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Fernanda.

Quando acordei no outro dia meu corpo estava dolorido demais, sentia meu braço doer e minhas coxas latejar. Minha cabeça estava doendo e tudo que eu queria era morrer. Me sentia extremamente péssima, queria mais que tudo voar pra bem longe, pra sempre.

Quando cheguei no banheiro e me olhei no espelho vi uma imagem minha horrível. Estava com os olhos avermelhados, os hematomas estavam roxos e meus cabelos estavam uma bagunça. Eu estava péssima e com o pensamento bagunçado.

Eu queria ser perfeita e não ter nenhum problema, mas me lembrei que sou humana... quem é humano sempre erra, quem é humano não é perfeito. Estamos sempre errando e errando, isso não muda. Eu não sou a garota do romance que está sempre certa, que tem uma casa e um carro e que namora um homem perfeito de dentes brancos. Eu sou pobre, sofri abuso e humilhações, se tenho dinheiro hoje em dia é porque estudei pra alcançar e abri mão de muita coisa. E não, o meu homem não é perfeito, ele é cheio de feridas assim como eu. Nós dois estamos passando por dificuldades como qualquer outra pessoa normal. Nós dois erramos. Somos seres humanos.

Passei base, vesti uma blusa de mangas cumpridas e uma calça legging preta.

Saí do quarto tentando soar o mais normal possível, passar que eu estava bem quando não estava. Fui pra cozinha e fiz um café forte e alguns sanduíches com queijo e presunto. Me sentei e comi, estava sem fome mas tive que comer.

Logo Christopher também surge na cozinha, ele mal olha em minha cara. Seu rosto está inchado, ele passou a noite em claro... é visível que ele chorou. Eu me sentia péssima, completamente um lixo, mal conseguia pensar direito, eu só queria chorar e chorar.

─ Comprei sua passagem, quero que você vá ainda hoje.

─ Hoje?

─ Pela tarde. Vou arrumar as coisas básicas de Miguel.

─ Você não vai dizer nada pra sua mãe? Vai dizer o que pra ele?

─ Ninguém vai dizer nada de um filho passar um tempo com a mãe.

─ Christopher... você está se precipitando.

─ Não estou e se estiver... não importa. Já avisou seus amigos de lá?

─ Vou avisar.

─ Ótimo.

Ele pega um pouco de suco e sai dali, meu peito dói muito. Sinto vontade de chorar mas me seguro, era uma escolha dele, era algo que ele queria. Eu não podia falar nada... infelizmente.

***

Lá pela tarde minhas coisas já estavam arrumadas, as de Miguel também.

Ele pediu que eu não falasse pra ninguém, que ele iria falar pro pessoal que eu tinha voltado pra São Paulo por conta do trabalho.

Fiquei observando Christopher abraçar e beijar o Miguel infinita vezes, logo iríamos pro aeroporto e Miguel pensava que só iria ficar um tempinho comigo... eu sei que seria difícil pra ele ficar longe do pai. Eu compreendia. Miguel nunca ficou mais de uma semana longe de Christopher, imagine um mês.

─ Mas papai, por que você não vem com a gente? ─ Miguel faz bico.

─ Tenho que trabalhar, você sabe ─ ele ri sem graça, abraça Miguel com força e consigo notar seus olhos tristes. Christopher havia amadurecido, a paternidade e o tempo lhe moldaram de outra forma, ele não era mais aquele moleque que havia saído de uma vida de curtição e assumido uma menina de dezessete anos grávida. Ele era um homem, um homem formado e com muitos problemas. Um homem preocupado com o horário de almoço do filho, se as contas estavam em dia e se a geladeira estava com bastante frutas pro Miguel.

Um presente da vida #2Where stories live. Discover now