Um presente da vida #2

05

Fernanda.

Pego uma água com açúcar pra Christopher e me sento em sua frente, ele estava muito nervoso e isso estava começando a me preocupar. Geralmente ele era mais equilibrado que eu. Mesmo com tudo que ele estava fazendo comigo eu continuei do seu lado, segurei sua mão e tentei o confortar de alguma maneira.

─ Chris, vai ficar tudo bem... não tem porque se estressar dessa forma.

─ Não vai ficar tudo bem, não tá tudo bem! Caralho! ─ deixou o copo sobre a mesinha e passou as mãos nervosamente pelos cabelos. ─ A gente perdeu o Vidigal e esse filho da puta fugiu nessa rebelião, é questão de tempo até ele vir atrás de vingança e nesse jogo não existe mais só você. Pensa no Miguel, o nosso filho tá nesse fogo cruzado.

─ Christopher larga de ser paranoico, ele não vai nos achar. 

─ Vai sim! ─ grita e se levanta andando de um lado pro outro, sua mão não parava de tremer de nervosismo e estresse. ─ Se eu ainda estivesse no BOPE... 

─ Chris... ─ o chamo baixo, ele vira com tudo e derruba alguns jarros no chão, o barulho é imenso. Não abaixo a cabeça, fico olhando pro mesmo sem esboçar muita coisa.

─ Merda! ─ esbraveja.

Naquele instante ouvimos os passos e logo Miguel surgiu.

─ Papai? ─ seus olhinhos estavam assustados, Rosana veio logo atrás também preocupada.

─ Meu Deus... Chris, tudo bem? ─ Rosana mantém distância também. ─ Miguel, fique aqui... há cacos de vidro espalhados por aí.

─ Papai! ─ Miguel pede colo e faz carinha de choro. 

─ Está tudo bem, Mig ─ Christopher vai até Miguel o envolvendo num abraço folgado. ─ Papai só perdeu a cabeça, me desculpe.

Rosana me olha e por um instante um silêncio enorme reina ali. 

─ Chris, vá tomar um banho pra relaxar ─ proponho. ─ Aproveite e leve Miguel com você que ele também precisa de um banho, vou fazer um chá e separar uns comprimidos, sim?

Chris assente sem me olhar e logo se vai. Logo que a porta se bate, eu encaro Rosana com preocupação.

─ Christopher não está bem. Ele teve um ataque.

─ Ele não está bem desde que saiu do BOPE, mas sabe como é teimoso e se recusa em ir no terapeuta.

─ Ele está estressado, as mãos estavam tremendo.

─ Fale com Gustavo e Wesley, é o melhor pra se fazer. Não diga nada pra dona Grazi... sabemos como ela é.

─ Tudo bem.

Ajudo a limpar aquela bagunça e em seguida vou pro quarto de Christopher, eles ainda tomavam banho enquanto cantavam e pulavam. Não demorou muito pra Christopher me gritar e eu pegar o roupão de Miguel indo o buscar.

─ Que nénem cheiroso é esse, mamãe ─ beijo seu rosto e o seguro com cuidado. ─ Papai lavou seus cabelos?

─ Sim! ─ ele diz rindo, suas bochechas parecem ficar maiores ainda.

─ Vamos vestir uma roupa do homem aranha?

─ Vamos.

Vou pro quarto de Miguel e pego uma roupa do homem aranha pra ele, depois de o vestir, pentear seus cabelos e passar perfume, eu o deixo brincando com seus vários bonecos e vou até a cozinha pegando o chá de Chris e as pílulas de calmante.

Vou até o quarto dele e o fito só de toalha, ele estava sentado na cama e olhava pro nada.

─ Trouxe chá de camomila pra você.