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─ Você pode tirar se você quiser ─ ele não parece surpreso. Bem... ele não parece demonstrar nada. ─ Não quero que tenha esse bebê e se lembre da maneira que ele foi concebido. Por um estupro.

─ Você não me estuprou, para com isso ─ o abraço. ─ Eu quero ter esse bebê, quero ter ele junto de você.

─ Vai embora, Fernanda ─ ele me afasta. ─ Já te machuquei demais.

─ Eu não vou embora pra lugar nenhum, sabe por que? Porque eu te amo muito. Você é o homem da minha vida, é o pai dos nossos filhos, é minha luz e meu tudo. Você não me abandonou quando eu estava grávida e perdida, você nunca me abandonou. Eu não vou te abandonar! O que aconteceu naquela noite foi um erro que jamais será cometido outra vez. Todo mundo erra, somos seres humanos, seres imperfeitos. Eu te amo muito, Christopher e quero ser feliz ao seu lado. Vamos esquecer o passado e focar no presente, por favor.

─ Fernanda... eu nunca vou me perdoar. Te humilhei desde quando você pisou os pés na minha casa e você nunca falou nada, nunca reclamou ou retrucou, sempre esteve de cabeça erguida. Te machuquei de todas as formas que pude, nós vivemos momentos bons mas a maior parte do tempo foi só brigas e humilhações. Você nunca fez nada e eu sempre te taxei como errada, você nunca esteve com traficantes porque quis e eu sempre te chamava de lanchinho de traficante. Eu nunca vou me perdoar.

Aquelas palavras doeram, o meu passado me faz sentir uma dor absurda, mas logo passou, sabe por que logo passou? Porque eu queria mais, porque eu queria vencer, porque eu iria vencer! Pra vencer eu precisava olhar pra frente, se eu ficasse olhando para trás ia acabar tombando e caindo.

─ Amor ─ segurei firme em seu rosto. ─ O passado importa agora? Não, não importa, nós estamos vivendo o presente e caminhando pro futuro. Teremos uma família linda, só eu, você e nossos dois filhos. Eu estou disposta em mudar minha faculdade pro Rio de Janeiro, eu já me sinto curada, esse bebê veio como um presente, tudo vai mudar.

Ele paralisa durante um instante, seus olhos enchem de lágrimas e aquilo é como uma facada.

─ Você faria isso? ─ pergunta baixinho.

─ Me afastei porque estava com depressão pós-parto, Christopher... eu podia matar o Miguel e te machucar, essa é a verdade, sofri durante os anos que estive lá, pensei em me suicidar várias vezes... me sentia incapaz, incompleta e sozinha, chorava quase todas as noites e vivia tomando remédios controlados, eu não te contei isso... eu estava na tarja preta, só dormia por causa dos remédios, só parava de ter minhas crises por causa dos remédios, tudo por conta dos remédios. Por isso me afastei.

Christopher não esboça nada, ele fica calado e pensativo, isso me agonia.

─ Por que nunca me disse que estava tomando remédios?

─ Não queria ter sua pena.

─ Tentou se suicidar?

─ Teve uma noite... uma das noites em que você estava me ignorando. Eu tomei quatro pílulas de uma vez, eu tinha que tomar uma, estava acabada. Mas não consegui, meti o dedo na garganta e vomitei todas, depois chorei e me crucifiquei por isso.

─ Por que não me contou, droga?! ─ gritou comigo, as lágrimas já desciam pelo seu rosto.

─ Eu estava te incomodando.

─ Não estava ─ ele passa seus braços ao redor da minha cintura. ─ Seu lugar sempre foi ao meu lado com Miguel. Fui egoísta e só pensei em mim, agi como machista em querer te sustentar e não te deixar viver. Não é porque você é mãe que vai viver presa dentro de casa cuidando das crianças e da casa, minha mãe precisava sempre trabalhar após a morte do meu pai e eu não via problemas dela passar o dia fora. Você se sacrificou muito por Miguel e por mim, sempre estava presente e fazia o possível pra ficar, mas eu sempre te afastava.

Um presente da vida #2Where stories live. Discover now