Estou apaixonada!

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Lá vem você e essa mania de seios fartos!

Apago a folha do caderno e aproveito para limpar a página antes de começar a redesenhar a imagem. Com cada linha neste papel a minha heroína vem à vida, seu rosto com formato de coração, seus imensos olhos castanhos e seus lábios carnudos.

Ah, como eu gostaria de beijar esses lábios.

Meu lápis começa a definir suas pernas chegando até a cintura fina, bem abaixo dos seios perfeitos. Apago as linhas do esboço e acerto os detalhes finais. Agora sim, ela está perfeita. Eu posso não conseguir falar com as garotas, mas sei desenhá-las muito bem. Pego meu caderno e continuo a admirar meu trabalho antes de colocá-lo bem perto da caixa registradora.

Pelo menos parece que superei essa obsessão por peitos enormes. Caramba! Nos primeiros meses, quando descobri a pornografia on-line, comecei a desenhar peitos cada vez maiores. Se meus desenhos fossem reais, essas meninas nem conseguiriam andar. Picasso teve seu período azul, eu tive meu período peito. Depois de um tempo, me cansei dos episódios mecânicos do sexo virtual. Agora que estou mais madura, comecei a estudar as antigas modelos pin-ups e também a ler umas revistas em quadrinhos que ainda deixam algo para a imaginação. Como resultado, meu trabalho ficou mais artístico e minhas garotas, por enquanto, vão poder andar sem tropeçar.

Escuto alguém tossir e, ajeitando meus óculos, consigo ver um garoto fascinado com um dos jogos novos do Playstation 4. Ele manuseia a caixa como se fosse um tesouro, um presente sagrado dos deuses dos videogames. Gosto muito deste menino, do Winn, que visita a loja todos os sábados enquanto a mãe dele faz a unha num salão do outro lado da galeria. Na verdade, ele me faz recordar o meu período, naquela idade em que não conseguia nem olhar as pessoas nos olhos de tão tímida. Agora eu até converso com os clientes quando eles estão pagando a conta. Isso com certeza é um progresso para uma pessoa que só começou a falar depois dos 4 anos de idade.

Deixo o Winn continuar a admirar os jogos, mas já sei que ele não vai conseguir comprar nada esta semana, a mesada dele já acabou. Ele torrou tudo o que tinha sábado passado na última versão do Dragon Age. Quando um carro buzina do lado de fora, o garoto dá uma olhada e acena.

— Até semana que vem, Lauren — ele fala antes de sair correndo e entrar no carro da mãe.

Quando eu tinha a idade dele, eu passava meus sábados com meus pais, assistindo a vários eventos esportivos em que meu irmão Will participava. Eu carregava sempre o meu caderno e lápis e passava horas desenhando. Aprendi muito cedo a me perder em meus rascunhos e criar mundos em minha cabeça para fugir da realidade. Na verdade, nada mudou muito, só que agora eu recebo um pagamento para trabalhar como num estúdio e não preciso mais sofrer por horas durante um jogo.

Pego meu lápis de cor e começo a preencher o desenho quando escuto a campainha da porta avisando que um cliente entrou. Olho rapidamente e consigo ver uma forma feminina se dirigindo a um dos corredores da loja. Sinto a adrenalina correr em meu corpo.

Não, não pode ser. Não é ela. Ela não pode estar aqui comprando no Mundo Geek do James. Impossível. Não!

Fecho os olhos e tento me acalmar contando até dez de trás para frente. Quando chego no quatro, desisto de contar e olho para frente, tentando descobrir se não é apenas um truque da minha imaginação.

Ela está parada bem no meio do corredor e começa a caminhar lentamente em minha direção, o movimento dos quadris me distrai, mas noto as botas pretas de cano alto, a saia curta plissada e a camiseta velha com o logo Green Day. Me viro e agarro na borda do balcão para conseguir me equilibrar.

Dear To Me. [Camren | Intersexual]Onde histórias criam vida. Descubra agora