspado, facada... traficante é bonzinho? Eu não tolerava violência contra mulher, crianças e idosos, de jeito nenhum.

Lembro que na época do BOPE já recebi muito abraço de moradores, muitos agradecimentos de crianças e me sentia honrado pra caramba. Porque eu sabia bem o que fazia, sabia que fazia o certo, eu não devia ser condenado por todos que faziam o errado.

Entrei na viatura e foi voado pro hospital, pensava sempre no pior e confesso que isso estava me destruindo por dentro. Eu odiava pensar no pior, mas nesse momento era minha única opção.

Gustavo sempre esteve comigo em todos os momentos, lembro bem que fizemos curso juntos, mas naquela época quase não nos falávamos, conhecia ele desde que cheguei aqui no Rio de Janeiro pra ficar... sempre juntos, independente de tudo. Ele me ouvia, ele me aconselhava e vice-versa. Já travamos muitas batalhas juntos, já enxuguei lágrimas dele assim como ele enxugou lágrimas minhas.

Eu não iria o perder e ele não era louco de me deixar!

Entrei naquele hospital com medo, fui direto atrás do quarto onde ele estava. Foi péssimo ver meu irmãozinho todo cheio de curativo, tinha sido dois na perna e dois no braço, sorte que ele estava de colete e de capacete. Gustavo sempre se preveniu em tudo, ao contrário de mim.

Ele estava dormindo, teve que levar anestesia geral pra retirada das balas. Fiquei um tempo o olhando e desejando que tudo ficasse bem, eu estaria ali do lado dele pra tudo... como ele sempre esteve do meu lado.

Nem ia contar nada disso pra Fernanda ou comentar perto de Miguel, meu filho era louco pelo padrinho, quem não gostava de Gustavo? Vivia fazendo graça e causando sorrisos, tinha um coração enorme que mal cabia no peito.

Meu celular tocou, era Guilherme, coloquei na orelha e recebi a bomba bem dada.

─ Foi o pessoal do Vidigal ─ e bem aí já soube de quem se tratava.

E o ódio me subiu, meu sangue ferveu. 

***

Subi aquele morro sem a permissão de ninguém, não me importava se iriam me fuzilar ou algo do tipo, eu queria justiça e iria atrás. Não me importa se eu daria de cara com Carlos, eu não iria deixar de ir lá.

Um presente da vida #2Where stories live. Discover now